14 SINAL DE FUMAÇA (parte 2)

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— ATÉ TU, BÉLIS! — Evandro chutou um folha ao sair da sala. — Pronto, acabou qualquer dignidade! Se até o professor Bélis tá nas mãos do Cléver, acabou tudo.

— Nesse ritmo todos os professores vão começar a se calar com medo do que ele tenha descoberto.

— Esses professores também, viu? O Isaú fez o quê, contratou só gente com a ficha suja? Entrevista de emprego, primeira pergunta: o senhor tem um passado obscuro? Sim? Contratado, senhor! Bem-vindo à escola Damariana!

— Pior que não é difícil. Fazendo isso ele fica com todos na palma das mãos.

— Seria algo bom pro — deu uma olhada no entorno, vazio — Divulgador jogar no Wattpad.

— Mas a gente não tem provas disso, lembra?

Evandro revirou os olhos.

— Lucas, tem certas guerras que a gente precisa largar um pouco de ser bonzinho e partir pro ataque sem dó nem piedade, fazer como o outro lado faz. Pacificação tem limites.

— Tá falando em... mentir?

— Hum, chame do jeito que quiser. Eu chamaria de... Isaú!

— Isaú?

Evandro puxou o amigo para trás de um conjunto de vasos de plantas e obrigou-o a se agachar. Fez um gesto pedindo silêncio e apontou para frente. Lucas ergueu a cabeça e, protegido pela palmeira, olhou para a sala da Coordenação-Geral. Ali, ânimos exaltados, Isaú Fauller discutia com Soledade em frente à porta.

Em uma situação de normalidade seria complicado escutar, mas não dessa vez. O homem falava tão alto que dona Hermínia, parada ao lado de ambos, encolhia-se sob aquela barulheira.

— ... diz, como foi acontecer? Vamos, Soledade!

— Senhor Fauller, esse é um assunto que não temos controle. Eu mesma nunca tinha ouvido falar dessa plataforma Vetipedi.

— Porque é incompetente — o empresário passou a mão pela barba, folgou a gravata. — Depois de tantos anos, um idiota qualquer desenterra isso e eu sou o último a saber.

— Senhor, o senhor não quer entrar para discutirmos isso com mais privacidade?

Isaú, porém, estava em outro mundo. Começou a andar de um lado para o outro em frente à coordenadora e à secretária.

— Muitos problemas, muito dinheiro gasto. Não, não. Vocês não têm noção de nada. A quantidade de bala na agulha que esse assunto exigiu para ser resolvido... É claro que não têm, não fazem nem ideia...

— Mas, senhor Fauller, o que eu vi no site desse tal autor é que não houve repercussão. Tem poucos comentários, poucas visualizações. Ele só tem quinze seguidores. Além disso, não cita o nome de ninguém. A pessoa precisa ser muito obstinada para pesquisar só com as metáforas que... que esse acusador usou no poema.

O homem passou a mão pela testa.

— Nós trabalhamos com adolescentes, Soledade. Esqueceu disso? Adolescentes que têm mais noção de redes sociais do que todos nós juntos. Se eles quiserem, eles vão encontrar as informações certas.

— Mas... — Soledade buscou apoiou de dona Hermínia, que balançou a cabeça e recuou. — Mas, tudo bem, vamos supor que alguém junte esses pontos e faça essa ligação com o que aconteceu. Está tudo resolvido, não é?

Isaú parou de andar a esmo e estancou diante dela.

— Resolvido?

— Bom... Sim... Naquela época eu trabalhava em outro setor, mas eu não lembro de ter escutado nada mais sobre esse assunto depois que o... O antigo funcionário se... se...

Lucas Verdelhos e a Revolução WattpadianaOnde histórias criam vida. Descubra agora