7 AS TRÊS MORTES (parte 1)

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FRANCIS PARECIA UM TOURO FORA DE CONTROLE. Levado na frente sob a escolta de dois professores, gritava para que o soltassem, xingava os alunos com celulares nas mãos e ameaça processar Deus e o mundo. Para a surpresa de Lucy, Evandro e Lucas, porém, ao invés de pegarem o elevador em direção à Coordenação, os professores encaminharam o garoto para a enfermaria.

— Espera — Evandro olhou para o bibliotecário —, e eu? Olha como tá o meu pescoço!

Havia hematomas na pele do menino, vergalhões vermelhos e roxos.

— A gente já ligou para os teus pais, calma.

— Calma? Ele tentou me matar! — o bibliotecário, visivelmente constrangido, entrou no elevador com eles e apertou o botão para o primeiro andar. — Eu tô falando contigo!

— A dona Soledade vai cuidar de tudo.

— Aquela vaca!

Lucy levou as mãos à boca. Lucas passou a mão pelos ombros do amigo.

— Não piora as coisa, Vandro. A gente tá junto, a gente vai resolver.

— Vai? — Evandro encarou o colega, os olhos trêmulos, embaçados de raiva, tristeza, descrédito, ódio, tudo, tudo. — Vai mesmo?

Lucas engoliu em seco e abraçou o amigo. Lucy, pela primeira vez imersa no que só via de longe, colocou a mão sobre o ombro de Evandro e apertou. O menino chorou durante toda a descida até a sala da Coordenação, onde foram deixados pelo bibliotecário que se encaminhou primeiro para conversar com Soledade.

Foi dona Hermínia quem levou água para Evandro e acalmou o menino.

— Levanta a cabeça, meu filho, levanta a cabeça! A luta é difícil, mas tu tens que deixar a cabeça levantada que é pra não dar esse gosto pra quem te agride. Cuida, levanta a cabeça, homem! Coragem!

O bibliotecário saiu sem olhar para eles, parecia desesperado para sumir de vista. Soledade pediu para os três entrarem. Mal se sentaram, a coordenadora-geral mirou cada um deles com um ar grave.

— Eu fico muito, muito, decepcionada ao ver alunos provocarem um colega desse jeito. Nós não admitimos isso aqui. Vocês sabem disso. Não se revolve nada com agressões. — Focou em Evandro. — Está me escutando?

— Mas, professora — Lucy se adiantou —, o Francis quase...

— Quase teve um colapso, senhora Riberas. O professor Oseias acabou de me informar que ele está em prantos na enfermaria, em choque. Terrível, terrível — levou a mão ao crucifixo no cordão. — Meu Deus, o que é isso? Pra que essa agressividade? Todos vocês estão no mesmo barco.

— Qual barco? — Lucas perguntou.

— Senhor Verdelhos, o barco da educação, dos valores familiares, uma pátria unida; os ensinamentos de Deus sobre não agredir o próximo, amar o próximo como a si. No momento em que vocês agridem um colega dessa forma, e usando de um assunto que já o fez tão mal, já o feriu tanto, vocês destroem o convívio. E a senhora, senhora Riberas? — Lucy prendeu o fôlego. — Muito me admira a senhora compactuando com um ato desses.

— Mas, professora, o Francis provocou...

Soledade suspirou, abriu a gaveta e puxou a conhecida pasta. Abriu-a e começou a folhear os documentos, nomeando-os um a um:

— Cléver, Francis, Túlio, Karina, Gisa, Gabriel. E outros e outros e mais outros. Lucas e a patota dele, senhora Riberas, estão dispostos a denunciar até uma muriçoca que de repente pique um deles. Eu lhe aconselho a cuidar com quem a senhora anda.

Lucas Verdelhos e a Revolução WattpadianaOnde histórias criam vida. Descubra agora