25 "LUCAS VERDELHOS" (parte 2)

103 27 31
                                    

O BONITO DE FICAR NO GRAMADO NA LADEIRA DA LITORÂNEA ERA A VISTA PANORÂMICA. De um lado, a avenida margeada pelo mar e pelas dunas se estendia feito uma cicatriz de asfalto. Do outro, viam no horizonte os prédios da Ponta d'Areia feito lanças contra o céu alaranjado. Em algum lugar ali atrás, a Escola Damariana exibia seus cacos de luxo.

— Você mandou esse texto para os jornalistas?

Lucas olhou para alguns pássaros que brincavam de sobrevoos logo acima de onde estavam sentados.

— Mandei. Foi bom ter o contato daqueles repórteres que ficavam em frente à escola. Agilizou muito as coisas.

— Eles estão deitando e rolando com as descobertas sobre o Isaú — Domingas sorriu. — Papai falou que estão iguais "pinto no lixo". Um escândalo desses gera bastante visibilidade.

— Saiu até no Jornal Nacional, vocês viram? — Todos concordaram com Otávio. — O homem tá mais sujo que pau de galinheiro. O Ministério Público colheu provas robustas contra ele.

A amiga se esquivou.

Colheu provas robustas? Tu quer falar difícil, é?

— Eu vou ser advogado, já disse. Preciso começar a falar bonito.

Lucas sorriu.

— Deveria ser era político, isso sim. — a brisa matutina colaborou com o frescor daquele amanhecer. Pessoas caminhavam pelo calçadão, ciclistas começavam seus treinos. — A escola já perdeu foi muito aluno, né?

— Muito? — A garota balançou a cabeça. — Se tu tivesse ido, veria como nem parece mais uma escola. Os pais foram tirando os filhos de uma vez. Foi efeito dominó. Querem ficar longe de confusão e dessas revelações todas.

— Falando nisso: alguém pode me dizer, afinal, como foi que o Cléver descobriu aquelas coisas sobre você? Nem a gente sabia e do nada ele coloca aquilo tudo no Wattpad.

Lucas fez cara de intrigado. Sentado ao seu lado estava Domingas, então Otávio e, por fim, Evandro, mais afastado deles três. Ao perceber que os amigos olhavam para ele, o rubor subiu pela face dele.

— Fui eu.

Otávio deu um pulo.

— Você? Espera: você fez o Revelador? Que nomezinho ruim, hein? E vamos fazer umas aulas de redação, meu filho. Aquele texto é muito ruim!

Domingas também ia falar alguma coisa, mas Lucas pediu calma. Levantou-se e foi até onde estava Evandro. Sentou-se diante dele, cara a cara.

— Vandro, explica pra eles.

O garoto jogou a cabeça para trás.

— Tá. — Evandro puxou o ar e buscou apoio no olhar do amigo. Lucas assentiu. — Tá legal. Eu... Eu meio que tinha um... Um rolo com o Cléver.

A brisa matutina disputou corrida com os corredores. Quase em frente de onde estavam, um carro estacionou e uma família desceu, animada, o cachorro disparando pela areia. Otávio piscou três vezes.

— Com o Cléver? Com o nosso inimigo número um?

— Otávio, eu sei que eu fiz merda, tá legal? Mas vocês não conhecem o Cléver por trás daquela máscara que ele usava na escola.

Domingas se aproximou.

— Eu lembro que vocês sempre estudaram juntos e que só viviam na casa um do outro antes de tu iniciares o processo de transição.

— Sim...

— Mas, Vandro, o Cléver virou um bosta! Como tu conseguiu... — Domingas balançou a cabeça. — Como conseguiu ficar com ele? Ignorar tudo? Quer dizer, ele te chamava de coisas horríveis! Inventava coisas sobre nós, fez da vida do Lucas um inferno...

Lucas Verdelhos e a Revolução WattpadianaOnde histórias criam vida. Descubra agora