Os dias passaram depressa. A família Colucci Rey se dividia em turnos para acompanhar Franco no hospital e até mesmo quando em casa, tudo isso para garantir que ele não burlaria o repouso recomendado por sua cardiologista.
Franco já não aguentava mais. Levantou-se de sua cama e decidiu que hoje começaria oficialmente a trabalhar na transição. Apanhou o celular que estava conectado ao carregador na cabeceira de sua cama e procurou o contato de seu ex-genro na agenda.
O telefone tocou uma, duas e depois uma terceira vez até que ele ouviu a voz de Miguel Arango na linha.
"Franco?" Miguel disse ao atender. Seu tom era um de surpresa. "Você está bem, precisando de algo?"
"Precisando urgentemente da sua visita, Miguel. Tenho alguns assuntos que gostaria de discutir com você, mas devido à cárcere privada em que eu me encontro, estou proibido de ir à empresa ou mesmo pegar num carro."
"Olha, hoje a tarde não terei reuniões devido a uma consulta de rotina da Lila... Posso ir aí em seguida. Que tal às três?"
"Perfeito, te aguardo. Até mais, Miguel!"
"Até mais, Franco."
Miguel desligou aquela chamada com uma enorme curiosidade. O que Franco queria conversar com ele? Seria algo relacionado à Mia? Não... Franco tinha falado que preferia que fosse na empresa, então com certeza deveria ser algo profissional. Miguel era um renomado consultor financeiro, de repente era relacionado a isso.
Miguel olhou para o hor'ario em seu celular, eram 7 da manhã. Em dias normais ele estaria atrasado para arrumar Lila para o jardim de infância, mas ultimamente procurava passar o máximo de tempo com ela—tinha medo que se virasse as costas por um minuto a perderia... Até dificuldade para dormir vinha sentindo, embora sua rotina de pai solo e consultor fosse exaustiva.
Lila dormia tranquila ao seu lado na cama em seu pijama de florzinhas, agarrada à seu elefante de pelúcia e com o dedo polegar na boca. A franja dela precisava ser aparada, já começava a cobrir seus olhos. Quando brincava, Lila ficava soprando a franja incomodada.
Miguel levantou-se silenciosamente da cama e procurou arrumar-se. Teria algumas reuniões com clientes e relatórios nos quais trabalhar antes do almoço. Ele desceu as escadas em seguida, já impecável em sua camisa social azul. Preparou um café espresso em sua cafeteira e sentou-se no seu escritório, abrindo o notebook.
Há quilômetros dali, Mia Colucci enfrentava uma enorme multidão de peregrinos e vendedores ambulantes para chegar à basílica de N. Senhora de Guadalupe. Mia não era a pessoa mais religiosa do mundo, mas tinha muito o que agradecer. Ela aproveitou que seu pai já estava bem melhor para sair de fininho após o café da manhã e vir, na esperança que o santuário ficasse mais vazio em um dia de semana.
Ao finalmente entrar, sentiu um cheiro de velas, incenso e madeira que a fez relaxar como num passe de mágica. Ela fez o sinal da cruz e se ajoelhou no genuflexório de um dos longos bancos de madeira, vendo o altar e a enorme imagem da santa de longe.
Mia puxou um tercinho de contas brancas da bolsa e fez algumas orações antes de sentir-se segura para realmente dizer aquilo que estava no seu coração. Ela respirou fundo, soltando o ar devagar.
Começou agradecendo pela recuperação de seu pai, depois rezou pela alma de seu amado Peter, que era devoto à santa. Com lágrimas já ameaçando cair de seus olhos ao se lembrar do antigo mordomo que fora um segundo pai pra ela, fez um pedido.
"Por favor, não quero ficar sozinha pra sempre—eu sei que não sou perfeita, que sou teimosa, vaidosa, arrogante às vezes, mas por favor... Tem que haver alguém pra mim, um amor, uma família... É só isso que eu peço."
VOCÊ ESTÁ LENDO
Volverlo a Intentar
RomanceQuando Mia Colucci recebe a notícia de que seu pai está internado em estado grave, ela entra no primeiro avião rumo ao México. Pouco ela imaginava que esse retorno à sua terra natal impulsionaria um reencontro com seu ex-noivo, Miguel Arango, após 1...