HEATHER
O jantar na mansão Hood era sempre um banquete e eu nunca deixava de me impressionar com isso.
Para Calum e Mali, as refeições eram quase sagradas e, invariavelmente, eles as faziam juntos como uma família de verdade. Isso sempre me perturbou um pouco, afinal, eu e Oliver nunca fomos tão regrados dessa forma. Pelo menos não me restava dúvidas do quanto eu amava o meu irmão e do quanto, agora, sinto a falta dele.
Gaston serve a mesa, Calum se senta em uma das pontas, como o grande chefe de família que era, e eu e Mali cada uma em um de seus lados. Nem espero ele se servir e começo a colocar comida no prato.
— As boas maneiras mandaram lembranças — o tom brincalhão dele invade a sala.
— Me desculpe, queria que eu te servisse primeiro, sua graça? — uso meu tom falso e inocente, Mali deixa escapar uma risada.
— Não é de se surpreender que está disponível até hoje — Calum diz, tentando me aborrecer, mas por baixo da mesa estica uma das pernas, encontrando a minha. — Insolente como o diabo.
Dou um sorriso e movo minha perna em um carinho discreto.
— Não é pra quem quer e sim para quem pode.
— E quem é que está querendo recentemente, além do maluco do Marquês Hemmings?
De repente, um silêncio estranho circunda a sala de jantar, mas Mali não consegue segurar a risada por tempo suficiente.
— Se você soubesse o que ela fez com o coitado do Niall hoje... — Mali diz, com a fala entrecortada pelas risadas. — Calum, ele ofereceu flores pra ela, queria acompanhá-la até o parque...
— Conte a história direito! — reclamo e Mali ri ainda mais.
Os olhos de Calum me encaram curiosos e, por um momento, me sinto intimidada. Mas a sensação passa rápido, Calum não tem nada o que opinar na minha vida.
— Em resumo — eu começo —, Niall nos interceptou quando estávamos saindo de uma loja de vestidos, estava com flores e uma pequena caixinha de chocolates. Aos berros, ele me convidou para ir ao parque. É óbvio que eu ia dizer não... já não bastava ele passar vergonha sozinho assim, precisava gritar pra eu passar vergonha também?
Agora Calum também estava rindo, uma risada gostosa que ecoava junto com a de Mali pela grande sala de jantar.
— Já imagino você fechando a cara e falando pra ele 'obrigada, tenho pernas pra ir sozinha se eu quiser, não preciso de companhia' — Calum me imita e eu odeio admitir que ele me conhecia tão bem nesse ponto.
Mali riu mais alto.
— Foi quase isso! — ela berrou de volta — Heather olhou pra ele e disse 'Obrigada Niall, mas não preciso de companhia. Além disso, eu não sou surda'.
Ela me imitando foi o ponto alto do jantar e todo o clima ficou mais leve. Eu amava estar com os Hood, me lembrava dos tempos em que éramos crianças e basicamente eu morava aqui com eles. Tudo era uma festa, mesmo em dias em que brigávamos.
A perna dele novamente encostou na minha e ali ficou, aquele ponto de intersecção quente que fazia minha cabeça dissociar a cada garfada que eu dava na comida. De tempos em tempos ele discretamente colocava a mão esquerda embaixo da mesa e passava a mão no meu joelho por debaixo da mesa.
Calum sabia me deixar maluca com pouca coisa. Com quase nada.
— Mas agora é sério, preciso da ajuda de vocês — o tom dele muda de repente. —, o Visconde Clifford quer comprar um presente especial para a Senhorita Mary, algo que ela queira muito e são vocês que vão descobrir algo especial à altura.
Mali concorda sem protestar e posso ver a animação tomar conta do rosto dela, mas algo nessa proposta soava incompleto e pensei nisso durante todo o jantar.
Enquanto terminávamos a refeição, ela já tinha criado diversas possibilidades para descobrirmos o que vai agradar Mary.
Mas eu não vou me dar por vencida tão cedo.
Assim que Mali termina seu prato e nos pede licença deixando eu, tomando uma taça de vinho seco, e Calum, mordendo a última coxa de frango, decido deixar que ele saiba que esta tarefa não saíra de graça.
Não pra mim.
— E o que vou ganhar com isso? — falo com certa petulância e ele ergue as sobrancelhas pra mim. — O Visconde Clifford com certeza vai te dar algo em troca por esse favor bem específico.
Calum sorri como quem deixa entender que cutuquei exatamente o ponto certo.
— Gostaria de saber como você sempre sente o cheiro de bons negócios, Senhorita Campbell — ele ri.
— Na verdade, eu sinto cheiro de coisa oculta, sabia que essa história estava mal contada — eu retruco.
— Michael me permitiu usar a sua casa de Hastings por três dias e levar de acompanhante quem eu quiser — mais uma vez a mão dele desliza por debaixo da mesa e sinto um aperto gostoso no meu joelho. — Ouviu bem? Quem eu quiser...
Apesar do tom de voz dele, especificamente, não carregar safadeza nenhuma, essa frase reverberou na minha cabeça com todos os duplos sentidos possíveis.
— E onde eu entro nisso, sua graça? — comento e beberico o vinho. — A não ser que já esteja planejando a nossa lua de mel antecipadamente.
— Ele me prometeu que eu poderia levar quem eu quisesse e ele me encobriria — os olhos castanhos dele me encaram. — O que significa que quero que você vá comigo.
— O problema não é encobrir você, Calum. Ninguém liga pra onde você está, qualquer desculpa serve. Agora não sei de onde você tirou que seria possível me tirar de cena sem que ninguém notasse — reduzo o tom. — Sua irmã mesmo seria capaz de arrombar a minha casa se eu não aparecer por um dia.
— Você precisa confiar nos meus métodos, milady.
Encaro a sua boca por mais tempo do que deveria e do que seria permitido em uma mesa de jantar. Ele sorri e algo dentro de mim me diz que eu deveria fugir o mais rápido possível, mas permaneço onde estou.
— Esse é o grande problema, eu não sei se confio em você.
— Se quiser ter o que deseja, precisa confiar.
Um novo apertão no meu joelho e sinto um calor subir por todos os lugares do meu corpo.
— Vamos dizer a minha irmã que você vai visitar uma tia e, como estarei indo na mesma direção, curiosamente, posso te oferecer um transporte seguro até lá.
— E os criados?
— Iremos só nós dois. Eu. Você. Uma carruagem. A casa de verão de Hastings do Visconde Clifford. Não vai se arrepender Heather.
Eu só podia estar ficando maluca. Calum e eu, em uma carruagem, sozinhoe. Isso nem era permitido. Vamos estar violando pelo menos umas cento e cinquenta regras.
Respiro fundo e considero rapidamente os prós e contras da situação. Até que pode dar certo, mas isso talvez me custe uma reputação. Será?
— Tá, eu topo — sinto meu coração se acelerar. — Quando?
— Assim que eu tiver o que eu preciso: o presente mais incrível do mundo para a Senhorita Mary.

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baile de primavera | cth
FanfictionHeather Campbell é uma jovem de personalidade forte que não faz questão nenhuma de preencher as lacunas que a sociedade impõe à ela. Calum Hood é um libertino do pior tipo, aquele que se orgulha da sua solteirice mas por trás de todo o discurso anti...