Roberto sentiu saudade da presença de Atlas. Queria que a situação fosse mais favorável mas, morando naquela cidade com seus familiares, era complicado. Suas relações estavam prejudicadas e limitadas a serem distantes.
Depois da segunda bofetada na cara, estava claro que sua presença na casa de sua mãe já não era mais bem vinda. Mas não por parte de sua mãe. Os olhos de seu avô, Solimões, diziam para que fosse embora. As mãos dele disseram o mesmo, só que com mais violência.
Sem lugar para ir, só restava continuar morando com a mãe. O dinheiro que guardou era insuficiente até mesmo para sair da cidade, afinal, sempre havia algum reparo na casa que seu avô inventava para ser feito.
Havia recebido uma mensagem de Atlas na manhã seguinte, querendo saber se estava tudo bem. Não quis preocupar seu amigo e falou que estava tudo bem. Queria escrever que estava com saudade, mas não queria que ele traísse a família que formou. Por outro lado, o texto seguinte lhe doeu o coração. Tenho saudade de você. Aquilo fez seus olhos se encherem d'água. Eles conversaram mais um pouco e ele contou sobre o trabalho, sobre a vontade que tinha de morar com o amigo que conhecia na cidade e sobre a vontade que tinha de voltar para Campo Grande. Para Atlas.
Durante os meses que se seguiram, ele fugia para a casa de Alex, que o acolhia como se fosse o tio renegado da família. Às vezes parecia-lhe como um irmão mais velho, outras, como primo, outras, como um tio.
— Quer dividir a casa comigo? — convidou o leão. — Assim você não precisa aguentar aquele tormento que chama de avô. A raposa deu uma risada. — Assim vai sobrar um dinheirinho na minha conta.
— Eu não sei. Eu tenho que ajudar minha mãe...
— Ela deu conta de muita coisa sozinha quando você ficou fora — falou o leão. — Qual é?! Você já é um macho crescido, não? Já tem idade pra decidir isso.
Não demorou muito para a raposa aparecer na porta da casa do leão, que o aceitou dentro de sua casa como um parente que não via há muito tempo. O leão cedeu um espaço no guarda-roupa para que a raposa guardasse as roupas.
A raposa contou um pouco mais sobre os acontecimentos com o avô e o leão recontou alguns casos de desentendimentos que teve com a velha raposa. Houve um dia em que o desentendimento gerou um conflito físico entre os dois e, claro, o leão seria o vitorioso se não tivesse sido segurado por outros cinco machos. Um leão enfurecido é um perigo grande.
— Aquele velho me dá nos nervos em alguns momentos — falou o leão. — Depois do chega pra lá que eu dei nele, nunca mais ouvi exigências pesadas dele.
— Eu queria ser um leão como você — disse a raposa.
— Um leão como eu? — Alex riu. — Por quê? Só porque eu peitei seu avô? É só peitar ele também.
— Ele sabe que eu sou pequeno e fraco e se aproveita disso.
— Você não é pequeno, não. Eu lembro quando você era pequeno.
Roberto ficou diante de Alex e mediu-se com relação a ele. O leão era mais alto que a raposa em uma cabeça. O felino colocou o braço ao redor da raposa e puxou-a até a cama, onde jogou-a e brincaram de lutinha.
— Talvez eu trace uma fêmea hoje — falou o leão, deitado na cama. — Não se preocupe, pois ela não vai dormir aqui. Eu sei que você precisa de um lugar.
— Mas e quanto ao tempo que você vai ficar transando? Eu espero do lado de fora?
— Ela vai vir quando você estiver no trabalho. Quando voltar, ela já vai ter ido — explicou.
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Coração Quente (Volume 2)
RomanceAo voltar para sua cidade natal, Roberto se reencontra com sua família de raposas e as dificuldades que o fizeram ir embora. Atlas, o amigo leão de juba negra, divide-se entre a formação de uma família com Julieta, uma onça-pintada, e o seu romance...