doze

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HEATHER

Quando abri os olhos no dia seguinte, senti minha cabeça latejar e o ambiente girar devagar, deve ser pela quantidade de ponche que bebi na noite anterior. Todas as vezes que Mali fala pra eu não exagerar, é por que ela sabe que caso eu o faça vou passar o dia seguinte todo na cama.

Talvez seja o caso hoje.

Quando me sento na cama, meu corpo responde com um repuxão involuntário e reparo que ainda estou usando o vestido azul de ontem à noite. Ah, ontem à noite, foi esplêndido.

Espera. De uma vez memórias diversas inundam a minha cabeça.

A dança com o Marquês Hemmings, seguida da feição emburrada de Calum. Depois nós dois dançando juntos, ele sorrindo pra mim. Nós dois estávamos no jardim, ele pegou na minha mão e me rodopiou devagar, aproximando a boca da minha.

Calum saindo do baile sem se despedir de ninguém, eu e Mali indo embora logo depois de eu ter tomado pelo menos uma dúzia de copos de ponche, pensando que seria ridículo se ele tivesse ido embora só por causa do que aconteceu.

Começo a sentir as palmas das minhas mãos suarem.

Quando chegamos a mansão dos Hood, Mali me deu um abraço de boa noite e disse que eu tinha feito mal em exagerar no ponche. Mas não dei ouvidos, é claro. Fui para o meu quarto e lembro de sentir o corpo todo eletrizado, com uma dúvida que me corroía por dentro. Eu tomei a decisão de confrontar Calum a respeito do nosso quase beijo.

Meu Deus, por que eu fiz isso? Será que fiz mesmo isso? Agora é o meu coração que está acelerado.

Eu o afrontei no meio da noite, ficamos sozinhos no mesmo quarto. Ele sorria o tempo todo daquele jeito cretino que só Calum sabia sorrir. Ficamos próximos demais, as mãos dele tocando meus ombros, meu pescoço, meu rosto e, depois, apertando partes indecentes que eu nem podia imaginar nos meus melhores sonhos. Nós dois nos beijamos tanto.

Levo as mãos aos meus lábios, como se pudesse sentir os lábios dele também. Até que a última lembrança me atinge como um soco em uma briga de bar.

Fico pálida.

Eu invadi o quarto dele. Eu disse pra ele que sabia que não ia me casar. Eu disse sem nenhum filtro que não suportava a ideia de nunca descobrir o que é o prazer entre um homem e uma mulher.

Quando percebo o grito agudo já saiu da minha garganta e passos apressados se aproximam, enquanto algumas lágrimas se formam no canto dos meus olhos.

— Milady, o que aconteceu? — Emma, uma das criadas, irrompe a porta com uma expressão desesperada. — Por que está chorando?

— Eu... — começo mas não sei como continuar essa frase sem parecer uma completa boba.

Emma se aproxima, apalpando minha cama e as cobertas, como se estivesse procurando um bicho que tivesse me mordido ou me oportunado. Mali aparece logo em seguida, também parecendo preocupada.

— Pelo amor de Deus, Heather — ela se agita e joga os braços ao meu redor. — Não me diga que sonhou com Oliver de novo.

Estava aí a desculpa perfeita para um choro inexplicável. Oliver. Embora eu odiasse metê-lo no meio de um assunto que nada lhe dizia respeito, acho que era o dever dele como irmão me cobrir em uma situação como essa que estou tão envergonhada que jamais vou ser capaz de olhar para a cara de Calum de novo.

— Sim — choramingo e deixo as lágrimas frustrantes caírem enquanto ela me abraça. — Me entristeço por ter esses pesadelos.

— Eu sei, meu bem, está tudo bem agora. Você sabe que o Ollie odiaria ver você chorar assim por causa de um pesadelo né?

baile de primavera | cthOnde histórias criam vida. Descubra agora