O dia ruim - parte 1

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Fevereiro de 1993

Na sexta-feira, meu dia começou com o pé esquerdo.

Primeiro: Eu acordei atrasado pra escola, porque meu despertador tinha quebrado e não deu tempo de eu fazer minhas costumeiras caminhadas pela manhã.

Segundo: Quando eu fui tomar banho, o choveiro também tava quebrado, então eu precisei me banhar com uma vasilha, pegando água de um balde.

Terceiro: A água estava um gelo e eu não tinha tempo pra esquentar.

Então eu já tinha certeza que dali para frente o dia só ia piorar.

Tive que pegar outro ônibus, porque o que eu sempre andava já tinha partido e esse outro era totalmente lotado, muita gente indo para o trabalho e nenhum sinal de estudantes, isso significava que eu já tava morto de atrasado e só ia poder entrar na escola na segunda aula.

Mas parecia que eu não era o único, porque para a minha, nem tanta surpresa assim, Jisung adentrou o mesmo ônibus que eu, parecendo mais morto do que vivo.

- O Senhor Certinho pegando o segundo ônibus? O que diabos está acontecendo com o universo? - perguntou, se pondo ao meu lado, segurando na mesma barra que eu me apoiava.

- Eu só tô atrasado. - dei de ombros, fingindo que não me importava, mas a verdade é que eu estava quase me derramando em choro ali mesmo.

- Você? Atrasado? - apontou para mim, incrédulo. Assenti desgostoso. - Volto a repetir: o que diabos está acontecendo no universo?

- E você? O que está fazendo aqui?

- Eu tentei fingir pra minha mãe que estava doente pra não ir pra escola, mas não deu certo e cá estou eu, atrasado e morto de sono. - seu rosto assumiu uma expressão cabisbaixa.

- Sua mãe não é enfermeira? - franzi o cenho.

- Por isso mesmo que não deu certo.

- Mas você é burro, ein! - neguei com a cabeça.

O ônibus fez a primeira parada. E uma senhorinha que estava sentada a uns dois bancos de distância de mim, desceu.

Olhei para Jisung e ele retribuiu meu olhar, claramente declarando guerra pra ver quem ia sentar primeiro.

Foi ali que eu percebi que o banho gelado tinha uma vantagem: ele te desperta, retira totalmente o sono que há em você. Pois consegui correr até o banco, me sentando rapidamente, enquanto Jisung caindo de sono, ainda tentava raciocinar o que tinha acontecido.

- Rá, rá! Sou mais rápido! - debochei dele, lhe mostrando a língua e sorrindo todo orgulhoso de mim mesmo.

Porém, meu sorriso se desmanchou em segundos, pois Jisung simplesmente sentou no meu colo, como quem tem sete anos e senta no colo da mãe na igreja pra tirar um cochilo - comparação estranhamente específica, espero que não tenha sido só eu que fiz isso.

- Rá, rá! Sou mais esperto! - Me imitou, ele estava meio que sentado de lado, por isso eu conseguia ver suas expressões.

Meu coração precisava ir ao médico checar a memória, porque esse negócio de esquecer de bater era um problema seríssimo. Ele parou de bater por uns dez segundos e quando voltou, parecia querer compensar todas as batidas que havia perdido.

E tudo só piorou quando Han se mexeu, ajeitando melhor sua posição, ficando de costas para mim e com a bunda bem em cima do meu Mickey.

"Mickey?" Vocês me perguntam. Bom, vamos lá explicar.

Antes eu chamava ele de Mini-Lee, só que aí eu comecei a ficar com preguiça de falar o nome todo, então eu comecei a chamar apenas de "Mini", mas eu percebi que parecia muito com "Minnie" e tipo, ela é uma garota. Então, soou meio errado chamar meu pinto dessa maneira, parecia desrespeitoso e não fazia sentido. Por isso, comecei a chamar de Mickey. Também não fazia sentido, mas pelo menos eu não estava assediando a ratinha famosa da Disney.

Coração Desastrado - MinSungOnde histórias criam vida. Descubra agora