30

466 39 158
                                    


A primeira coisa que se percebia ao adentrar a pequena mas agitada cidade de San Miguel de Allende era o casario colonial pintado em tons terrosos brilhantes—laranjas queimados, amarelos-açafrão, escarlates e corais. As cores remetiam às calêndulas e cravos-de-defunto, as flores símbolo do México, sempre presentes nas festas e rituais. Os tons quentes contrastavam com construções e calçamentos de pedra, no sobe e desce de ruas curvilíneas e estreitas sob um vibrante céu azul.

Sem dúvida, o lugar que sempre atraía os olhos dos visitantes era a paróquia de São Miguel Arcanjo com suas torres cor-de-blush. A igreja era diferente de todas as outras igrejas que Mia já vira na vida. Se percebia uma clara inspiração no gótico europeu, no entanto, acrescido da vivacidade e colorido mexicano. As torres eram de uma pedra rosada que se destacava no horizonte, mas ao longo do dia, enquanto a terra orbitava o sol, elas mudavam de tonalidade.

Era quase uma da tarde e o calor se fazia presente, mas não o suficiente para queimar ou sufocar.

"Bonita, não é?" Miguel perguntou, carregando Lila nos braços. Ele olhava pra Mia por trás dos óculos de sol.

"Muito. Mas eu tô com uma fome..." Mia falou, de olho num restaurante de comidas típicas do outro lado do jardim principal da cidade.

Ele entrelaçou os dedos com os dela e os três atravessaram passando por inúmeros outros turistas e por entre as árvores de copas redondas como gigantes rodelas. Era algo tão simples, quase bobo, mas os dois não andavam de mãos dadas há muitos anos. Era gostoso caminhar e saber que se pertencia a alguém—Miguel se sentia assim pelo menos.

Eles atravessaram a ruazinha de pedra e passaram por dentro de um arco que levava a um pátio com mesas montadas sob a sombra de parasóis e pérgolas com frondosas buganvílias magenta.

A recepcionista, uma moça sorridente de cabelos e olhos escuros os recebeu com a típica hospitalidade local e os indicou para uma mesa reservada, sob a sombra das flores, onde já havia uma cadeira alta para Lila.

"Sejam muito bem–vindos ao Angelito. É a primeira vez de vocês aqui em San Miguel?"

"Pra mim sim, primeira vez," Mia respondeu simpática, recebendo o cardápio em mãos.

"Eu também nunca vim aqui," Lila acrescentou. Ela estava uma fofura com o cabelo repartido em duas trancinhas e um chapéu de abas de florzinhas que Mia insistira para ela colocar para proteger do sol. 'O sol é horrível, provoca manchas e rugas—sem falar no câncer—um dia a senhorita vai me agradecer' ela ralhara mais cedo com Lila.

"Eu vim quando era criança com os meus pais. Não era tão badalado como hoje." Miguel falou, fazendo um gesto com os ombros.

A recepcionista concordou com um sorriso. "É, realmente, San Miguel é o grande centro do turismo mexicano hoje em dia—as pessoas cada vez mais querem a cultura, a arte e o autêntico. Aqui tem de tudo, bom, só não tem o mar," ela se corrigiu. "Espero que desfrutem da cidade. Bom, os cardápios estão em mãos, podem selecionar à vontade, o Romero virá em poucos minutos anotar seus pedidos."

"Obrigada, querida," Mia falou, folheando o cardápio feito com muito bom gosto. "Olha, tem tinto de verano aqui..." Ela comentou com Miguel, ficando animada ao olhar a parte de bebidas.

Miguel riu, de olho nos pratos principais. "Tô de olho no fiambre, minha mãe falou que é o prato típico daqui."

Mia olhou a lista extensa de ingredientes que haviam no único prato e se impressionou, "Ok, vamos pedir um fiambre para os três—epa, peraí, ah meu Deus tem chiles rellenos, eu amo chiles rellenos. Com arroz e frijoles."

Volverlo a IntentarOnde histórias criam vida. Descubra agora