cinco

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HEATHER

Dois dias depois do inconveniente com Calum e a Madame Irwin, as coisas voltaram aos eixos. Conseguimos convencê-la a perdoar Calum pelos péssimos modos e Mali deu uma bronca digna de livro nele.

De quebra, no meio da discussão, Mali disse que ia o punir obrigando que ele fosse ao baile. Ele pareceu bem revoltado no dia, mas depois descobrimos com o mordomo que ele já estava planejando ir. Ou seja, mais um ato de manipulação à moda clássica de Calum Hood.

Eu nem sequer estava surpresa.

— Está perdida em seus pensamentos mais uma vez, querida? Não me diga que estava pensando no chá novamente? — a voz animada da Madame Irwin ecoou dentro da minha cabeça. — Você não vai experimentar nada? Acho que este azul claro vai ficar perfeito em você.

Abro minha boca, mas a voz de Mali sai antes que a minha.

— É claro que ela vai, venha Heather, experimente o vestido que a Madame sugeriu — Mali segurou no meu braço me puxando com delicadeza da poltrona. — Você não vai sair daqui sem um vestido novo.

Enquanto vou ao provador circular com ela, para que a modista me ajude com o espartilho, resmungo assim que percebo que Madame Irwin não pode nos ouvir.

— Mali, pra que isso? Você sabe que não vou ao baile procurar um marido, as coisas estão bem do jeito que estão. Um vestido novo vai me consumir dinheiro que posso usar em algo útil, como os negócios da família ou doar para a caridade.

— Isso não é o problema, os negócios vão ficar bem e você já doou uma grande quantia para o orfanato das crianças no mês passado — olhamos as duas no espelho enquanto a modista fazia alguns ajustes com o alfinete para que o vestido se adequasse ao meu tamanho.

Me observei com calma.

O espartilho é meia taça, o que significa que empina meus seios mais do que o habitual, combinando com o decote em U do vestido, ergo as sobrancelhas com a visão. É ousado como nunca usei antes. O busto tem um tecido com pontos brilhantes em tule que vem por cima do cetim azul bebê.

A modista me entrega as luvas brancas e me ajuda a colocá-las.

— Mademoiselle, está perfeita — todas agora estamos olhando hipnotizadas pela minha imagem no espelho.

— Meu Deus! — a Madame Irwin se juntou a nós. — Eu disse que esse tom ia ficar maravilhoso em você.

Perco a fala e, mais uma vez, Mali fala por mim.

— Desmonte-a, vamos levar! — ela estendeu o braço na minha direção fazendo eu me calar. — Coloque na minha conta. Sem mais.

Assim que eu estava com o vestido que fui, ajudando Madame Irwin a escolher um tom que lhe agradasse. Prestei atenção no ambiente. Todas as jovens estavam animadas com o baile de primavera, escolhendo vestidos para o seu grande dia de debutar.

— Mary, venha cá, olhe este tom.

Uma matriarca mais velha guiava a jovem pequenina e loira até um vestido vermelho. Uma cor um pouco não usual para uma debutante, mas as modas tem mudado a cada temporada e, se fossemos julgar todas pelas cores, eu estava usando a cor de uma virgem casta a procura de alguém que me leve pro altar.

Não consigo conter a risada, chamando a atenção da matriarca e sua jovem.

— Algum problema, senhorita? — a matriarca endurece a voz.

— Nenhum, madame, estava pensando e me ocorreu sobre cores de vestidos — sou sincera e aceno para Mary —, inclusive, acho que vermelho é uma ótima escolha, deveria experimentar.

A jovem sorri pra mim e corre ao provador com a matriarca. Todas as jovens deveriam ser encorajadas a usar a cor que lhe apetecer mais.

Passamos mais um tempo na boutique e depois fomos ao parque, aproveitar o sol e o cair da tarde. Eu estava feliz, Mali reascendeu uma coisa em mim que eu nem lembrava mais que podia existir.

Eu me senti bonita e esse era o objetivo do baile, fazer com que todas nós nos sentíssemos, além de tudo, bonitas e desejáveis.

baile de primavera | cthOnde histórias criam vida. Descubra agora