O tempo fechou completamente. Quando me despedi de Michael já era tarde e eu sabia que não ia chegar antes da chuva. Estávamos no meio do caminho quando o temporal começou.
Apesar de gelada, a chuva era confortável e me trazia uma paz que eu não conseguia explicar. Confesso que não seria problema algum pegar um forte resfriado e não ir ao baile, não é como se Michael fosse ficar sozinho e deslocado, mas eu sabia que devia isso a ele por todas as mentiras que ele sustentava em meu nome.
Quero vê-lo feliz e se pra isso eu preciso passar uma noite em um baile cheio de moças querendo dançar comigo, eu farei isso.
Cheguei ao casarão e fui direto com Apolo para o estábulo. A chuva ainda era forte e o cocheiro devia estar com os outros protegido da chuva na cozinha. Prendi Apolo em sua baia e coloquei um pouco de feno, era importante alimentá-lo depois de pequenas viagens como essa. Afinal, ele não era mais tão novo e forte quanto antigamente.
O vento forte faz eu sentir frio assim que saio do estábulo e minhas botas fazem barulho no chão de pedra cheio de poças. Resolvo entrar pelos fundos, pela porta da cozinha, para não sujar a sala principal toda com a lama das minhas botas.
Assim que abro a porta, algumas criadas se assustam imediatamente.
— Arquiduque, o senhor está encharcado! — uma delas esclama. — Emma, vá buscar uma toalha seca.
Observo Emma me encarar, parecendo impressionada e isso faz meu ego inflar um pouco. Sei que estou em forma e que sou mais bonito que a média dos homens, não vou mentir que gosto de ser admirado pelas mulheres. Mas também tenho um acordo comigo de que não me deito com mulheres que trabalham pra mim, então, mantenho a postura sempre que estou em casa.
A cozinheira pega um balde e jogo minhas botas e meias dentro dele, afrouxando os botões da camisa branca que eu estava usando em seguida. Emma traz a toalha e dou um sorriso em agradecimento, o que a faz corar imediatamente.
— Preciso de um banho, tem como preparar um pra mim lá em cima? — peço e prontamente vejo uma movimentação para atender meus desejos. — Minha irmã ainda está tomando chá?
Nem espero pela resposta e saio da cozinha, meio seco e meio molhado em direção à sala de chás. Abro a porta sem cerimônia e a impressão que causo não é tão boa quanto eu esperaria.
A Madame Irwin está sentada na poltrona favorita da minha mãe e ela dá um grito suave assim que põe os olhos em mim, agora com o tórax e abdome todo exposto pelos botões abertos da camisa. Mali faz uma cara feia e ajuda Flora Irwin a se virar para não me ver.
Apesar disso ainda sinto a pele esquentar e logo localizo o par de olhos castanhos do outro lado da sala. Heather me encara de forma aparentemente inexpressiva, mas algo em mim parece arder.
Rapidamente, seu olhar se desvia para minha irmã e é como se Mali desse alguma instrução não verbal para Heather que se levanta rapidamente e vem na minha direção, me empurrando com suas mãos pequenas sem delicadeza pra fora da sala e fechando a porta em seguida.
— Ei, onde está a sua educação, mocinha? — a repreendo e ela dá uma boa olhada no meu torso exposto antes de me encarar com seus olhos ariscos.
— Cadê a SUA educação, sua graça? — ela ruge. — Sei que está na sua casa mas há damas sensíveis a quem você precisa respeitar, não pode andar como se estivesse em seu quarto privativo.
Ergo uma sobrancelha e sustento o olhar no dela, mordendo um lábio em seguida.
— Uma das damas é a minha irmã e eu não tinha ideia de que a Madame Irwin estava aqui, se não teria repensado meus modos.
Heather está perto de mim e sou alto o suficiente para conseguir enxergar pelo decote suave do vestido dela. De repente não estou mais com frio.
— E quanto a mim, Calum? Não acha que sou uma dama que merece respeito?
Agora, parece que peguei no seu ponto fraco. Heather não é frágil e sabe muito bem disso, poucas coisas abalam uma mulher que segurou seu irmão sem vida nos braços. Dou um passo pra frente e ela um pra trás, ficando levemente encurralada entre a parede e eu. Deixo um sorriso de satisfação aparecer, dessa vez sem filtro algum.
— Você é a exceção — deixo o rosto chegar perto do dela —, totalmente imune ao meu charme, senhorita Campbell.
Ouvimos um barulho no corredor. Me afasto dela e fecho alguns botões da camisa. A criada Emma aparece e parece envergonhada por interromper o que quer que estivesse acontecendo. Ela entra na sala de chá e o corredor fica novamente silencioso, mas parece apertado comigo e Heather aqui.
— Você é desprezível — ela usa o seu tom mais amargo pra me insultar e vai até a cozinha pisando duro.
E eu vou para o segundo andar, tomar meu banho antes que a água fique fria demais e eu pegue uma pneumonia. Assim que chego ao quarto e vejo o mordomo, o agradeço pelo banho.
Sinto um pesar no peito antes de anunciar os planos dos próximos dias.
— Vou precisar que tire a roupa de baile do sótão, Gaston, decidi ir ao Baile de Primavera e preciso dela impecável.
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baile de primavera | cth
FanficHeather Campbell é uma jovem de personalidade forte que não faz questão nenhuma de preencher as lacunas que a sociedade impõe à ela. Calum Hood é um libertino do pior tipo, aquele que se orgulha da sua solteirice mas por trás de todo o discurso anti...