HEATHER
Quando chegamos à casa do Visconde Clifford, estava um atmosfera leve e alegre. Todos estavam animados com a ideia do casamento que viria dali alguns dias, após finalmente todas as decisões serem tomadas pelos noivos. O mordomo dos Clifford tratou Calum como se ele fosse da casa e eu comecei a prestar atenção em todos os detalhes.
Era uma casa de veraneio muito bonita, com detalhes em madeira branca e uma varanda que circundava toda a construção. Havia flores por todos os lados, fato que combinava com a personalidade romântica do Visconde e que, com certeza, a Senhorita Mary ia se apaixonar assim que visse.
Afinal, essa seria a futura residência dela.
Assim que entramos, me certifiquei em procurar com o olhar algum sinal de biblioteca, se vamos presenteá-la com um livro, seria bom que ele tivesse mais a oferecer para ela.
— Ela é sempre assim? — escuto uma voz sussurrar e me viro para ver o Visconde me encarando, enquanto Calum deixa um sorriso iluminar o seu rosto.
— Não, acredite, de vez em quando é ainda mais esquisita — ele sussurra de volta, com os olhos em mim e algo me diz que ele tem certeza que consigo ouvir perfeitamente o que ele está dizendo.
— A que devo a honra da visita, Senhorita Campbell?
Faço uma reverência curta e com um pigarro, introduzo finalmente o assunto.
— Boa tarde, sua graça, vim trazer novidades sobre o presente que gostaria de dar para a sua noiva — digo em um tom polido e vejo o Visconde arregalar os olhos.
— Eu não acredito que você contou pra ela — ele cerra os lábios e me dá um sorriso sem graça, então, vejo a oportunidade de me aproximar.
— Sua graça, acredite, contar pra mim foi extremamente esperto da parte do Arquiduque Hood. Chegaram onde deveriam: na pessoa que poderia resolver isso por vocês — digo no meu maior tom de orgulho. — Mas se sua graça acredita que não precisa dos meus serviços, posso ir embora levando as informações que tenho.
Calum dá uma risada e se senta em uma das poltronas, sem nem esperar a resposta do Visconde Clifford.
— Desembucha, Heather, com o Michael não precisa desse tanto de formalidade — ele me estimula em um tom sarcástico.
Levanto uma sobrancelha questionando a atitude de Calum, mas só me sento quando o Visconde faz um sinal com a mão para que eu me acomode e se senta também, ao lado do amigo de longa data.
— Pois diga o que precisa dizer, madame.
— A Senhorita Mary me contou a última vez que a vi, que o sonho de sua vida é ter um exemplar de Romeu e Julieta, uma das primeiras edições que, curiosamente, se encontra na biblioteca nacional, sabe? — questiono e vejo a expressão dele como se estivesse pensando em alguma coisa. — Aquela que fica próxima ao parque.
O Visconde concorda com a cabeça e em silêncio, deixa que eu continue o meu raciocínio.
— Sei que pode ser um pequeno transtorno adquirir esse material, afinal, roubar patrimônio público é passível de cárcere e seria desastroso se Sua Graça fosse parar atrás das grades por amor.
— Isso é um ponto importante — ele concorda.
Os olhos amendoados de Calum me encaram enquanto ele passa uma das mãos pelos lábios, de forma que quase me desconcentra.
— Eu pensei que podíamos ir à biblioteca juntos, de forma que um de nós cause uma distração, um vigie os guardas e o outro pegue o livro — informo, gesticulando com as mãos. — Parece simples, mas a arquitetura da biblioteca não facilita, já que os corredores onde os exemplares mais raros ficam estão cercados de guardas e sempre há um zelador rondando as prateleiras.
— Mas no tempo certo, é possível... — Calum diz, com uma leve animação em seu tom de voz.
O Visconde Clifford deixa o rosto cair sobre as mãos, enquanto parece pensar na nossa proposta. Calum se inclina na direção dele, pousando uma das mãos em seus ombros.
— As chances disso dar errado são mínimas, Mike — ele usa um apelido em um tom que beira o carinhoso com o amigo. — Pense, é a sua chance de provar ao amor da sua vida o quanto você a quer fazer feliz.
— Eu sei, é que não posso simplesmente ir para atrás das grades antes de me casar, seria um vexame completo!
Me compadeço dele.
É claro que não é difícil agradar uma moça da alta sociedade como a Senhorita Mary, afinal, ela está apaixonada o suficiente para que uma simples flor presenteada de forma proposital a combinar com o seu vestido já seria o suficiente para deixá-la encantada. Não precisaria de extravagâncias quanto roubar uma primeira edição de Shakeaspere.
— Tudo bem, vamos reconhecer o território na biblioteca nacional essa semana e aí decidimos com mais propriedade o que faremos — o Visconde diz e meu olhar se encontra com o de Calum quando sorrimos um pro outro.
A volta pra casa foi ainda mais tranquila que a ida. Calum e eu optamos por irmos de cavalo ao invés de carruagem, então, quando estávamos quase perto da mansão dos Hood, decidimos apostar uma corrida. Algo inocente, mas que poderia ter terminado de forma trágica. Reunir duas pessoas extremamente competitivas não era uma boa ideia, fora o fato de que uma dama andando a cavalo em alta velocidade não ser considerado bons modos.
Disparei com o meu cavalo sem nem piscar e, muito menos, ter medo da velocidade ou de acabar do outro lado da cerca. Calum estava logo atrás, colado em mim com o seu cavalo branco. Por poucos centímetros, atravessei o portão de entrada antes dele e foi me dada a vitória. O mordomo saiu às pressas pela porta de entrada para ver o que estava acontecendo, mas logo voltou pra dentro da casa quando viu que éramos só nós dois tentando nos divertir.
Nos dirigimos para o estábulo e, por alguma razão, o empregado que fica responsável por cuidar dos cavalos não estava lá. Deve ter ido à feira comprar frutas para os animais ou algo do tipo. Quando desci do meu cavalo e o amarrei perto da grande tina, para que ele pudesse beber água e comer se desejasse, senti o meu rosto arder pelo calor. Apostar corrida em um vestido de manga longa, com o sol da tarde no meu rosto pode não ter sido das minhas ideias mais brilhantes.
Calum fez o mesmo com o seu próprio cavalo e se aproximou de mim devagar, com um sorriso torto no rosto.
— Bela corrida, Campbell — ele diz e noto que suas bochechas também estão vermelhas do sol.
— Obrigada, Arquiduque — faço uma meia reverência, segurando a barra do meu vestido.
Calum dá alguns passos na minha direção.
— Acho que vamos conseguir convencer o Visconde a roubar um livro raro — ele ri. — Adoro a sua capacidade de elaborar planos mirabolantes.
Olho para os lados, procurando algum sinal do caseiro e quando me certifico de que estamos completamente sozinhos me inclino na direção dele, deixando um beijo rápido e casto na sua boca.
Quando me afasto, ele me olha surpreso, com um sorriso discreto no rosto e, assim, começo a caminhar na direção da mansão com uma sensação incrível de dever cumprido.
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baile de primavera | cth
FanfictionHeather Campbell é uma jovem de personalidade forte que não faz questão nenhuma de preencher as lacunas que a sociedade impõe à ela. Calum Hood é um libertino do pior tipo, aquele que se orgulha da sua solteirice mas por trás de todo o discurso anti...