baile de primavera | cth

dezenove

CALUM

Parece que faz anos que Michael Clifford está noivo e não apenas alguns dias. Agora, ele estava escolhendo seu traje de casamento e me impressionava muito que ele já tenha experimentado pelo menos uns cinco modelos sem ter se sentido a vontade em nenhum deles. Não é como se tivesse ficado feio, Michael é o tipo de homem que fica bonito até usando ceroulas velhas.

— Eu acho que este não combinou, o que você acha Hood?

Sentado em uma poltrona desconfortável, desvio meu olhar do teto estampado do alfaiate e encaro ele com um traje que parece idêntico aos últimos três que eu vi.

— Está perfeito — economizo em dizer.

— Por que essa não parece uma opinião sincera? — ele choraminga.

— Na verdade, essa é uma opinião extremamente sincera, não entendo que tanto de defeito que você põe nas roupas, no final você vai acabar ficando sem elas mesmo, então o que mais importa além disso?

Michael olha mais uma vez para o grande espelho e o alfaiate concorda silenciosamente com minha afirmação.

— Tudo bem, vou levar o primeiro que experimentei.

Comemoro em silêncio. Para um homem que estava decidido a se casar, a roupa deveria ser o menor de seus problemas.

— Eu também preciso comprar um presente para Senhorita Mary e vou precisar que você me ajude com isso.

— Eu?? — questiono, tentando entender o que minha opinião agregaria nisso tudo. — Você não acha que precisa da opinião de uma dama?

— Mas é exatamente nisso que você entra. Arquiduque Hood, o melhor amigo das mulheres. — Michael ri, enquanto tira a parte de cima do último traje que experimentou. — Você tem duas em casa que podem me ajudar e, agora que elas estão mais próximas da Senhorita Mary, talvez seja ainda mais fácil encontrar o presente perfeito.

Meu Deus, mas que espécie de castigo era esse?

— O que vou ganhar com isso? Por que esse favor não pode simplesmente sair de graça.

— Pode passar o fim de semana na minha casa de campo, no litoral — Michael faz a proposta e dou de ombros.

— Mas isso é algo trivial, também posso passar um tempo em minha própria casa de campo se eu quiser... tem que ter algo a mais.

— Passe uns três dias lá e eu cubro sua responsabilidade com os negócios.

— ...

Mantenho os olhos no teto, passando a mensagem de que isso ainda não chamou minha atenção e sinto meus lábios desenharem um sorriso quando escuto ele bufar.

— Três dias na minha casa de campo em Hastings, eu cubro seus negócios e você pode levar quem quiser que ninguém ficará sabendo.

Assim que ele fala 'com quem quiser', volto a encará-lo. Michael não tem noção alguma dos acordos que faz comigo. Como se não fosse problemático o suficiente eu levar uma amante para sua casa de campo e, se por acaso, eu quisesse levar uma dama da alta sociedade comigo?

— Fechado — estendo a mão e, pela cara que ele faz, sei que estou dando pra ele o meu sorriso mais diabólico.

— Tenho dó das damas que acreditam que você é o melhor partido de Londres — Michael diz, no meio de uma risada. — Por que você não vale as libras que gasta em capim para os seus cavalos.

— Obrigada pela parte que me toca, Visconde — meu tom agora se torna bem humorado novamente. — Mas, antes de tudo, precisamos garantir que sua noiva vá receber o presente mais incrível que uma dama em Londres já recebeu.