7- Diário de Edolon. A magia da mulher de negro e a dama de vermelho

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(1006 palavras)

Banhado pela culpa, não tirava da ideia de que o fim do silêncio foi a porta de entrada do Corvos na aldeia, agora cidade. Deixei-me levar pela ânsia de querer comunicar, de querer saber quem sou e parti o violino.

A culpa é uma ferida aberta, que nasce do passado e contamina o futuro. Uma dor que faz tremer o corpo de ansiedade como um terramoto que produz réplicas no espírito e perturba o equilíbrio emocional...

Talvez o mestre fosse o guardião deste lugar? Mas que magia era aquela do mestre se desfazer em notas? Talvez se alguma da magia, solta pelo violino, tivesse passado para mim eu pudesse melhorar as coisas?

Caminhava, pelo centro da aldeia, como um sonhador, a rua ainda estava preservada do caos da construção desenfreada. Ao dobrar à esquerda numa nova rua, vi dois carros pretos, algumas pessoas vestidas em ternos escuros segurando alguém. Aproximei-me e descobri que era Edmundo. Tirei a pen drive, do bolso, para entregá-la a Edmundo, mas uma vibração na minha mão, que se expandiu por todo o corpo, e uma voz, digital, ecoou na minha cabeça dizendo: "Tragam o Edmundo, até mim, imediatamente".

Nunca ouvi a voz do Corvos, para ter a certeza que esta era a voz dele. Mas os arrepios que causava, não me deixava grandes dúvidas. A voz digital... seria mesmo uma Inteligência Artificial como disse Edmundo? E como se conseguia materializar neste mundo?

Gritei por ele enquanto corria na sua direção, mas ele rejeitou-me dizendo.

— Não o conheço de lado nenhum — como podia, ser, havíamos acabado de estar juntos no café, senti que Edmundo estava num grande perigo, e disse o que disse para não me expor. Mas eu não refleti:

— Tenho a sua, pen drive.

— Isso não é meu, não o conheço de lado algum. Não sei se foi coragem ou apenas uma forma de expiar a culpa que me roía por dentro, corri para Edmundo. — gritou Edmundo.

Os homens de terno escuros o levaram para o primeiro carro e fugiram. Coloquei a pen drive no bolso. Ficaram 3 homens de negro, mais o chofer, que acabara de sair do segundo carro, também com o mesmo fato, como se fossem agentes de alguma entidade. Antes que eu lhes dissesse qualquer coisa, um deles convidou-me a entrar numa rua, pois queria falar comigo.

Era um beco, ausente de vida, uns baldes de lixo, e paredes salpicadas de grafites de mau gosto. Empurrou-me um pouco, eu dei alguns passos apressados para evitar a queda e manter o equilíbrio, dois deles puxaram de pistolas, e senti que a minha vida ia acabar ali, um deles pediu:

— Dá-me a pen drive!

Levei a mão ao bolso, onde guardara a pen drive, mas não havia nada. Disse-lhes que a perdera, ficaram exaltados:

— Dá-me a pen drive já!

Coloquei as mãos no ar. Enquanto no passeio, fora do beco, uma mulher linda, com um vestido vermelho, que se ajustava às suas curvas hipnotizantes, deslizava em passos elegantes. Olhou para o que acontecia, mas não esboçou nenhuma reação, e continuou a andar como se nada tivesse perturbasse o seu caminho. No entanto, eu, fiquei perturbado, não só pelas armas, à minha frente, mas também pela figura da mulher que ora se corporificava, ora se tornava transparente, como se não existisse.

Olho, para cima, uma aragem que me embateu no rosto, chamara a minha atenção, outra mulher, negra e atlética, vestida com um fato de cabedal, descia por uma liana, algo estranho, no meio de uma rua. Deu um mortal, perfeito e uniu as mãos e ao separá-las, apareceu um saco transparente de sementes. Com uma velocidade incrível, que os homens de negro não se aperceberam, fez rodar o saco em volta dos braços, juntos, e com as palmas das mãos sai uma luz, enquanto dizia a palavra "Metaschimatizein", as armas transformaram-se em madeira, com um cravo rosa na ponta. A mulher ergueu a mão direita e uma liana veio ter com ela, e a puxou para cima de onde teria vindo. Enquanto subia, disse-me — foge.

Eu estava estático, admirando o momento indescritível, de magia e pelo sossego das armas agora serem inofensivas. Os homens de negro, pareciam estar em pior estado que eu, olhavam para as armas, e não percebiam a natureza da flor.

Não sei o que era ou o que fui em outra vida, mas o que aconteceu ali é inexplicável. Na minha mente surgiu uma voz, que me parecia familiar, talvez uma recordação que me escapava entre os dedos:

"Tens o poder da chuva e do tempo. Tudo é branco, nada mais que branco. A culpa não dá alento, a esperança está no vento. A tua mente é branca, imagina o vento, só existe vento."

A sensação de estar tudo branco, inundou-me mais uma vez. Era como se aminha mente fosse o vento que dobrava o tempo e o espaço, e podia ir para onde quisesse. Podia ter fugido, mas ainda de braços abertos, algo ainda mais espantoso se formava. Sentia o ar a rodar sobre as minhas mãos e a formar pequenos remoinhos, e ao mexer levemente as mãos, sentia golfadas de ar a concentrarem-se nas minhas mãos.

Os homens de negros deitaram fora, as armas de madeira, e dirigiam-se agora para mim. Lancei as minhas mãos na direção, deles e uma corrente de vento tempestuosos, atirou-os, pelo ar, contra o carro negro que estava estacionado.

Fui embora a passo, sem saber muito bem o que acontecera. Com o vento a meu favor sentia-me um barco à vela, invencível, pronto a derrotar o Corvos. Tentei evocar o vento, como uma criança com o primeiro brinquedo, mas nada. A magia tinha misteriosamente aparecido e desaparecido.

Mais ciente, depois de alguns passos demorados, a confusão regressou à minha mente. Que voz era aquela que me parecia tão familiar, tenho algum poder mágico? A magia existe mesmo? Alguma da magia solta pelo violino passou para mim? Como posso controlar esta magia? Será possível vencer esta sensação de culpa como uma balança que me pesa a alegria e eleva a preocupação?

Matrix - a origem. Inteligência ArtificialOnde histórias criam vida. Descubra agora