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Eu gostaria de dedicar esse capítulo às leitoras muito queridas que sempre comentam e me deixam muito feliz --- Aninhaleandro, Loucaporaya, Luciaestrela, Lupuente e BibisHP.

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"Prontinho, apagada como uma vela." Miguel anunciou, terminando de descer os últimos degraus da escada. Ele vestia apenas uma calça de pijama dessas de flanela quadriculada, exibindo o peito musculoso e a pele morena, levemente queimada por ter passado tanto tempo no sol.

Mia olhou no relógio do celular.

"Oito e meia... É esse o horário em que os papais têm recreio?" À Mia que já estava na terceira taça de vinho, restava muito pouco pudor.

"Até a pré-adolescência chegar com força..." Miguel respondeu, dando de ombros. "Tá escrevendo o quê?" Mia tinha um caderninho vermelho apoiado na coxa exposta e sua caneta favorita na mão. Ele sentou-se na ponta do sofá e deixou que ela o servisse uma taça.

"A Roberta me pediu ajuda com uma canção..."

Ele a fitou com uma expressão de agradável surpresa. "Eu não sabia que você ainda compunha..."

"Bom, a verdade é que faz tempo. Infelizmente não tenho tanto tempo livre quanto na adolescência, mas... Às vezes bate aquela inspiraçãozinha. É uma canção sobre crise no amor e digamos que eu tenha bastante experiência no assunto..." Ela disse, um sorrisinho se erguendo no canto dos lábios.

"Vai cantá-la pra mim quando ficar pronta?"

"Hmm, quem sabe—se não ficar ridícula. A verdade é que minha cabeça tá em outro lugar nesse momento..."

O clima entre os dois estava leve, fácil, gostoso... Só o que haviam feito o dia inteiro era curtir a companhia um do outro sem ter que pensar muito nas consequências ou no depois. O flerte continuava, porque era impossível de minar completamente, mas Miguel procurava maneirar um pouco para que ela não se intimidasse. Era gostoso ter a presença dela em sua casa—ter alguém com quem conversar e dividir uma boa taça de vinho no final do dia, uma pessoa com quem compartilhar as coisas. O desejo mais profundo de Miguel é que Mia permanecesse—que não voltasse no dia seguinte à casa do pai e que mais ainda não retornasse a Milão.

Os pensamentos dele foram interrompidos pelo delicado toque da mão dela em seu braço e Miguel virou a cabeça, seus olhos pousando naquele lindo rosto e naqueles lindos olhos azuis.

"Tá pensando no quê, Caipira?"

"No quanto eu tô gostando de você aqui... Princesa."

"Vem cá, e esse apelido veio pra ficar, é?"

"Pelo menos não é um insulto." Ele retrucou, fazendo uma careta debochada pra ela, que riu, tomando mais um gole de vinho.

"Eu gosto da sua casa. É aconchegante apesar de moderna... Eu adoro toda a luz que entra pelos vidros e o quintal com aquelas árvores grandes... É calmo aqui."

"E como é a sua casa em Milão?" Ao fazer essa pergunta, ele sentiu algo diferente surgir no ar, como algo que o fizesse se sentir confiante o suficiente para puxá-la para mais perto dele, a encaixando na curva de seu corpo, o seu braço contornando os ombros dela. Mia se aconchegou mais a ele, repousando a cabeça em seu peito onde podia sentir o pulsar do seu coração. Ah se ela soubesse do frio que ele sentia na barriga ao tê-la assim tão perto...

"A minha casa é na verdade um apartamento, até bem grande, no terceiro andar de um prédio antigo no centro histórico. As paredes são altas e tem aqueles detalhes bonitos em gesso no teto. As janelas são enormes e de frente para uma piazza, então sempre tem barulho, mas eu já me acostumei. Eu adoro o meu apartamento porque é lá que eu tenho todas as minhas coisas—as bugigangas que eu guardo de todas as minhas viagens, meus livros, minhas plantinhas..." Ela sentiu ele vibrar sob a bochecha dela num silencioso riso. "Você duvida que eu seja mãe de plantinhas, Arango?"

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