14 SINAL DE FUMAÇA (parte 1)

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UMA SENSAÇÃO PECULIAR É QUANDO SE FAZ ALGO MUITO IMPACTANTE E FICA-SE À ESPERA DAS CONSEQUÊNCIAS. É como ver um raio cortar o céu num dia de tempestade e ficar tenso à espera do trovão. No ônibus para a escola, Lucas viu algumas pessoas compenetradas lendo no celular. Talvez fosse apenas impressão causada pela vontade de que o texto de Jorim repercutisse, mas ele notou quando uma menina tirou os olhos da tela e olhou para a farda dele, o foco no brasão da Escola Damariana.

''Ai.Meu.Deus!'', pensou ao descer, empolgado quando uma idosa quase quebrou o pescoço ao virar a cabeça para olhá-lo uma segunda vez. Apressou o passo. Precisava encontrar o pessoal.

Ao entrar no colégio, um dos porteiros o olhou e franziu a testa. A mãe de uma aluna virou a cabeça três vezes para vê-lo melhor. "Está acontecendo!", Lucas correu ao avistar os amigos e chegou já com um sorriso que mal cabia nos lábios.

— Vocês viram o impacto? — Domingas olhou para ele de cima a baixo e começou a rir. Evandro e Otávio não se aguentaram e também caíram na gargalhada. — O que foi?

— Lu, tu estás com o blusão do lado avesso e com a calça ao contrário.

— Ah... — apalpou a cintura e ficou envergonhado. — Era por isso que o bolso da calça estava tão esquisito...

Jogou a mochila para Evandro segurar e correu para o banheiro. Dentro de um dos boxes, já estava no meio do processo de desvirar a camisa quando se deu conta de dois meninos conversando perto das pias, aos sussurros.

Sentou-se no vaso, levantou os pés e apurou os ouvidos.

— ... tô te dizendo. Quando ela me mostrou, eu meio que duvidei que ele falava daqui. Mas ela disse que tava muito na cara.

— É óbvio que tá! Tudo se encaixa: a enchente lá naquela escola da Ilhinha, aí eles vieram usar a quadra daqui e teve aquele coordenador que foi demitido e... — Lucas escutou o menino fazer o som de um tiro. — Acabou com tudo.

— Cara, mas ele tem coragem de escrever um troço desse? Tipo, mesmo daquele jeito, sem nome, sem nada, é só juntar dois mais dois que a pessoa saca logo que tá falando daqui da escola.

Som de água corrente, um dos meninos começou a lavar a mão.

— Olha, eu só sei é que, se esse texto for mesmo sobre a Damariana, o Isaú deve estar com as duas mãos dentro do rabo se rasgando de raiva.

O outro aluno gargalhou.

— Que exagero! Continua, continua.

— O quê? Sobre aquele merda Fauller! — o outro sorriu.

— Esse mesmo. O capitão do trem do inferno.

E durante cinco minutos prosseguiram em xingamentos contra o dono da escola, mas sem altear a voz. Quando Lucas reencontrou os amigos, contou o que tinha escutado e ouviu de Domingas o que tanto esperava:

— A gente teve uns comentários melhores dessa vez.

— Sério?

— Sim — ela espiou se não tinha ninguém olhando para eles e mostrou o celular para o amigo. — Olha esse aqui: "Se alguém já desconfiava de que tinha alguma coisa errada com essa escola, esse texto reforça o meu orgulho de não ter estudado lá". E esse: "Eu escutava boatos de que essa escola era só fachada, mas agora tenho certeza". Está acontecendo.

— Eu avisei que a gente deveria ter começado com uma bomba desde o começo. Ninguém quis me ouvir.

— Mesmo assim — Domingas enfatizou para Otávio —, ainda não é o momento de exposição. São poucos comentários e isso ajuda o livro a ficar mais conhecido no Wattpad, mas é uma gota d'água no oceano.

Lucas Verdelhos e a Revolução WattpadianaOnde histórias criam vida. Descubra agora