Volverlo a Intentar

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"Ah, New York, New York...." Miguel suspirou com um sorriso, olhando para fora da janela do táxi e admirando a paisagem da selva de pedra que começava a iluminar-se com as luzes dos prédios. Era o final da tarde, ou começo da noite dependendo do ponto de vista. Uma garoa fina caía e dentro dele Miguel sentia-se genuinamente animado.

"Ah, não—vai me dizer que você é um desses deslumbrados por Nova York?" Mia perguntou, virando-se para ele e franzindo o nariz numa careta debochada.

"Deslumbrado não, mas essa cidade tem sim um je ne sais quoi que a faz especial," Ele falou com um sorrisinho convencido, a cutucando com o braço.

"Suspirando, cheio de sorrisinho, arriscando um francês... O que você tá aprontando, Caipira?" O tom de voz desconfiado e o apertar dos olhos de Mia ao encará-lo chegavam a ser engraçados.

Miguel revirou os olhos, se fazendo de blasé, "Eu, nada, agora você tá toda altos e baixos hoje..."

Mia suspirou dramaticamente e cruzou os braços sobre o peito. "É que isso tudo me forçou a lembrar que Milão me espera..."

"Ah," Miguel soltou, arqueando as sobrancelhas. A expressão alegre que ele tinha se desfez, dando lugar a uma outra que Mia não conseguia decifrar.

"Eu pedi à Federica que viesse pra cá—preciso me reunir com ela pra me colocar mais a par dos assuntos europeus e... Eu preciso muito que vocês se conheçam, você como CEO interino aqui do México e ela como minha V.P. lá na Europa..." Mia deu de ombros. "É importante alinharmos as coisas de trabalho antes de eu ir embora."

"Na verdade já tem um tempo que eu e ela trocamos emails..." Miguel a cortou, tentando não incomodar-se com o tom que ela utilizava e nem a ênfase no ir embora. A verdade é que aquilo soava definitivo demais e aquilo o enchia de medo—vários tipos de medo diferentes—e os planos que ele tinha para os dois em Nova York não tinham nada a ver com términos ou distâncias.

"Miguel, eu não posso mais fugir das minhas obrigações. Logo depois da Fashion Week eu tenho que ir pra Milão. O que era para ser uma viagem de um mês ao México por causa do meu pai se prolongou para quatro e não dá mais..." Mia mexia com os anéis em seus dedos, incapaz de encará-lo. "Os meus tios são impossíveis e eu sou capaz de confiar mais naquela cara de cavalo maldita do que neles..."

O rosto do Miguel era indecifrável, ele sequer piscava. Para Mia, ele se parecia demais com aquelas estátuas renascentistas perfeitas, porém sem vida. A tensão ali na traseira do táxi amarelo era intensa demais para um ambiente tão apertado. Há semanas que eles estavam bem um com o outro, mas no fundo ambos buscavam simplesmente ignorar o enorme elefante branco que existia entre eles—Milão era esse elefante, talvez não a cidade em si, mas tudo o que havia ali e tudo o que aquele lugar representava na vida dela. Quer se arrependessem ou não do passado, é fato que para sempre existiria uma Mia antes de Milão e uma Mia depois de Milão.