9- Diário de Edolon. O Despertar da Alma.

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(1754 palavras)

Enquanto caminhava a passos incertos, olhava para o céu pedindo luz. Alguma luz que me clareasse a mente. Podia o homem queimar o céu(?), como disse aquela voz, que nem sei se é real.

A maioria de nós deve desejar o céu, e o céu atrai o inferno, como uma borboleta que ao bater as asas provoca um ciclone noutro sítio. Num mundo de caos, talvez o inferno seja mais forte que o céu.

Vagueava sem rumo certo, com estes pensamentos desconexos, de uma mente que não se reconhece. Ao menos uma recordação, uma leve memória que me dê um brilho nas ideias.

Pensava naqueles homens e mulheres no comício, com olhos de ódio e voz de raiva, gritando — "A floresta é nossa! A floresta é nossa!". — Pode o mal ter mais poder que o bem, o inferno apoderar-se do céu? Não faz muito sentido, eu, lutar pelo bem dos outros se eu não me sentir bem primeiro, se não conhecer a minha própria identidade. Mas o mal não é desejado por ninguém, e ainda assim, espalha-se por todo lado. Quando se quer espalhar o mal, ninguém tem o dilema de primeiro fazer a si o que quer para os outros.

O céu é nosso destino, todos desejam alcançá-lo. Mas a que preço? O homem pode queimá-lo? Ou seremos nós mesmos a nossa própria destruição? Deixando o inferno apoderar-se do céu e do coração?

Será que tudo o que podemos fazer é tentar apenas encontrar a nossa própria luz em meio às trevas. Quem me dera ter coragem e estado de espírito para poder mudar o mundo!

Até onde pode ir a manipulação da informação, e porque afetou tanto aquelas pessoas do comício?

Talvez Edmundo tenha razão. A manipulação da mente humana por meio de informações controladas e frequências incutidas é uma técnica nefasta que aprisiona os pensamentos em crenças cíclicas, criando uma prisão invisível para a liberdade mental.

A minha mente era um turbilhão de pensamentos que me atacavam por todo o lado. E o leopardo? É real? 

Que sombras pairam sobre a alma humana?

O meu cérebro desfazia-se em água, então tive a mais estúpida das ideias que a minha breve e confusa existência permitia. Se a mente não dá conta de tanto e desordenado pensamento, porque não pensas com os pés? Então numa gana, de cá vai disto é agora ou nunca, tirei os ténis, as meias e comecei a caminhar descalço. Queria na relva os pés pensar. Deixar os pensamentos fluir, sentir o mundo na ponta dos pés. Não tentar processar mentalmente ou descobrir o que quer que seja. Não me prender ao racional pura e simplesmente deixar-me levar pelo andar.

Vi uma poça de água, saltei para dentro e chapinhei como uma criança feliz, sem medo de pensamentos ou ilusões. Se alguém visse a figurinha que fazia, ali como um tolo a chapinhar, morreria de vergonha. Apesar de parecer estranho, meio parvo, acalmei-me e nem me preocupei com o vislumbre de algo estranho que, ao longe, pairava no ar e seguia na minha direção.

Já bem para lá da aldeia, vi cilindros, de metal, a pairar no ar como corvos. Vários cilindros metálicos cromados rodando e voando baixo, em fila, e vi uma imagem de mim em cada um. As imagens variaram de cilindro para cilindro, criando uma sensação de movimento sem tempo.

Como se fosse uma pintura viva, eterna no tempo que girava sobre o centro e na sua órbita mostrava o passado, presente e futuro, criando uma ilusão de uma imagem que continha os três tempos num único ser. Eu estava perplexo, provavelmente era algum tipo de engano, uma alucinação do subconsciente, como se a realidade se fundisse com a fantasia, num labirinto de ilusões e verdades. 

Ali, nas imagens projetadas nos cilindros, parecia que, eu, era múltiplo e um só, em constante mudança. Como eletrões que saltam entre os átomos. E a vida, um enigma, uma eterna dança. Onde o passado, o presente e o futuro se somam.

Matrix - a origem. Inteligência ArtificialOnde histórias criam vida. Descubra agora