0.06- Polaridade da alma

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— Triny, eu preciso falar contigo. Sei que viste algo estranho quando tocamos no meu marido. Disseste que viste um corvo negro saindo da cabeça dele e indo em direção ao meu ventre. Mas a MenteDivina disse que foi uma ilusão, que não há nada de inexplicável com ele ou com o nosso filho. O que achas que aconteceu? — perguntou Oraca.

— Oraca, eu sei que é difícil de acreditar, mas juro que não foi uma ilusão. Eu vi o corvo com os meus próprios olhos, e ele era real. Ele era o mesmo corvo que entrou na cabeça do meu pai e o fez entrar em coma. — Triny sabe que é difícil de acreditar. A ilusão da realidade é difícil de explicar, pois a crença, na verdade, é difícil de abalar. Quando alguém vê algo que os outros não veem, pode a comunicação existir sem uma verdade compartilhada? Ver ou crer? Ver com os olhos da imaginação, é ir além da linha do horizonte. Crer sem ver é uma constatação, de que a verdade é muito além do que se vê.

Morpheus pensava. Triny era de fato uma menina inteligente. Mas havia sofrido um trauma grande. "A ilusão é a luz artificial quando o manto negro cobre a realidade." — pensou Morpheus — "Como uma luz artificial, uma ilusão não é natural e pode não ser tão brilhante quanto a luz do sol, que é a verdadeira fonte de luz. Da mesma forma, uma ilusão pode não ser tão forte ou duradoura quanto à verdadeira compreensão da realidade. Não obstante, em momentos de desespero ou tristeza, uma ilusão pode servir como um farol de esperança que nos guia para fora da escuridão."

O espanto toma conta do olhar de Morpheus ao ver Oraca acredita no relato absurdo de Triny. Sobre um corvo negro que pode invadir a mente. Mas talvez ela queira compreender como uma mente em trauma pode ser sustentada.

— Como uma ave negra pode entrar na mente das pessoas e lá permanecer? — Indaga Oraca, com serenidade, buscando desvendar essa obscuridade.

— Eu não sei! — Responde Triny, com voz suave, mas com certa aflição. — Talvez seja bruxaria antiga que agora volta para causar intriga. — A bruxa alimenta-se dos pensamentos das pessoas, num plano cinzento. Adormecida como Branca de Neve, ela agora acordou e revela a sua teia. Quer levar os seres em coma para o NovoCéu e lá fazer o seu reino. Quer controlar todos os pensamentos e os fazer girar em ciclos constantes de alta frequência. Esses, pensamentos, são baseados nas crenças das pessoas, que são sempre acionados. E assim, mais energia ela consegue gerar. É uma coisa má, com fome que só quer a gula saciar, como um poço sem fundo.

Uma mente que avança para um delírio sem fuga devido à realidade dura, é preocupante. Mas Oraca parecia não ver essa situação, assim, tão crua. — Pensou Morpheus.

— Oraca, isso pode ser viés da informação — Morpheus alertou Oraca sobre o viés da informação, mas percebeu que ela não compartilhava da mesma preocupação que ele.

— Li num livro sobre física quântica, teoria do caos e memória. — disse Triny, prosseguindo a sua explicação — a mente é como uma esfera cheia de areia, onde cada grão de areia representa uma informação, um pensamento ou uma crença que temos. A nossa mente está sempre em movimento e mudança, devido ao Princípio da incerteza de Heisenberg e do caos. — A menina explicou também, o Princípio da Incerteza é um princípio da física quântica que afirma que é impossível medir com precisão simultaneamente a posição e a velocidade.

Curiosa, Oraca perguntou a Triny o que mais chorou dentro da misteriosa esfera da mente.

— Na esfera da mente humana, cada grão de areia tem uma cor. Tudo está em constante movimento e mudança, sem cessar. O Princípio da Incerteza, presente também em nós, impede a precisão simultânea da sensação e da conceção, na esfera. Por vezes queremos juntar os grãos de uma só cor, ou apenas de algumas cores.

Oraca questionou o que acontece se aparecer um grão de outra cor na esfera da mente.

­— Simplesmente rejeitamos. Isso é viés de confirmação, buscando informações que confirmam as nossas crenças superiores e ignorando as que as contradizem. — respondeu Triny.

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