oito

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CALUM

— Eu juro por Deus que eu vou acabar com você quando formos pra casa — Mali me ameaça —, dá pra pelo menos você sorrir e não fingir que é como se estivéssemos marcando você com ferro em brasa?

Olho para minha irmã e dou um sorriso mais falso do que meu entusiasmo em estar aqui. Eu odeio bailes e, agora que o objetivo já está cumprido, Michael está dançando com Mary pela quinta vez, eu acho. Não tem mais o que eu fazer aqui, mas Mali se recusa a me liberar.

Então, pra completar, eu avisto o Marquês Hemmings dançando com Heather e fecho a cara de vez. O olhar dele se cruza com o meu e o vejo sorrir. Lembro do que ele nos disse no Wine, sobre ter interesse em se casar e uma parte de mim sente ciúmes dele com Heather, seria como ter ouvido ele dizer essas coisas e na noite seguinte estivesse paquerando e dançando com a minha irmã.

— Quer prestar atenção? — Mali me repreende e volto a olhar pra ela. — Pare de encarar Heather e o cavalheiro, você está dançando comigo agora, na próxima pode dançar com ela se quiser. Não vou mais ser a sua desculpa para não dançar com as debutantes e olha que elas nem se importariam se você pisasse nos pés delas como está fazendo com os meus.

Minha irmã parece aborrecida, me dá outro olhar de reprovação e decido seguir seu conselho. Assim que terminamos aquela valsa, caminho até Heather e o Marquês quando eles estão se retirando da pista. Os dois estavam rindo de alguma coisa, sobre o que será que estavam conversando?

— Lady Campbell, me daria a honra? — ela vira a cabeça na direção da minha voz e pela careta que está fazendo quase consigo ouvir a resposta mal criada que ela elaborou em sua cabeça, isso quase me fez sorrir.

— Claro — ela resmunga e se vira para o Marquês. — Obrigada pelas valsas, Marquês Hemmings, o senhor é um excelente dançarino.

O violino começa, sinto meu corpo queimar ao menor toque e Heather segura em uma das minhas mãos parecendo tensa. Eu a trago para perto como se minha vida dependesse disso.

— Você jura por Deus que não está me usando de estepe porque não quer dançar com suas pretendentes? — Heather quase cospe, de tão irritada.

— Não sei por que a irritação, querida, achei que o Marquês tinha feito você feliz enquanto dançavam — uso meu melhor tom de deboche e ela me fuzila com os olhos. — Mas sério, eu precisava de você, Heather, elas iam me comer vivo.

Nos aproximamos e nos afastamos conforme os passos da dança e quase foi possível ver ela sorrindo com meu comentário.

— Fico te devendo essa, prometo — falo baixinho para que só ela escute e recebo em troca um pisão com o saltinho do sapato. — Se continuar sendo mal educada, vou dizer para o Marquês que você odeia os homens de qualquer estirpe, então suas chances com ele estarão acabadas.

— E porque você precisaria dizer isso? — ela franze o cenho, me enfrentando. — Aliás, ao contrário do que parece, ele não parecia querer me cortejar. Estava só sendo gentil, coisa que parece que nunca te ensinaram ao longo da vida e olha que você é irmão da Mali, a pessoa mais gentil que eu conheço.

Ergo minhas sobrancelhas e a seguro para o próximo movimento, um meio rodopio que termina comigo a segurando nos braços. Assim que o terminamos, consigo finalmente olhar nos olhos dela.

— Está brava comigo por que atrapalhei o seu lance com o Marquês? — pergunto, de forma sincera.

— Não, estou brava por que você não queria dançar comigo, apenas não queria dançar com elas — ela balança a cabeça na direção das mocinhas ao redor da mesa do ponche e consigo por um segundo ver seu olhar triste. — Ninguém nunca pede minha mão para uma valsa, Calum, e quando isso acontece, sou obrigada a interromper o momento e dançar com você, já que nenhum deles tem culhão para bater de frente com você.

baile de primavera | cthOnde histórias criam vida. Descubra agora