HEATHER
Alguns dias se passaram desde que Calum entrou no meu quarto no meio da noite, do dia que nos beijamos no toalete da mansão dos avós da Senhorita Mary, de que dançamos sozinhos no jardim antes de sermos interrompidos pelo Marquês Hemmings e, mesmo assim, eu não conseguia parar de pensar nele.
Era como se minha mente estivesse envenenada e isso era algo ruim. Muito ruim.
A rotina continuou a mesma, os chás da tarde e passeios ao parque com Mali, Madame Irwin e as outras damas da sociedade de vez em quando seguiram acontecendo e, sim, continuaram sendo uma chatice. Eu não me interessava por nada disso.
Queria apenas ler meus livros em paz, pode cavalgar até os campos de flores perto de casa e, de preferência, passar um tempo sem ouvir a palavra casamento saindo da boca de alguém.
Agora, estou sentada em uma poltrona macia na mansão dos Hood, rodeada de damas enquanto tomamos chá. Tento ao máximo me concentrar na leitura, como se fosse impossível desviar o meu interesse das páginas, enquanto escuto elas conversarem sobre a decoração do casamento da Senhorita Mary.
Silenciosamente, me pergunto por que todas temos que nos envolver no planejamento. O ócio do nosso ofício estava tão ruim assim que precisamos encontrar o que fazer a todo custo pra ocupar nossa mente?
Quer dizer, o ofício delas. O meu está bem ocupado, ainda bem.
Pelo canto do olho, vejo Gaston, o mordomo dos Hood, andando impacientemente de um lado para o outro no cômodo ao lado. Fico na dúvida se ele só está entediado, enquanto espera Calum chegar se sua cavalgada ou se há alguma outra coisa o perturbando.
— O que você acha desta cor, Lady Campbell? — uma doce voz chama minha atenção.
— Perdão, Senhorita Mary, eu estava tão mergulhada nas aventuras deste livro que não estava prestando atenção.
Mali levanta uma sobrancelha pra mim e percebo que era uma desvantagem estar com a sua melhor amiga na mesma sala que você quando você claramente está contando uma mentira.
— Queria saber sua opinião sobre o vestido das madrinhas para o meu casamento, já que a senhorita provavelmente será uma delas, gostaria de saber que cor lhe apetece mais, para que possamos entrar em um consenso e eu possa escolher uma que fique bonita em todas vocês.
Mary era muito generosa e dava pra ver que cada detalhe de sua união com o Visconde Clifford era cuidadosamente pensada para deixar todos a vontade e felizes com o casamento.
— É muita gentileza sua, Mary — tomo a liberdade para chamá-la apenas pelo primeiro nome. — Por mim, a senhorita pode escolher qualquer cor, estar bela ou não é algo de mínima importância pra mim, sua felicidade vem em primeiro lugar.
— Ora, mas não fale assim Lady Campbell, ainda mais quando tem sido tão requisitada — Madame Irwin me repreende e eu não evito a gargalhada que sai da minha garganta assim que ela usa a palavra 'requisitada'.
Mali me encara com uma careta.
— Madame Irwin, a senhora não pode contar piadas de mal gosto dessa forma, na frente de todas essas damas — uso meu melhor bom humor. — Eu não era requisitada nem quando debutei, agora então...
Agora é a vez da Madame em fazer uma careta e, por trás dela, vejo Gaston caminhando até a porta principal. Segundos depois, botas pesadas ecoam pelo corredor principal e a figura esguia de Calum surge pelo arco que separa o corredor da sala principal bem a tempo de ouvir a Madame fazer seu comentário.
— Pois saiba que não estou fazendo piada alguma Heather, minha querida, o Marquês Hemmings tem perguntado muito por aí sobre a senhorita e nada tira da minha cabeça que há um interesse genuíno dele em você.
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baile de primavera | cth
FanfictionHeather Campbell é uma jovem de personalidade forte que não faz questão nenhuma de preencher as lacunas que a sociedade impõe à ela. Calum Hood é um libertino do pior tipo, aquele que se orgulha da sua solteirice mas por trás de todo o discurso anti...