20- Sonho e ovos

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(890 palavras)

Quando Triny, Edolon e Apolíneo chegaram, Morpheus dormia. O Mestre, quando pressentia que Oraca o queria contactar, em sonhos, sentia, sempre, uma sonolência descabida. Raramente se enganava e desta vez não seria exceção.

Um barco a remos, num mar calmo, em noite de luar, Morpheus remava, em direção a um ilhéu rochoso. Cerca de quatrocentos metros de rocha, no meio do mar, ao lado viam-se as luzes de outra, pequena, ilha, esta estaria obviamente habitada. Oraca estava à sua frente, desta vez o rosto de Oraca era percetível, nem sempre tal acontecia, frequentemente mudava de rosto ou tinha um rosto vago que no sonho passava despercebido, mas em vigília não era recordável.

Oraca, dialogava com Morpheus, sobre aquele ilhéu, onde outrora, trabalhadores para extrair cal, perfuravam a rocha instável, deixando inúmeras grutas, que devido ao perigo de derrocada e à preservação do 'habitat' de algumas espécies de animais que ali habitavam, era praticamente interdita a turistas, exceção feita a biólogos e outros cientistas que com autorização e devido acompanhamento a podiam visitar. Hoje em dia, já não se extraia, ali a cal, desde que vinte trabalhadores ali morreram, soterrados nas rochas.

Morpheus, ouvindo tal coisa, sentiu o mar calmo, calmo demais, como se as ondas tivessem medo de despertar algo. Oraca, vendo temor na expressão de Morpheus disse, "Há algo de místico na natureza da alma humana, uma dualidade inerente a cada pensamento e cada ação. É um complexo emaranhado, onde o bem e o mal se entrelaçam, e onde a dualidade das emoções se equilibra. Por exemplo, o medo é mau quando levado ao extremo, mas quando controlado, pode ser uma ferramenta valiosa para alertar sobre perigos em potencial." Que perigos são esses, que tormento maléfico se pode esconder nas profundezas destas rochas? "O medo é controlável, estás num sonho, não deixes o teu inconsciente ver mais do que a realidade captada." continuou Oraca.

Morpheus, tinha a consciência, que era um sonho, o que não é fácil, mas o seu treino, durante anos, permitia-lhe navegar pelas águas profundas do inconsciente, com a bússola da consciência. No entanto, os sonhos não são totalmente controláveis nem para um mestre como Morpheus.

A lua, pairava nas costas do ilhéu, dando uma luz, suficiente para produzir sombras sinistras, quer de pequenos arbustos, sem folhas, quer das rochas que se erguiam umas em cima das outras, formando figuras bizarras. Não existia vento, talvez se existisse, as sombras dos arbustos se movimentassem, provocando algum movimento que tranquilizasse. Aquelas sombras ali paradas, como se estivessem à espera do momento certo para atacar, deixavam o mestre intranquilo, mesmo sabendo que nada de físico lhe poderia acontecer. Físico não, e mental? E a mente não se reflete depois na natureza física?

Entraram numa gruta, procurando algo que refletisse o propósito do sonho. A paredes, escorriam água, um som de gotas de água caindo em poças se combinava com o som do movimento de água, que deslizava, nas rochas. As gotas, de água que caiam na face de Morpheus, tinham uma temperatura amena, mas cada uma delas, causava um calafrio. Cada gota, era um presságio...

Oraca iluminava o caminho imprevisível, a luz espiritual que dela irradiava era suficiente para se enxergar. Ao fundo avistou-se uma luz vermelha, que embatia contra a parede do lado direito, haveria ali uma esquina. A esquina não preocupava a origem da luz, é que amedrontava.

Uma gota de água caiu, numa poça, a seguir Morpheus, ouviu um ruído pesado e estaladiço nos seus ouvidos. Era o som de ovos metálicos incandescentes, vermelhos, a rachar...

Sete ovos, quando o último estalou, aquelas sete criaturas fizeram um círculo à volta da provável mãe, a Dama de Vermelho. Eram demónios com asas de corvos e com algumas feições de anjo, traziam consigo um arco e setas de fumo.

Rodearam a mãe sete vezes, agarraram na mãe e saíram disparados da gruta. Não notaram a presença de Oraca e Morpheus, dirigiram-se para a ilha iluminada, que distava cerca de quinhentos metros. Que coisas horríveis estes seres podem fazer aos humanos daquela pobre ilha?

Oraca colocou a mão no ombro de Morpheus e disse, "A Dama de Vermelho, noutra realidade foi uma mulher, mas agora é um monstro, com uma sede insaciável por almas impuras. Ao roubar sete almas, a Dama de Vermelho engravida, dando à luz sete monstros disfarçados de anjos, que se passam a designar por monangis. Têm asas de corvo, dentes afiados e olhos negros. Por cada sete almas, sete ovos, se criam no seu ventre, que ela depositava num ilhéu rochoso cheio de grutas. Lá, os ovos se chocam, e os monstros nascem, prontos para saciar a sua sede. Os monangis, são seres que usam uma seta, qual cupido, feita de uma espécie de fumo cinzento, nem preto, nem branco, que disparada do arco, vai direito ao coração de um humano, trespassando-o e depois só termina, o seu movimento, quando entra pelas narinas da Dama de Vermelho. Os humanos, trespassados pela seta, ficam obcecados pela Dama de Vermelho, com o nariz no ar como seguindo um cheiro, todos se dirigem a ela. Ela envolve-os no seu manto de luxúria, engolindo-lhes a alma, e transformando-os em zumbis lascivos, apenas pensando em satisfazer os seus impulsos mais libidinosos."

Morpheus, acordou, limpou o suor da testa, tomou banho, estava na hora de contar aos outros o sonho que Oraca lhe providenciara. Talvez Niobe já tivesse chegado com novas informações.

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