O dia em que o caos reinou

172 32 49
                                    

Maio de 1993

Dentre as coisas que eu mais odiava no mundo, acordar atrasado era a principal delas - claro, que isso foi antes de eu conhecer o Bolsonaro, sua família e os cristãos fanáticos.

Você tem que fazer tudo na pressa e eu odiava me apressar. Porque eu virava uma ameba quando estava sob pressão. Naquela hora mesmo eu não tava nem conseguindo enfiar o tênis, que eu usava todos os dias, no pé.

Quando enfim consegui, já vi que passava das 7 horas e eu teria que correr até o ponto de ônibus se quisesse pegar o segundo transporte e mesmo assim eu chegaria atrasado na escola.

O dia já tinha começado com tudo dando errado, mas que porra!

Corri para o ponto de ônibus, após apenas engolir uma bananada e lá, sentado esperando, eu terminava de encher comendo umas bolachinhas Clube Social.

Foi quando alguém se sentou ao meu lado.

- Bom dia, senhora Jang! - sorri.

- Bom dia, Minho! - ela retribuiu. - Tá atrasado hoje?

- É... infelizmente... - suspirei.

Olhei ao meu lado, e vi que ela tinha colocado uma espécie de caixa em cima do banco que era verde e tinha uma abertura na frente, coberta por um negócio que parecia um portãozinho preto. Lá de dentro, ouvi um miado.

Me estiquei um pouco para olhar dentro e vi um gato preto com branco e tecnicamente grande, me encarando com aqueles olhões verdes.

- Um gato? - olhei para Jang Nara com o cenho franzido, apontando pro bichano.

- Ah, eu tô levando ela pra castrar! - ela se explicou. - Minha filha. - riu leve.

- Como é o nome? - enfiei o dedo pelos buraquinhos da portinha pra brincar com a gata.

- Hye-hye. - respondeu com um sorriso... triste?

- Hye-hye? - franzi o cenho. - Parece o nome da minha mãe! Só que o dela é Ji-hye - sorri simples, sentindo a gata morder meus dedos de leve.

- Ah... jura? - por que seu tom não parecia surpreso?

Quando ia perguntá-la mais sobre aquilo, o ônibus apareceu e tivemos que nos encaixar lá dentro. Por sorte ele estava mais vago e tivemos onde sentar.

- Como você e o Jisung tão? - ela perguntou, ao passo que sentei ao seu lado.

- Estamos bem... - sorri, lembrando dele dizendo que me amava. - Eu vou tentar contar pra minha família hoje...

E automaticamente o sorriso que Jang tinha aberto, morreu ao me ouvir dizendo aquilo.

- Você tem certeza que quer fazer isso? - perguntou em um tom sério.

- Por que a pergunta? - franzi o cenho, estranhando.

- Porque... nem sempre essa é uma boa opção... - ela mordeu a parte interna da bochecha. - Você ainda depende dos seus pais e se eles te expulsarem de casa? Ou te forçarem a se separar do garoto?

- Você acha que eles teriam coragem de fazer isso?

- Bem... foi o que aconteceu comigo... - ela suspirou com pesar. - Quando meus pais descobriram que eu me relacionava com uma garota, não quiseram nem entender meus motivos, apenas me enviaram pra estudar na Europa... depois disso, a única notícia que tive dela, foi que ela se casou e já estava grávida... ela era tão nova...

- Quantos anos vocês tinham?

- Eu tinha dezoito e ela apenas quinze...

- Era bem comum as pessoas se casarem bem jovens naquela época, né? Minha mãe também casou com quinze e teve meu irmão com dezesseis.

Coração Desastrado - MinSungOnde histórias criam vida. Descubra agora