Maio de 1993
Eu continuava paralisado encarando a minha mãe que me fitava de volta, como se eu fosse um criminoso e ela a detetive tentando me fazer confessar.
"A Yeri... grávida?!", isso não fazia o menor sentido pra mim.
Era como se eu acreditasse que pessoas da minha idade nunca poderiam engravidar. Eu sei que é loucura pensar isso, mas foi como se finalmente minha consciência tivesse se tocado que eu não era mais criança.
Meu Deus, se nós tivéssemos feito alguma coisa, eu realmente já poderia ser pai de uma criança! E era muita loucura pensar isso.
- Você não vai dizer nada? - minha mãe perguntou com a voz estrangulada.
Eu pisquei duas vezes tentando recobrar os sentidos e pensar em uma forma de explicar aquela situação toda.
Não era como se eu pudesse dizer: "Eu não sou o pai, porque mais gay que eu só o meu namorado."
Escutamos barulhos na porta e nossa atenção se direcionou para lá, meu pai estava entrando em casa.
Ele tinha alguns botões da blusa social abertos, a gravata estava no meio de sua barriga, seus cabelos apontavam para todas as direções e ele cambaleava e esbarrava em alguns móveis, soltando um palavrão logo em seguida.
- Onde você tava?! - minha mãe gritou.
Já eram quase 21 horas e meu pai geralmente chegava em casa às 19.
- Não levante a voz pra mim, mulher! - seu pedido foi bem irônico, já que seu tom estava muito mais elevado que o da minha mãe.
Segurei a mão dela, assim que ela se levantou para ir até ele.
- Não vá, mãe. Ele tá daquele jeito. - falei, com receio.
Meu pai trabalhava nos correios da cidade, só que nos anos 90 todo mundo já estava começando a usar e-mails e telefones, principalmente as grandes empresas, sem precisar enviar cartas. As únicas pessoas que ainda usavam esse método eram as desprovidas de dinheiro - pra não dizer pobres - e a maioria só ia quando precisava enviar um fax, que ainda assim era mais barato do que enviar uma carta, o que resultava em um ganho muito menor do que o homem à minha frente estava acostumado.
Como era começo de mês, ele provavelmente tinha recebido seu salário e não gostou nada do que viu, saindo para beber e gastar o pouco que tinha ganhado fazendo Deus sabe o quê.
Me sinto mal por pensar que talvez ele tenha até chegado a trair minha mãe com prostitutas.
Meu pai sóbrio era um homem de quarenta e cinco anos normal, não era violento e geralmente era bem paciente, isso quando estava de bom humor ou quando não desobedecíamos suas ordens estúpidas. Mas bêbado... ele não media a sua raiva, ou força e qualquer coisa o estressava.
Minha mãe me olhou e acho que ela conseguiu ver o medo em meus olhos, por isso apenas assentiu e voltou a se sentar.
Ela era a que mais sofria com os abusos do meu pai. Geralmente, ela nos protegia dele, entrava na nossa frente quando ia nos bater sem nenhum motivo e acabava apanhando por nós.
Eu lembro que uma vez quando eu era criança, ele já chegou a jogar uma xícara na minha direção, mas minha mãe entrou na minha frente como uma super heroína e a xícara acabou pegando na testa dela. A sorte foi que a senhora Han estava em casa e pôde ajudá-la antes que minha mãe sangrasse até desmaiar. Ela tem a cicatriz até hoje.
Eu tinha medo que algo assim acontecesse de novo.
Meu irmão apareceu na porta poucos minutos depois, com a blusa um pouco molhada.
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Coração Desastrado - MinSung
FanfictionEm seu aniversário de 25 anos de carreira, Lee Minho, um escritor renomadíssimo, decide escrever sobre as experiências que passou em sua adolescência. Minho em seus 17 anos, só fazia três coisas em sua vida: estudava, lia e escrevia. Ele era muito b...