Capítulo 4 - Recuperação

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Roberto abriu os olhos, mas não conseguiu enxergar. A visão estava embaçada e tudo o que conseguia distinguir era a cor e o tom da luminosidade. Mas se alguém lhe fizesse uma pergunta agora, ele não responderia, pois tudo o que ouvia era um zumbido alto. Mesmo piscando várias vezes, sua visão não voltou ao normal. Sentiu seu corpo e percebeu que estava deitado ao leito do quarto. Sentiu o lençol ao tateá-lo com as mãos. Sentiu o colchão fino por baixo dele com a pressão que exerceu com a mão de leve.

Sua visão foi clareando como a água de um rio turvo que, ao ficar mais lento, deixa a sujeira decantar para que a água fique límpida e cristalina.

Seu corpo todo estava dolorido e rígido como pedra. A respiração era pesada como se nunca tivesse usado os pulmões. Sentiu os olhos inchados e pesados como se tivesse levado um soco em cada olho.

Conforme a visão voltava, conseguia distinguir as formas dentro do espaço em que se encontrava. Levantou um braço e percebeu que isso era doloroso e pesado como se pesasse dezenas de quilos, mas era apenas o seu braço.

Moveu uma perna e sentiu como se o fêmur fosse sair de sua coxa com o movimento. Inspirou o ar profundamente muito rápido e isso lhe causou dor no tórax.

Os olhos encheram d'água ao sentir a dor vindo de todos os lugares de seu corpo. A visão só lhe dava borrões de cor e uma forma aqui e outra ali.

Escutou vários sons abafados como se viesse de outra sala, mas as vibrações atingiam-lhe as orelhas.

Sentiu um toque forte envolver seu braço e o abaixar de volta à cama. Depois, sentiu o toque de uma mão forte em seu queixo o puxar para o lado. Em seguida, uma luz forte brilhou diante de seus olhos e ele, por instinto, fechou-os, pois era doloroso ver aquele brilho.

A mão o soltou e depois outra o pegou, puxou para o outro lado e seus lábios sentiram o toque de um objeto que ele julgou ser um copo. A boca se abriu e logo sentiu o líquido refrescante adentrar seu organismo que exigia hidratar-se.

Os olhos se abriram e ele conseguiu identificar duas formas. Duas pessoas. Mas não sabia quem eram e nem o que estavam fazendo no quarto. Os borrões ainda rodopiavam em sua cabeça.

Sentiu vibrações sonoras tremerem suas orelhas, mas o som era abafado. As formas de pessoas moviam seus membros e o tocavam, o esticavam e ele sentia dor. Foi colocado sentado e o brilho doloroso voltou aos seus olhos, que fecharam-se assim a luz se aproximou.

Tornou a abrir os olhos e as formas eram mais distinguíveis. Uma usava uma enorme roupa branca e a outra usava verde. Sentiu dor em todo local do corpo e ele só queria voltar a deitar no colchão, era muito mais confortável do que ficar sentado.

Logo as figuras eram identificáveis e ele entendeu que, à frente, estava um médico e uma enfermeira. Eles estavam fora de foco, mas conseguia distingui-los melhor do que um instante atrás. Sua audição, por outro lado, ainda ouvia sons abafados como estivesse com um travesseiro em cada orelha.

Médico e enfermeira saíram do quarto e outra figura adentou o recinto. Ele não a reconheceu devido a sua visão borrada, mas logo reconheceria, ele tinha certeza. A figura se aproximou e ele escutou sons abafados por um momento. Não soube o que dizer. Continuou observando-a até sua visão conseguir foca-la. Era sua mãe.

Mã... e...? — a palavra saiu abafada de sua boca, mas audível o suficiente para que ela move-se até ele e começasse a falar. As palavras eram batidas abafadas em sua audição, contudo, conseguiu distingui-las um pouco. — On... de... eu...? — falar lhe doía o peito e o fôlego escapava rápido de seus pulmões.

— O quê? Não! Não diga nada, meu filho — pediu a mãe. Deitou-o na cama e ele descasou o corpo dolorido. — O médico falou que você vai precisar fazer alguns exercícios para fortalecer o corpo.

Coração Quente (Volume 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora