0.07- A batalha na mente humana

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O edifício do Senado, situado ao lado da Biblioteca, de livros antigos, perto da Cúpula do NovoCéu, tinha a forma de duas pirâmides, ligadas entre si por uma passagem aérea. Oraca, apesar da vida do seu filho estar nas suas mãos e nos argumentos a apresentar, não podia deixar de sentir uma certa liberdade. Ter desligado o AniPower, sem o escrutínio permanente dos seus pensamentos, proporciona-lhe um momento de tranquilidade e clareza mental. A vida pode não ser o que pensamos, mas podemos escolher o que pensamos.

Ao olhar ao seu redor, Oraca sentia-se pequena diante da grandiosidade do edifício, que parecia abraçar o céu e a terra com igual majestade. As pirâmides de pedra maciça, tão antigas quanto o tempo, pareciam emanar um mistério que envolvia tudo à sua volta. No entanto, ali estava ela, uma simples mortal, tentando convencer os membros do Senado a salvarem a vida do seu filho.

Oraca estava sentada diante dos membros do Senado, tentando convencê-los a salvar Edolon, o filho, cujo cérebro rejeita as NanoAlmas e, consequentemente, o AniPower. O Senado estava cético, evocando a Lei 1 e a Lei 2 da humanidade para justificar por que Edolon não deveria ser considerado humano. Oraca, calmamente, rebateu que poderia ser considerado humano. Mas se não fosse humano no mínimo teria de ser considerado um animal mamífero.

Senado: Oraca, pense na criatura, que ficará sozinha no mundo sem um elo aos da sua espécie, que felizmente não existem mais.

O indivíduo sem a nanomolécula e que não esteja conectado à MenteDivina não é considerado humano, logo, não é útil à sociedade. A irregularidade animalesca, não possui essas características, pois, não pode ser considerado humano. Quanto a ser animal, devemos considerar que ele é um ser primitivo, abaixo de um animal mamífero, como um vírus. É uma aberração, um erro da natureza que não tem lugar no nosso mundo.

Naquela sala do Senado, Oraca era como uma guerreira solitária lutando contra as forças do preconceito e do ódio. Ela sabia que a batalha estava na mente humana, onde as crenças e os preconceitos se escondem como monstros invisíveis, impedindo-nos de perceber a realidade.

Oraca: Entendo a sua preocupação com as leis da humanidade, mas invoco a Lei 5 dos mamíferos, que garante a todo ser vivo o direito à vida e liberdade. Edolon é um animal, e como tal, tem o direito fundamental de viver. Ele não deve ser condenado à morte apenas porque não atende aos critérios humanos de inteligência e tecnologia. Como sociedade, temos a responsabilidade de proteger todas as formas de vida, inclusive a mais primitiva.

O Senado (com um tom de desprezo): Você, ainda, não entendeu, Oraca. A criatura não é apenas um animal primitivo, é um símbolo dos primatas humanos do século XXI, que destruíram o planeta e obrigaram a humanidade a viver sob a terra por 400 anos. Ele é um ser nauseabundo, sem lugar na sociedade. Nós não podemos permitir que ele viva.

O tom de desprezo do Senado só aumentava a tensão no ambiente. Oraca sentiu-se como se estivesse a tentar manter o equilíbrio no topo pontiagudo da pirâmide. O desafio que tinha pela frente não era apenas legal, mas também filosófico. Como convencer uma instituição que tinha certezas absolutas, sobre o que era ser-humano e o que não era?

Chamarem o filho de criatura, causava-lhe um arrepio que se sentia à flor da pele. No entanto, a concentração era crucial. A busca pela certeza é uma ilusão que nos mantém presos nas nossas próprias limitações. Teria de entrar nas muralhas mentais do Senado, mas primeiro iria ferir-lhes um pouco o ego, para eles abrirem a porta.

Oraca: Senado, eu entendo que as suas crenças sejam fortes, mas é importante lembrar que a raiva e o ódio podem ser motivados pelo ego e pelo viés de confirmação. Talvez a sua aversão a Neo, esteja a ser impulsionada por seus preconceitos relativamente aos primatas humanos do século XXI. Peço que considerem essa possibilidade e tentem ver além das crenças limitantes.

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