Capítulo 11 - O pai e a raposa

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Atlas enviou uma mensagem na manhã seguinte com uma fotografia dele segurando a filha e a esposa, Julieta, ao lado. Era uma imagem bela e sentiu uma dor no peito entrar como faca. No momento em que estava com Atlas, era muito bom, pois estava extasiado pelo leão, agora, vendo a família que estava formando, tudo parecia errado e distorcido.

Alex, o leão com quem dividia a casa, contava sobre a fêmea com quem estava saindo e tentou lhe empurrar uma conhecida, mas não deu certo.

Vez ou outra, visitava sua mãe na escola logo após a saída dos alunos. Como os trabalhadores da escola o conheciam, deixaram-no entrar para vê-la. Ele conversava um pouco com ela e depois ia embora.

— Eu paguei a sua multa — ela informou.

— Mãe, por quê? Eu poderia pagar.

— Não poderia, não — ela afirmou. — Você estava se recuperando e não tinha emprego — lembrou-o.

— Eu vou pagar a senhora de volta — prometeu.

— Não precisa!

— O vovô ainda reclama de mim?

— Todo dia — ela confirmou.

— Por que a senhora o deixa lá?

— Ele é o seu avô — reforçou ela. — A vó não quer mais ele. Por isso, deixei ele morar conosco.

Iria protestar, mas não queria mais discussões do que o necessário. Notou que sua mãe estava mudando com a presença de seu avô na casa e não deixou de lembrar das palavras que Alex lhe falou sobre eles. Não conseguia imaginar como poderia ser. O ex-marido de sua avó e sua mãe, juntos.

Os meses foram passando e as mensagens que trocava com Atlas se tornaram menos frequentes, o que preocupou a raposa. Até que que veio a mensagem de que ele teria que viajar por um tempo.

Para sua surpresa, um número estranho ligou e, a voz do outro lado da linha, era do pai de Atlas querendo saber que gostaria de ir ao rio de novo. Sentia-se envergonhado de ter que fazer algo com o pai de seu amigo, então, recusou o pedido gentilmente, falando que precisaria fazer hora-extra.

Em um dia, ao voltar do mercado, encontrou seu avô enquanto caminhava pela rua de terra batida. A velha raposa o abordou e exigiu dele os deveres que tinha que cumprir.

— Mas que deveres?

— Que bosta inútil você é — olhou-o de cima a baixo. — Tanta gente na família precisando de ajuda e a bichona indo no mercado.

— Ninguém me fala sobre essas coisas.

— E precisa falar? Quem tem o dever é você.

— Mas e os filhos dela? Tia Damares tem quatro filhos.

— E também tem um sobrinho que, além de inútil, é um bosta.

Ao voltar para casa, as compras escorregaram na mesa, as mãos tremiam de ansiedade, pegou-se com a respiração ofegante e os olhos se enchendo d'água. Quando recebeu outra ligação do mesmo número desconhecido, descobriu ser do pai de Atlas, e disse a ele que mudou de ideia sobre ir novamente no rio.

No dia marcado, tinha a esperança de encontrar Atlas, mesmo sabendo que ele não iria. Além de Seu Josué, havia outros dois machos grandes no carro: o que estava no banco do carona era uma onça-pintada macho, robusto, que Josué apresentou como filho — o que deixou Roberto boquiaberto —, o segundo era um lobo cinzento. Ambos os machos com camisas regata e bermudas, afinal, o lugar para onde estavam indo era quente e úmido.

— As fêmeas já chegaram e estão preparando um café — contou o lobo.

A onça-pintada macho revelou-se ser pouco mais velho que a raposa, já o lobo estava quase na quase dos quarenta. O felino amarelo puxou um pouco de conversa com a raposa e o leão-de-Atlas explicou que, há muito tempo, pulou a cerca e teve alguns filhotinhos pelo mundo. Um deles, sentado no banco do carona.

Coração Quente (Volume 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora