19 CAÇA ÀS BRUXAS (parte 2)

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"Há um ditado que diz que "quem tem amigos, tem tudo". O dono da Escola Damariana, Isaú Fauller, veste essa bandeira com orgulho. Como dito em artigo anterior, a citada instituição de ensino conta com o apoio dos pais dos alunos para estabelecer as diretrizes da escola. E, é claro, para moldar saídas que preservem a máscara de ''instituição de elite moral'' e absolvam estudantes que já deveriam ter sido expulsos há muito tempo. Isso se fosse uma escola de fato condizente com o que prega em outdoors e jornais espalhados por todo o Maranhão. Um desses casos aconteceu na última semana.

Na segunda-feira (9), uma aluna do sexto ano foi duramente achincalhada por colegas da mesma turma. Com ditas "brincadeiras" sobre a "qualidade" do cabelo da menina, a cor da pele e o fato de ter sido adotada por pais brancos, a aluna e seus responsáveis fizeram uma queixa formal na Coordenação do Ensino Fundamental da escola. O problema é que, entre as alunas que proferiram os ataques raciais, uma é filha da deputada estadual Bonifácia Draierna que, coincidência das coincidências, é amiga de longa data de Isaú Fauller, tendo estudado com ele no Ensino Médio.

A saber, o detalhe peculiar é que a senhora Draierna é presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e gosta de levar a filha para posar junto com crianças de comunidades quilombolas do interior do estado. Nas legendas das fotos, Vossa Excelência enfatiza a "diversidade que mostra para a filha" e a dá dicas para os pais criarem "cidadãos que abracem ao invés de rejeitarem quem é diferente".

Pelo visto, a estimada deputada, ou usa uma máscara que combina com a usada pelo antigo colega de Ensino Médio, ou até tem boas intenções, mas não faz ideia do que a filha faz quando está longe de seus olhos.

Há uma música da banda Capital Inicial, intitulada ''Quatro vezes você'', que traz num dos versos a seguinte pergunta: ''O que você faz quando ninguém te vê fazendo?''. No caso da nobre deputada e de sua rebenta, o verso seria ''O que você faz quando mamãe não te vê fazendo?"

Ou será que seria ''O que você faz quando a imprensa não te vê fazendo?''

Ah, senhora deputada, a senhora nem sonha..." (95,3mil visualizações, 12,4 mil comentários)

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COM TODO O CAOS GERADO PELO DIVULGADOR, OS FINAIS DE SEMANA SE TORNARAM AINDA MAIS PRAZEROSOS PARA LUCAS. Em vista da saúde mental, naquele final de semana ele decidiu chegar da escola na sexta-feira e desligar o celular. Estava cansado de textos, cansado de denúncias, cansado de Cléver e da patota palaciana ameaçando pessoas pelas redes sociais. No dia anterior, o rei-sol estava no Twitter monitorando os perfis de vários alunos que ele disse serem suspeitos da difamação. Era cansativo. Tudo.

Afastar-se foi o melhor.

Satisfeito consigo, pegou a sacola da atendente e saiu da padaria. A tarde daquele sábado estava clamando por um momento de maratonar séries comendo um pote de sorvete e um cento de pão de queijo. Falou com alguns vizinhos, desceu a rampa do comércio e ia, sorridente e faceiro, para casa quando piscou duas vezes ao avistar uma pessoa vindo em sua direção.

Primeiro, pensou que fosse impressão, alguma outra pessoa com nanismo. Depois, deu um passo para trás ao ter certeza de que era Otávio. Por fim, cogitou a ideia de sair correndo ao ver que o amigo tinha no rosto aquela expressão de "Houston, temos um problema!".

Quando o outro estava a dez metros, Lucas foi logo dizendo:

— Tá, Otávio, tu desconfia de mim. Eu sei, eu sei. Não precisava ter vindo até aqui pra dizer isso. Tchau.

— Espera, como é que é? Você acha que eu vim até aqui só pra isso? — Perguntou, esbaforido.

— Sim. O que tu faria aqui no bairro em plena tarde de sábado? Tu mora de frente pra um shopping lá no Calhau, perto da praia. Ia se enfiar na periferia pra quê?

Lucas Verdelhos e a Revolução WattpadianaOnde histórias criam vida. Descubra agora