Capítulo 21 - Uma raposa feliz

77 10 24
                                    

Atlas pegou alguns dias de folga para ficar com sua esposa antes de viajarem para a chácara do tio.

Enquanto esteve em casa, aproveitou o tempo com sua filha, que ficava mais calma em seu colo do que no colo da mãe. Ele ria disso, o que fazia a onça-pintada revirar os olhos e soltar um sorriso, ora de nervosismo, ora de divertimento.

Nina já estava dando alguns passos com auxílio do pai. A cauda dela ainda não ficava erguida devido a pouca força que tinha, então arrastava-a como se fosse um pano, ficando suja. Julieta amarrou-a ao redor do corpo e prendeu-a com o grampo de cauda para que ninguém pisasse acidentalmente na cauda de sua filha.

Atlas lembrava-se das histórias que seus pais lhe contavam sobre sua cauda. Fora pisada muitas vezes na sua infância e fazia-o chorar muito. A sua irmã chorou ainda mais quando pisavam na cauda dela, isso ele lembrava, afinal, ele mesmo já pisou na cauda dela algumas vezes e ganhou uma bela surra por isso. Algumas vezes, sem querer, em outras, por querer — e ainda ganhava uma pisada na cauda de graça. Sabia qual era a dor de um pé em sua cauda e não queria isso para a filha, mesmo que eventualmente isso fosse acontecer com ela em algum momento cedo ou tarde.

— O que seu tio falou? — perguntou Julieta, querendo saber das coisas que precisariam levar para a chácara.

— Sobre as coisas que já ajeitei para levarmos — falou Atlas. — Apenas alguns quilos de carne para assarmos, um pouco de cerveja e refrigerante para as crianças — listou o leão-de-Atlas. — Nada tão longo.

— Ele falou qual o tipo da carne?

— Sim! Já me preparei também.

Ela deixou a filha no carrinho e andou até ele, puxou-o gentilmente pelo braço para que ele se virasse para ela, onde seus lábios se encontraram em um beijo.

— Você não faz ideia da calma que está por você estar aqui — falou ela. — Nós sentimos muito a sua falta no tempo em que ficou fora — reforçou ela. Abraçou-o calorosamente e ele sentiu a força dos braços dela apertando-o ao envolve-lo. Ele a abraçou de volta e deu-lhe um beijo na testa. Tocou gentilmente o queixo dela com seus dedos grossos e fortes, erguendo o olhar dele e depois descendo seus lábios de encontro aos dela, em um beijo apaixonado. O coração batendo forte por estar junto dela, de ama-la novamente.

Nina chorou e obrigou-os a interromper o beijo. Julieta soltou-se do abraço do leão-de-Atlas e correu até o carrinho para pegar a pequena Nina nos braços, o que só deixou o choro mais intenso. Atlas foi até Julieta e pegou sua filha nos braços. Cuidadosamente, eles trocaram e Nina ficou aninhada nos braços do leão de juba negra, o que fez com que o choro dela parasse imediatamente.

Julieta soltou um suspiro de alívio e deixou com que o pai conduzisse a criança até que ela ficasse mais calma e adormecesse novamente. Enquanto isso, a onça-pintada foi até a cozinha, pegou uma garrafa d'água e bebeu-a, refrescando-se de uma semana trabalhosa como mãe e dona de casa.

O leão sentou-se no sofá da sala com a filha ainda nos braços, pegou o controle da televisão e baixou o volume para que ela não ficasse irritada pelo barulho do aparelho. Ela continuou dormindo por um bom tempo em seus braços até que ele decidisse que já fosse hora de ela voltar ao carrinho para dormir com mais conforto, contudo, assim que sentiu que já não estava mais no colo do pai, a filha, levantou-se no carrinho, ficando sentada e olhando fixamente para ele, pedindo por mais.

— Chega, Nina — disse ele. —Não pode ficar com o papai o tempo todo, viu?

Ela começou a chorar bem fraco até que o choro se intensificou. Apesar de ambos os pais querer pega-la no colo, estavam querendo fazê-la desapegar do colo. Então, vez ou outra, deixavam-na no carrinho chorando por um tempo até que ela se cansasse e entendesse que não teria mais o colo dos pais.

Coração Quente (Volume 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora