baile de primavera | cth

três

HEATHER

O vento lá fora sopra com força e o tempo fechou na última meia hora, mas por enquanto nada de chuva. A Madame Irwin se juntou a nós para o chá da tarde e agora conversa alegremente com Mali sobre a programação dos próximos fins de semana. As duas estão animadas para o Baile de Primavera como se fossem debutantes e eu, bom, não me animo com isso desde que era uma debutante.

— O que você acha, senhorita Campbell? — a madame me chama de volta a conversa, provavelmente percebendo minha distração.

— Me perdoe, madame, me distraí com o chá e não prestei atenção, do que falávamos?

Mali dá uma risadinha e leva a xícara a boca, mas opina sobre meu estado de espírito antes de deixar que Flora fale.

— Heather está distraída por que Calum está fora de casa, parece que o tempo lá fora está ficando instável, não é querida? — ela me alfineta e odeio a Heather do passado por ter deixado escapar que morria de amores pelo seu irmão mais novo.

Anotado: nunca mais falar sobre Calum na presença de Mali.

— Eventualmente me preocupo com o paradeiro do seu irmão, sua graça, mas creio que ele deve estar muito bem acompanhado principalmente se o Visconde Clifford tiver cobertores grossos para lhe cobrir, não?

Mali começa a rir, entendendo exatamente o que quero dizer e o olhar de Flora varia entre nós duas. Calum é um mulherengo e não faz nem questão de esconder, então, não é novidade pra nós que ele use essa desculpa ridícula de que vai visitar o Visconde Michael Clifford toda vez que quer se enroscar com alguma sirigaita.

Reviro os olhos e dou um sorriso sem graça para Flora.

— Onde estávamos, madame?

— O Baile de Primavera — ela continua —, vai ser daqui alguns dias e estamos combinando de ver vestidos na loja francesa, aquela próxima ao parque principal, sabe?

Balanço a cabeça, sei que loja é e também me recordo de ser a mais luxuosa da cidade. Por mais que eu não viva mal com meu dote, ainda mais sendo uma moça que mora em Londres sem a presença dos pais ou de uma figura masculina, não tenho certeza se quero gastar dinheiro com um vestido específico para o baile visto que não estou procurando um marido e não estou debutando.

— Posso ir para acompanhá-las, sem dúvida — respondo e levo a xícara de chá mais uma vez a boca, sentindo os olhos castanhos de Mali em mim.

Ela me conhece e sabe muito bem o que quero dizer quando falo isso.

— Combinado então, eu aviso vocês dos detalhes.

O fogo da lareira queima rápido e as duas retomam sua conversa a respeito do baile, com lembranças do dia em que conheceram o amor de suas vidas. Eu, por outro lado, me concentro na janela lá fora e fico pensando no por que estou topando ir nesse evento, provavelmente só para fazer companhia à Mali, quase como sua criada.

Respiro fundo e me lembro que devo muito à ela, principalmente depois que Oliver faleceu. Apesar de tudo, é por ela me amar como uma irmã que eu ainda faço suas vontades sem questionar muito. Faço de tudo pra vê-la sorrir e não lembrar que seu marido Henry Knight  não faz contato a meses.

Um trovão irrompe o céu lá fora, me tirando dos meus devaneios. Encaro novamente o horizonte e odeio a parte de mim que pensa em Calum no meio da chuva, exatamente como Mali previu.