0.05- Fronteiras da mente humana

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Morpheus, na sua qualidade de nível 8, abordou um dos médicos para indagar sobre uma criança que chorava, questionando se a mesma estava sob cuidados médicos.

— Está nas mãos da MenteDivina e do seu AniPower, pelas informações o problema está a ser resolvido. — O médico, apesar de responder o suficiente, deixou transparecer uma certa estranheza com a pergunta, pois não era nada esperado de alguém daquele nível.

Enquanto isso, Oraca observava a cena com atenção, traçando pensamentos sobre o que acontecia e pensando em hipóteses para averiguar mais tarde.

Morpheus, acercou-se da criança e se apresentou com a mão estendida:

— Chamo-me Morpheus, sou de nível 8 e o meu AniPower é um falcão.

A criança, não ligou às palavras de Morpheus. Mas o gesto que ele fez, de estender a mão, fê-la recordar passagens que leu nos livros dos antigos. E como se estivesse num mundo de fadas, estendeu também a mão.

— Olá, sou a Triny, ontem tinha uma probabilidade de 90% de chegar ao nível 9, mas hoje foi reduzida para 70%.

— Lamento. — disse Morpheus, tentando imaginar, como deve ser frustrante perder, assim, 20%, repentinamente.

— Não faz mal, só quero que o meu pai fique bem! — disse a criança aparentemente mais serena.

Morpheus, ficou surpreso com a reação da criança, o caso não era para menos. Como alguém que acabou de perder 20% nas suas expetativas pode estar mais preocupada com algo que não está nas suas mãos em vez de se preocupar em aumentar as suas probabilidades. Movido por algo que não soube explicar, simplesmente perguntou:

— E a sua mãe, onde está?

— A minha mãe está na sua hora de relaxamento com o seu Adónis, ela disse que quando terminasse passaria por aqui, para me levar. — disse a criança, baixando levemente a cabeça.

Um enfermeiro humanoide aproximou-se de Oraca, que a guiaria ao quarto do hospital onde o marido estava internado. Morpheus aproveitou a oportunidade para convidar Triny a acompanhá-los na visita a Max Edolon. A menina agradeceu o convite e assentiu.

Ao entrarem no quarto, viram Max deitado na cama, ligado a uma máquina que analisava as suas funções biológicas e neuronais. A pouca atividade cerebral do homem era observada num monitor.

Oraca calculou a melhor localização possível para se situar, de modo a poder observar as reações de Triny e Morpheus do melhor ângulo possível.

Morpheus agradeceu a Max Edolon por tê-lo ajudado a compreender melhor os sonhos inconscientes das pessoas antigas. Mas foi a atitude de Triny que surpreendeu a todos. Ela pegou na mão de Max Edolon e desejou-lhe as melhoras, acreditando que um corvo havia sido o responsável por sua condição. E, para lutar contra o corvo, ela incentivou Max a usar a sua imaginação.

Para Oraca, acostumada com uma mente puramente lógica, esses gestos pareciam completamente estranhos e desconcertantes. Mas era evidente que algo despertava nela, algo que não era pura razão.

Enquanto contemplava os três, sentiu uma sensação inexplicável de que o universo estava em constante expansão. Como se o nada colidisse com o nada, dando origem a um novo espaço e tempo, permeado de possibilidades infinitas. Os seus sonhos e imaginação se fundiam ao mistério da criação, como se ela própria fosse uma agente ativa na evolução do cosmos.

Do lado oposto ao de Triny, num ímpeto, aproximou-se de Max Edolon, pegou-lhe na mão e a colocou na sua barriga para ele sentir o filho. A reação de Oraca era completamente inexplicável, a sua águia tentava criar redes neuronais alternativas, mas nada travava aquela precipitação.

Mas o inexplicável aconteceria a seguir, num rasgo de consciência, para assombro de todos, Max Edolon desperta. O sonho vibra, a imaginação cresce e o homem desperta. Com a voz tremida e soluçante em clara agonia, fala:

— Tira-me daqui, deste mundo. Não, não esquece. Protege o nosso filho!

Enquanto isso, os olhos repletos de terror, Triny estava sufocada num desespero. Observava um fio negro a sair dos ouvidos de Max, a medida que saiam se transformavam numa nuvem negra que se dirigia para Oraca. Queria falar, a voz não obedecia. Lembrou-se da última vez em que o vestido a ajudou, agarrou-se ao vestido e gritou:

— O corvo quer o bebé!

Talvez fosse o raciocínio de nível 10 que até mesmo a MenteDivina tinha dificuldade em compreender, ou talvez apenas intuição que levou Oraca a proferir:

— Desliga-te, Águia. — Todos os humanos podem mandar desligar o seu AniPower, 130 vezes, tantas quanto a esperança média de vida em anos.

Como por magia, Triny viu o fio negro a recolher-se novamente no interior encefálico de Max Edolon, e este voltou a entrar em coma.

"O sonho vibra, a imaginação cresce e o homem desperta.", o pensamento que lhe ocorreu anteriormente, batia-lhe e ressaltava na sua mente.

O universo é um lugar misterioso e imprevisível, onde a razão e a lógica muitas vezes não conseguem explicar tudo. Não, isso não?

As dúvidas e os mistérios se multiplicam. Há, muito, que analisar. O que estaria a acontecer com Max Edolon? Seria ele prisioneiro de uma mente doentia, ou estaria ele mesmo aprisionando a si mesmo? E será que Triny tem razão? Quem seria o corvo sobrenatural que ameaçava a vida do seu filho?

Sentiu a presença do inexplicável, como se o universo inteiro estivesse vivo e pulsando ao seu redor. O coração de Oraca batia forte, num compasso acelerado, enquanto ela tentava compreender as forças que agiam sobre eles. Naquele mistério, algo que despertava a sua imaginação e sonhava com novos mundos e possibilidades.

Ela sabia que estava diante de uma encruzilhada, e que teria que escolher entre o caminho seguro da lógica e o desafio das reflexões e dos mistérios. A sensação era de que o universo estava aberto para uma dança cósmica, onde cada passo era uma nova descoberta e cada descoberta encerrava um possível perigo.

Ela olhou para Triny e Morpheus, e sentiu uma profunda gratidão por tê-los encontrado. Eles representavam algo novo e diferente na sua vida, algo que a desafiava a ser mais do que uma simples mente lógica. Tinha que mudar, mas como convencer o senado e a mente divina? Iria o senado aceitar que o seu filho vivesse? Teria que se aprofundar na lógica, para os convencer.

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