13 - O coração é um caçador solitário

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Chuuya parou o carro em um local alto. De onde estavam dava para ver a cidade inteira. Ele gentilmente abriu a porta do carro para que ela descesse, encostou no capô e ficou contemplando a vista.

-E depois de me matar de tédio vai me jogar ribanceira a baixo? - Ela disse sarcástica.

-Não seja boba. Foi só uma desculpa para dar uma volta com você por aí. Eu não te vejo a impressionantes dois anos! Sabia que eu voltei no bar todos os dias por quase dois meses?

-Foi mal... - Ela disse constrangida.

-E tudo por uma coisa que eu nem tinha culpa! - O jeito dele falar era de alguém sempre furioso.

-Me desculpa. Eu fiquei transtornada.

-Você poderia ter pelo menos me dado seu número. - Ele disse desviando o olhar.

-Mas, era o nosso lance, né? A gente se via, se curtia e pronto.

-Pra você foi só isso? - Ele disse visivelmente chateado.

-Não... quer dizer. Eu pensei que era isso que você queria. Você é um executivo da Máfia! Romances não entram no vocabulário de vocês!

-Não somos animais! Nós temos sentimentos! E você magoou os meus! Nenhuma carta, nenhum bilhete pelo menos! - Chuuya parecia as vezes uma criança com medo de ser abandonado.

-Chuuya... me perdoa. De verdade. Eu... vivo assim...

-Por que?

-Porque é a única coisa que posso oferecer... - ela abaixou a cabeça. - Não sobrou mais nada.

-Então, você só tem seu corpo para me oferecer? Eu pensei que tinha seu sorriso, sua simpatia, o seu carinho.

Ela abaixou o olhar e ficou pensativa. Ele continuou:

-Tá vendo aquele local ali? - Ele apontou para um local mais baixo que parecia ser uma cratera.

-Sim. Suribachi.

-Eu surgi ali, no meio de uma explosão. Antes daquele dia, não me lembro de mais nada. Nem família, nem amigos. Tudo o que aprendi foi nas ruas. Eu não sou como você, que tinha família, pais. Eu não tinha nada. O meu poder é forte, sou um tipo de reencarnação de um Deus, ou algo do tipo. Isso é o que eu sou. O que eu tenho. E fora isso, eu sou o que? Mesmo assim me esforço para ser o melhor.

-Você é o Chuuya. Uma pessoa intensa.

-Isso é um elogio?

-Acho que sim.

Ela se aproximou dele e deixou que ele passar o braço em volta dela com um abraço. Ela se estremeceu com o toque dele e todas as lembranças dos momentos juntos vieram a sua mente.

-Eu acho que devo a você uma apresentação formal. - Ela disse olhando fixamente para seus olhos.

-Sou digno de confiança agora?

-Não há nada mais que eu tema neste mundo. Então, se você me matar quero que saiba quem eu sou.

-Hachi com certeza não é seu nome né?

-Não. É Hana. Ou pelo menos era. Antes de tudo. Hoje nos meus documentos está uma tal de Misaki. Mas, meu nome é Hana Sihadeko. Eu morava numa casa imensa num condomínio de luxo. Aí, um dia voltando pra casa da escola eu me deparei com minha casa em chamas com toda a minha família dentro. Hachibu foi o nome que o homem que me resgatou me deu. Aí ficou Hachi...isso foi a sete anos. Acostumei tanto com o nome que Hana as vezes soa estranho. E o seu nome? É Chuuya mesmo?

-Chuuya Nakahara. Mas, acho que você já sabe né?

-É. Eu sei. - Ela mantinha o olhar fixo nos olhos dele. E um por um breve instante lacrimejou.

Ele engoliu seco e ficou um bom tempo em silêncio, até dizer calmamente.

-Que tal a gente ir para outro lugar?

-Eu tenho uma missão para terminar, que inclusive você atrapalhou.

-Me desculpe. Eu não sabia que sua missão estava naquele bar. Vou te levar de volta. Mas, antes....

Ele a puxou pela cintura e deu um beijo intenso. O rapaz era pequeno mas tinha uma pegada tão forte que Hachi estremecia só de lembrar.

-Me leva de volta seu safadinho.

-Aqui, que tal se você passar a noite comigo hoje?

-Que proposta interessante.

Como o "colega de apartamento" de Hachi não tinha dia certo para estar em casa ela não se preocupou em avisar que passaria a noite fora. Depois de cumprir a missão e interrogar o garçom, ela foi direto para o apartamento de Chuuya.

O ruivo a recebeu com uma garrafa de vinho e um sorriso largo.

-Achei que não viria. - Ele disse a guiando para dentro de casa.

-Você é muito convincente.

-Vinho?

-Aprendeu a beber agora? Ou você ainda se embriaga com o cheiro?

-Não enche!

-Eu vou tomar só uma taça. Tô tentando maneirar na bebedeira.

-É bom também.

Ele se aproximou dela e deixou seu rosto bem próximo ao dela. Na maioria das vezes era um homem agressivo e nervoso, mas com ela, ele sempre estava calmo e sereno, como se a companhia dela o trouxesse paz, humanidade. Ele tocou o rosto dela com as mãos agora sem luvas, a camisa social meio aberta deixava o peito liso levemente a mostra. Ela passou a mão por dentro da camisa e com a outra a desabotoou lentamente, o corpo magro, porém forte do jovem rapaz veio a tona. Pálido, não devia pesar mais de 60 kg, o corpo coberto por algumas cicatrizes esparramadas, era o preço para quem arriscava a vida, o que não era diferente com ela. O contato visual entre eles era intenso e ela gostava disso. Ele tirou as roupas dela peça por peça deixando seu corpo nu a mostra, sentia vergonha como se fosse a primeira vez e depois ele a suspendeu do chão enquanto ela laçava as pernas em sua cintura, o poder de gravidade dele acrescentava e tirava peso de tudo o que ele tocava. Entre beijos e promessas de amor eles se amaram mais uma vez. Hachi se deixava levar quando estava com ele, como se mesmo sabendo que tudo poderia se acabar em um piscar de olhos, ela queria que aquele momento durasse a vida toda.

Ele a abraçou fortemente, as vezes parecia uma criança carente de amor e de afeto. Quando ele adormeceu Hachi saiu silenciosamente no meio da noite, deixou um bilhete pedindo desculpas e o número de telefone.

Ela queria aproveitar mais aquele momento, os sentimentos que tinham um pelo outro, mas no fundo de seu coração Hachi se sentia mal. Sentia-se culpada. Por mais que ela e Dazai não tivessem rotulado o que tinham, era como se ela estivesse traindo ele, porque os sentimentos que estava desenvolvendo por ele também eram intensos e ela se odiava por isso.

Ela chegou discretamente no apartamento de Dazai como uma criança levada que aprontou na escola. Torcia para que ele não estivesse em casa.

-Oi! - Ele disse com a voz serena de sempre.

-Oi... - Ela disse receosa.

-Onde estava? Normalmente não fica até tão tarde fora de casa. Passei nos bares de costume e não te encontrei

-Eu... estava com um amigo...

-Hum... - A expressão dele ficou séria.

-Eu... perdi a noção do tempo.

-Não me deve explicações, Hana. - Ele abaixou o olhar para o livro que lia e ficou em silêncio.

Ela entrou para o banheiro e ficou embaixo do chuveiro chorando sem parar. O coração dela doía de um jeito diferente. Ela se incomodava com a forma como ele havia olhado para ela, se importava com o que ele sentia, mesmo no fundo de seu coração ela quisesse odiá-lo, ela estava começando a sentir coisas que não queria.

Talvez fosse amor e ela não sabia.

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