09 - Soukoku

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Hachi abriu os olhos com um pouco de dificuldade. Sentiu uma dor nas costas e levou a mão ao local. Um pequeno curativo cobria o que parecia ser um ferimento. Ela estava deitada em um futon num pequeno apartamento com pouquíssima mobília.

Virou o rosto e viu Dazai sentado à observando. Se assustou ao vê-lo e tentou levantar.

-Fique deitada. Não tente levantar. Não foi letal, mas foi um corte fundo.

-Você! Não! - Ela se lembrou.

Levou a facada pelas costas e foi se esgueirando com dificuldade até chegar ao apartamento de Dazai, que era o mais próximo naquele momento e caiu em frente a porta dele.

-Você me ajudou.... Por que?

-Da próxima vez deixo você sangrar até morrer então.

-Obrigada. - ela disse sem graça.

-Temos uma excelente médica, mas acho que você não ia querer que ninguém soubesse de você ainda. Embora não tente esconder.

Ele pegou um documento de identificação que estava com ela.

-Misaki Miura?

-É o nome que... - Lembrou-se de Hiei, mas resolveu manter o nome dele em sigilo. - O nome que eu uso. Civil.

-Gosto mais de Hana.

-Idiota. - Ela observou ele sentado. - Dormiu sentado aí?

-Eu não dormi.

Hachi ficou assustada ao perceber que ele passou a noite em claro e que de algum modo isso não o afetava.

-Eu preciso sair agora, deve ter macarrão instantâneo, coma.

-Ok. Eu não vou ficar te esperando...

-Fique pelo menos até se recuperar... aliás, já tem um tempo que quero te perguntar... como você sobreviveu durante estes 7 anos?

Ela se assustou com a pergunta e ficou receosa em revelar. Poderia colocar a vida de Hiei em risco.

-Eu fugi. - Mentiu

-E sobreviveu sozinha por 7 anos? Que interessante.

-Sim...

-Ok. Tente não morrer.

-Não tem medo de eu te roubar?

-Não tem nada para roubar aí mesmo. Fique a vontade. E não beba todo meu saque!

-Não gosto de saque seu babaca!

Dazai ficou desconfiado. Algo estava faltando neste quebra-cabeças. Uma moça de boa família, rica, sobrevive a um atentado que matou toda a sua família, e fica sozinha por sete anos. Ele sabia que faltava algo, na verdade alguém.

O nome Alacran era desconhecido para ele. Principalmente pelo tempo que estava longe da Máfia. Ele resolveu procurar a única pessoa que poderia ajudá-lo naquele momento.

Marcou com a pessoa em um local movimento, por garantia. O homem era um velho conhecido, aliado em muitos momentos, inimigo para toda a vida. Um rival. O homem de pequena estatura esperava encostado próximo ao cais contemplando a vista de onde estavam.

-Está atrasado, Dazai.

-Sinto muito, foi uma emergência. Esperou muito Chuuya?

-Eu devia te matar! É claro que esperei!

-A gente vai ter que adiar nosso confronto por hoje.

Os dois, Chuuya e Dazai se conheciam a sete anos. Os dois fizeram parte da Máfia do Porto como aliados. Formaram uma dupla imbatível por muito tempo, Soukoku como eram conhecidos, até Dazai resolver abandonar a organização. Viviam como cão e gato. Eram simplesmente a contrapartida um do outro. Como duas faces de uma mesma moeda.

-O que você quer comigo? - Chuuya disse com desdém.

-Informações.

-Por que eu deveria te ajudar? - Chuuya não tentava esconder o ranço.

-Pelos velhos tempos.

-Tsc! Velhos tempos... não tem nada de bom com você.

-Enfim. Este aqui é um nome que eu quero que você veja, se já ouviu falar, ou conhece. - Dazai entregou o papel para Chuuya.

-Quem é? - Chuuya disse ao abrir o papel.

-Um estrangeiro. Fiquei sabendo que ele encomendou um trabalho a uns sete anos. Eu quero saber qual a organização deste homem.

-Mexicano?

-Como sabe?

-Alacran é escorpião em espanhol. E por ser máfia, provavelmente deve ser mexicano.

-Interessante.

-Eu vou ver pra você. De antemão digo que não sei, mas posso pesquisar a respeito. Saiba que não vai sair barato este favor. - Chuuya disse sorrindo debochado.

-Não se preocupe com isso! Comigo você só ganha!

-Raiva, rugas, estresse, canseira! - Chuuya fez cara de desagrado.

-Uma garrafa daquele vinho que você gosta!

-Idiota.

-Valeu Chuuya!

-Tanto faz!

Chuuya seguiu com o nome. Alacran. Ele se recordava vagamente de já ter ouvido este nome. Só não se lembrava onde e nem quando.

Dazai voltou para casa já tarde naquele dia. Havia passado no bar Lupin que sempre frequentava com mais dois amigos, um deles havia morrido a alguns anos e ele foi a razão de Dazai ter mudado de lado e abandonado a Máfia. Ele sempre ia aquele bar sozinho, pedia duas doses de Whisky e bebia uma. Andava pelas ruas até sua casa quando se deparou com Hachi caída no chão, cheirando a bebida, terrivelmente embriagada. Ele a levantou do chão e a carregou mas costas até seu apartamento. A jovem balbuciava algumas coisas sem sentido, e chorava como uma criança.

Para Dazai, embora fizesse pouco sentido, ele entendia o quão difícil pode ser lidar com certas perdas, e com o mundo cruel em que viviam. Ele deitou a moça no chão de lado, depois ligou o chuveiro e a colocou dentro da banheira com roupa e tudo. A água fria fez a moça despertar.

-Fria! F-fria!

-Acorda! Se vai dormir aqui, toma um banho pelo menos. Tirar essa inhaca de bebida!

-Vá se f-foder! - ela disse tremendo.

Ele foi no quarto pegou uma toalha e um pijama tenebroso e mangas longas e calça.

-Vista isso sua mal agradecida. Deveria ter deixado você na rua para morrer de hipotermia, ou para os cachorros urinarem em você.

Ele saiu para deixá-la a vontade. Ela tomou o banho com uma certa dificuldade. Saiu meio zonza pela casa e se deparou com Dazai sentado sem fazer absolutamente nada.

Ela se jogou no sofá ainda muito bêbada e apagou. Ele ficou um tempo olhando para ela e depois foi tomar banho também.

No dia seguinte a tradicional ressaca estava presente na vida de Hachi. Dazai já havia saído e deixou um pequeno bilhete.

Não tem nada para você comer. Se vira.

-Babaca.

Ela se levantou e viu que as roupas dela já secavam no varal. Ficou vermelha ao ver que ele se deu ao trabalho de lavar até as peças íntimas dela.

-Ridículo.

Ela andou pela casa e viu uma foto. Dazai alguns anos mais novo sentado em um balcão de bar com mais dois homens. Os três vestidos elegantemente de terno. Ela pensou se eram amigos, e em como um homem como ele poderia ter amigos. Pensando bem, ela não sabia nada sobre a pessoa dele. Apenas, o que nome dele representava.

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