nove

41 8 1
                                    

CALUM

Mali continua me encarando com aquele olhar e começo a me preocupar. Madame Irwin que está próxima de nós dois é quem responde a minha pergunta.

— Eu acho que ela foi até o jardim, Arquiduque — dá de ombros. — Se eu fosse o senhor, daria uma volta por lá, pra se certificar que está tudo bem. Ela parecia aborrecida.

Aceno com a cabeça e me dirijo para a primeira porta que vejo que dá para o jardim. O ambiente está bem iluminado, mas é grande e seria difícil encontrar Heather sem ter que gritar o nome dela. Então tenho uma lembrança de anos atrás, no Baile de Primavera que minha irmã debutou e que, coincidentemente, Heather também sumiu pelo jardim. Ela pode estar no mesmo lugar da última vez.

Caminho devagar por entre as rosas e assim que entro no labirinto de cerca viva, escuto barulho de folhas sendo amassadas.

— Sua idiota — uma voz feminina que conheço bem pragueja baixinho.

Abro um sorriso. Encontrei ela. Às vezes as mulheres são previsíveis, embora elas odeiem admitir isso.

Quando avisto o vestido azul indo de um lado para o outro enquanto ela reclama sozinha, reparo melhor nele. Um modelo com decote e com um belo espartilho que valoriza ainda mais os seios de Heather. Engulo seco. Como todos os cavalheiros do baile não estavam implorando por uma dança com ela?

Claro que Heather não é a mulher mais dócil do mundo, apesar de ser extremamente educada e bem criada pelos Campbell. Embora os pais dela morem no interior da Inglaterra e, no fundo, devem acreditar que ela está em Londres apenas para cumprir o objetivo que toda mulher nesta sociedade, infelizmente, tem que cumprir que é arrumar um marido rico, ela está aqui mas não se dedica a nada disso.

Percebo que ela gosta mais de ler, de aprender coisas novas, de estar sempre perto da Mali e distraí-la sempre que um sentimento triste a respeito do Henry a invade, do que discutir quem é o perfeito cavalheiro da vez. Ela implica comigo, o que parece ser um de seus hobbies favoritos. É como se ela já fizesse parte da nossa família e, por causa disso, também me sinto um pouco responsável por ela.

Confesso que, uma parte de mim, sempre achou que nossas famílias entrariam em uma missão para nos casar mas isso nunca nem foi levantado como pauta.

Ainda bem.

Minha reputação de libertino e o gênio forte de Heather com certeza influenciaram nesta decisão. Eu jamais aceitaria me casar se não fosse por amor e ela jamais aceitaria se casar por que alguém mandou. Era simples assim.

Saio dos meus devaneios assim que o silêncio fica completo. Ela percebeu minha presença e me encara como quem pergunta "o que está fazendo aqui?". Decido devolver a mesma pergunta.

— O que está fazendo aqui, Heather? — escolho um tom preocupado.

— Eu que devia te fazer essa pergunta, achei que estivesse ocupado demais pra notar que eu queria ficar sozinha — e assim a língua de chicote dela está de volta.

Me aproximo com cuidado, tentando não dar a sensação que estou a cercando. Sei bem que ela odeia se sentir presa.

— Na verdade, eu esperava sua careta de quando segura uma risada quando recusei a valsa com a Lady Sconse — sou sincero e decido tornar o tom mais brincalhão, pra ver se quebrava um pouco a tensão no ar —, não esperava que você fosse ter um ataque de ciúmes na frente de todo mundo.

— Ter ciúmes de você é a mesma coisa de ter ciúmes da sua irmã — ela retruca com uma careta.

Me lembro de nós dois dançando e não mudo o tom da conversa, mesmo sabendo que minha investida brincalhona não caiu tão bem. Tem coisas que só é possível conquistar com um charme especial.

baile de primavera | cthOnde histórias criam vida. Descubra agora