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Ao abrir a porta, Miguel deu de cara com um funcionário do hotel empurrando um trolley dourado com as malas dos dois e logo atrás deles um outro empurrando um carrinho com frutas variadas, uma garrafa de champagne já gelada, um enorme buquê de flores e fatias de torta com morangos.

"Boa tarde senhor, uma pequena cortesia da Revista Vogue..." O rapaz falou com um sorriso.

Sabendo que Mia estava nua dentro do quarto, Miguel sorriu educadamente e insistiu em levar o carrinho ele próprio, agradecendo os rapazes e distribuindo as gorjetas como era costume nos Estados Unidos.

Assim que ele fechou a porta do quarto, Mia apareceu, enrolada numa toalha branca e com o celular na mão.

"Mas eu tô sendo muito mimada..." Ela disse com um sorriso, o abraçando e ficando na ponta dos pés para plantar um selinho nos lábios dele.

"E não só por mim... Os quitutes são da Vogue." Mia sorriu, surpresa e fitou o carrinho que carregava sua torta preferida. Ela puxou um cartãozinho que estava no carrinho e o abriu. Na mesma hora seu sorriso se desfez.

"Que foi, Princesa?" Ele perguntou, tentando ler o que o cartão dizia por cima do ombro dela.

Non vedo l'ora di fotografarti domani, tesoro mio. Spero che tu possa perdonare il nostro ultimo incontro disastroso e permettermi di catturare di nuovo la tua bellezza e sensualità.

Sempre tuo,

Cesare

O italiano de Miguel não era lá essas coisas, mas o nome de Cesare saltou a seus olhos e junto com ela 'beleza', 'sensual' e 'tesouro'. Quem esse cara pensava que era? Ele sentiu uma raiva surgir—aliás, um tipo de raiva muito familiar, o mais puro ciúme. Então esse infeliz seria ainda o fotógrafo de sua mulher? Ah, mas isso ele não permitiria jamais.

"Você não vai." Ele disse bem sério.

"Miguel, em cima da hora eu não tenho muita opção..."

"Tantos fotógrafos no mundo loucos pra ter a oportunidade de fotografar para a Vogue e eles selecionam logo um cara que é seu ex? E não é nem por isso, Mia. Você desmaiou por causa desse canalha da última vez. Eu. Não. Permito."

Miguel tinha uma expressão dura e até mesmo fria nos olhos. O jeito como os ombros deles estavam tensos, as mãos em punho, só faziam Mia constatar que aquilo não era negociável.

"Miguel, são só algumas fotos, vou fazer de tudo pra que seja o mais rápido possível, eu nem vou conversar com ele."

Mia se surpreendeu quando ele a tomou pelos ombros e a virou com um pouco mais de força do que o necessário para que ela olhasse atentamente para ele.

"Que tipo de marido eu seria se permitisse que você se enfiasse na cova do leão? Esse cara falou atrocidades pra você, ele não é seu amigo, Mia, pelo amor de Deus! E se esse cara te machucar ou tentar alguma coisa, claramente ele tá ressentido pelo passado..."

Mia respirou fundo, não havia muito o que dizer, Miguel tinha toda a razão, mas ao mesmo tempo ela não podia deixá-lo pensar que podia mandar nela ou exercer qualquer tipo de autoridade. Para o bem ou para o mal a separação deles lá atrás servira para transformá-la numa Mia mais forte e totalmente independente.

"Eu sempre cuidei de mim mesma, Miguel, eu não preciso que você me dê qualquer tipo de permissão. Não é porque somos casados que de repente você manda em mim e eu obedeço."

"Eu não estava lá pra te proteger e pra te apoiar, mas eu tô aqui agora, Mia, por favor, entenda isso. Eu sei que eu falhei mas porra, todo dia eu tento te provar que eu mudei, eu faço de tudo, mas você parece que não ajuda! Olha, você quer ser fotografada por esse..." Miguel sentia tanta raiva e tanto nojo daquele homem que mal conseguia pronunciar seu nome. "Você quer ser fotografada pelo seu ex-noivo abusivo? Vai em frente! Pode ir! Estrague essa experiência única de ser capa da Vogue, um sonho seu, em pesadelo. Não venha querer o meu consolo depois."

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