𝔽𝔼ℕℝ𝕀ℝ (Tradução)

Capítulo 18 : Pássaros Negros

Yeager era um idiota. Um tolo que queria correr lá fora e usar as Asas da Liberdade e se iludir pensando que estava ajudando as pessoas ao fazê-lo. Mudar algo colocando-se em perigo. Ou talvez apenas provando algo para si mesmo. Jean sempre o considerou inofensivo. Um dos estupidamente sinceros que aceitaram a propaganda militar pelo valor de face, acreditavam que as pessoas eram fundamentalmente boas e provavelmente acabariam entre a estatística de 60% dos Escoteiros que nunca voltaram de sua primeira missão. Ele não gostava dele, apesar de terem caído em uma espécie de vago cessar-fogo de dentes à mostra e costas arqueadas nos anos desde o primeiro encontro, mas Jean nunca pensou que pudesse haver alguma conexão entre os Titãs que romperam as Muralhas e Eren. Com toda a honestidade, mesmo com o sangue fervendo com a noção de que seu melhor amigo havia sido atacado, ele ainda não tinha certeza de que nada daquilo fazia sentido.

Ainda assim, se Armin estava dizendo isso, provavelmente havia algo que ele não estava vendo. Ou não quis ver. O que apenas mostrava como Marco estava certo sobre ele, Jean, não ser uma pessoa forte. Ele não estava vendo algo porque não queria ver. Não queria ver o que quer que Armin tivesse visto em seu camarada. Em Eren.

Eren, que era seu amigo de infância. Eren que era família para ele. Eren, que Jean também não gostaria de ver assim, se ele estivesse em seu lugar. No entanto, Armin persistiu porque Armin era forte.

Cerrando os dentes, Jean olhou para a grande sala que se tornara uma espécie de cruzamento entre uma área de preparação, uma sala de guerra e um beliche improvisado para dormir. Ele ficou acordado até tarde na noite anterior devido a seus pensamentos acelerados. Tarde o suficiente para ver Eren trocar sua vigília com outro médico e ir até a esquina onde Mikasa e Floch já haviam se retirado. O moreno havia sumido, agora, e não havia nenhum vestígio de onde ele havia desaparecido. O espaço onde ele estava sentado estava vazio, mas os outros dois ainda estavam lá. Jean tentou não prestar muita atenção ao fato de que, enquanto eles dormiam, a cabeça de Mikasa conseguiu encontrar o caminho para o ombro de Forster.

O que estava acontecendo com Floch de qualquer maneira? Ele apareceu ao lado de Eren um dia e simplesmente nunca saiu, mas ele se lembrava claramente de pegar o outro garoto encarando Eren de longe bem antes disso. Ele o tratou tão bem quanto um dos pastores que vagavam pelas ruas na juventude de Jean teria encarado alguém cuspindo em um altar e sua 'amizade' sempre foi estranha, para dizer o mínimo. Ele havia diminuído ao longo dos anos, mas ainda havia aquele traço de... estranho respeito que Jean certamente não achava que Yeager e sua boca grande justificavam. Talvez houvesse uma espécie de paixão por lá também, embora isso tivesse durado apenas os primeiros meses. Jean nunca soube ao certo, mas ele certamente se esforçou para provocar o outro garoto sobre isso sempre que podia.

Ele deveria ter notado isso antes. Talvez ele tivesse. Talvez fosse outra coisa que ele não queria ver. Como evidência de que eles eram realmente o inimigo, ou loucos, ou ambos.

Eram semelhantes em alguns aspectos. Covardes. Pessoas que sabiam que não eram fortes como aqueles ao seu redor, mas continuaram de qualquer maneira porque eram teimosas demais para não fazê-lo.

Forster era de Rose, como ele. Bairro Utopia.

Jean não sabia muito sobre Utopia. Foi no norte. Nevou muito. Provavelmente fazia frio a maior parte do ano. Eles eram todos cultistas titãs enlouquecidos?

Isso era mesmo real? Somos eles que estavam sendo loucos?

Valeu a pena arriscar descartá-lo?

Todos os horrores que ele tinha visto naquele dia ameaçavam se enfiar em sua garganta e se espalhar pelo chão. Mãos enormes. Bocas escancaradas. O cheiro de sangue e gás e... Jean cerrou os punhos e fechou os olhos, afastando seus pensamentos das terríveis lembranças. Lutando para encontrar algo em que se concentrar, apenas para se estabelecer novamente em Eren.