Capítulo 6 - Os primeiros meses

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Roberto foi se recuperando bem conforme os dias passavam. Os dias se transformaram em semanas e ele pensou que voltaria para a capital, contudo, cada vez que contava isso para si, menos acreditava que fosse acontecer. Boa parte de suas coisas ficaram na casa de Atlas e nem sua mãe, nem seus tios, nem seus primos — e nem o mínimo de dinheiro na sua carteira — deram indícios de voltarem para Campo Grande para ele poder pega-las.

Teria que se contentar, mas não conseguia. À noite, sozinho no quarto, ele chorava por tudo ter ficado para trás de novo. Seus amigos, suas coisas — que havia conseguido com cada gota de suor —, e um provável amor que nunca poderia ter de verdade. Seu coração sentia falta de seu amigo leão que tanto o ajudou e, além disso, lhe deu algo que deveria ser amor.

Precisou arrumar um emprego, novamente, para que a sua carteira não ficasse para sempre vazia. Mas tudo tinha um porém: parte do seu salário foi usado para aliviar as contas da casa — de novo. Não demorou para que parentes irritantes aparecessem pedindo dinheiro. Isso o fez ir para o trabalho mais cedo só para se afastar deles por um momento. Também não demorou muito para que a mãe pedisse para que desse mais atenção a eles. Logicamente, não tinha mais paciência para parente pidão.

Os melhores dias eram os que apenas ele e sua mãe estavam em casa. Como nem tudo são rosas na vida, seu outro avô apareceu para dar as caras. Sim, apenas as caras, pois as boas não foram nenhuma. Se seu outro avô já era um porre, este era pior e lhe enchia ainda mais a paciência e era mais difícil de aturar.

Solimões era o nome de seu outro avô mais insuportável que agora aparecia de vez em quando em sua casa. Dava ordens e ele tinha que obedecer, caso não obedecesse, recebia sermões desnecessários de trabalhos domésticos repentinos.

Pedia benção por educação e recebia de volta apenas um olhar rígido que o deixava desconfortável. Contou a sua mãe seus desconfortos e, como resposta, ouviu as mesmas reclamações que o seu avô havia lhe dito.

Ele arrumava uma coisa aqui, outra ali e, quando pensava que o serviço estava terminado, havia outro a ser feito. Isso lhe dava nos nervos.

Não teve paz nem mesmo quando trocou de turno para voltar à noite para casa. Ele estava lá só para lhe dar trabalho. O que faria para se livrar desses trabalhos desnecessários? A vontade que tinha de ir embora era grande, mas seria problemático e ele não tinha energia para problemas, pois ela era sugada com o trabalho e os sermões do avô.

Dessa vez, trabalhou na lanchonete que havia ali não muito longe e encontrou uma figura curiosa. Era um leão macho, mas tinha a juba curta de cor amarela com pontas escuras, era mais baixo do que o leão-de-Atlas com quem conviveu, contudo, não lhe era desconhecido: Alex. Da última vez que o viu, o macho felino estava trabalhando como mecânico em uma fábrica. Será que ainda estaria exercendo a mesma profissão?

O leão o reconheceu, levantou-se e foi de encontro com a raposa. O corpo atlético continuava o mesmo. Os olhos amarelos, a juba curta e os músculos esbeltos que se destacavam ligeiramente em sua camisa regata de cor azul e a cauda abanava na ponta ligeiramente, alegre em vê-lo.

— Rapaz — disse e deu um abraço em seguida. — Você ainda lembra de mim, não lembra?

— Sim! Você ainda trabalha como mecânico? — Roberto também estava feliz em vê-lo.

Alex é um amigo da família, contudo, não tinha contato com todos os membros — somente alguns poucos, no caso, sua tia Gertrudes. Se sentasse à mesa, levaria uma bronca do chefe, por isso, fizeram uma rápida conversa.

— Quando voltou para casa?

— Faz alguns meses. E você ainda mora naquela casinha?

— Me mudei faz um ano e meio — revelou. — Me visita quando tiver um tempinho.

Coração Quente (Volume 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora