baile de primavera | cth

vinte e quatro

CALUM

Depois de alguns dias, combinamos de finalmente ir até a biblioteca nacional dar início ao planejamento de roubo. Desde o singelo beijo no estábulo, percebo que penso em Heather mais do que eu deveria, quando ela está perambulando com Mali pela casa, eu observo seus passos e de vez em quando sou flagrado por algum criado, o que me faz pensar que deve existir alguma fofoca entre eles sobre o assunto. Fato que não me incomoda, até por que, o que eles terão a dizer sobre nós?

Na carruagem, a caminho da biblioteca, Mali e Heather discutem qual o melhor livro que já leram enquanto eu observo a paisagem e imagino que Michael tenha ido buscar também a Senhorita Mary para o passeio. O nosso maior álibi é que esse era um evento basicamente de família, estávamos nos divertindo pela cidade, visitando o parque, a biblioteca e o famoso café que ficava na mesma rua. Não teria como alguém desconfiar que tudo isso fazia parte de um plano.

Essa ideia, claramente, foi de Heather. Às vezes eu me assustava um pouco com os planos mirabolantes que pairavam sobre a cabeça dela.

— Veja, Mali — ela chama a atenção da minha irmã e, consequentemente, a minha também. — Não é o Marquês Hemmings?

Desvio o olhar para a outra janela da carruagem, onde as duas encaram discretamente um homem alto do outro lado da rua. Os cabelos dourados e a estatura esguia o denunciavam, agora o que Hemmings estava fazendo sozinho, caminhando pelo parque, talvez fosse algo a se pensar.

Reviro os olhos.

— O que será que ele está fazendo? — a mente de Heather parece estar alinhada com a minha no quesito curiosidade.

— Talvez esteja caminhando, arejando a cabeça — Mali respondeu, dando de ombros.

— Talvez esteja tramando alguma coisa — complementei e as duas me olharam feio quando eu mesmo dei de ombros. — Nunca se sabe, nunca vimos esse cavalheiro, ele pode estar mesmo tramando alguma coisa por baixo do nariz de todos.

Mali volta o olhar para a rua, enquanto Heather continua me olhando, com um sorriso curto no rosto. Era a forma dela de se comunicar em silêncio e deixar claro que uma frase com as palavras "tramando" e "por baixo do nariz de todo mundo" a divertiam.

Quando chegamos à biblioteca, Michael e a Senhorita Mary já nos esperavam na porta, dividiam um papo animado e aconchegante, basicamente mal conseguiam tirar os olhos um do outro. Os cumprimentos foram rápidos e logo todos estávamos passeando pela biblioteca, assim como diversos outros moradores de Londres. Não demorou muito para que o próprio Marquês aparecesse também, se juntando a mim quando eu observava uma prateleira apenas de livros de geografia.

— Procurando algo específico Arquiduque? — ele disse de forma bem humorada. — Ou veio só pela companhia.

Ele tinha essa mania de insinuar que eu estava cortejando Heather em cada frase que soltava. Não era minha culpa que, sempre que ele aparecia, estávamos juntos de alguma forma. Era só um acaso e nada mais.

— Vim pelas duas coisas — falo e dou um sorriso de má vontade pra ele. — E você, está aqui pelos livros ou pela companhia?

O sorriso que Luke Hemmings me dá é genuíno, fato que me perturba um pouco, ainda mais quando ele faz questão de virar o rosto na direção de Heather, que folheia um livro velho à três seções de onde estamos.

— Eu vim pela companhia, é claro, detesto ler — ele diz em um tom sincero até demais.

Fica um silêncio um pouco constrangedor e volto a olhar para a prateleira, passando as mãos entre os atlas que estou olhando e o marquês segue olhando atentamente para a direção em que Heather estava.