CALUM
Eu não conseguia parar de pensar nela. No vestido azul claro agarrado no seu busto, nos peitos quase saltando pra fora, no seu olhar que ora era suave e ora mortífero. Reviro o corpo na cama. O que estava acontecendo comigo?
Um baile é apenas um baile, as moças estarão mais bonitas e em suas melhores versões. Para os homens é como uma vitrine, na qual somos instruídos a escolher o que nos apetece mais. Eu dancei com uma dezena de donzelas, todas muito bonitas e bem vestidas, mas o problema é que não conseguia tirar da cabeça Heather Campbell e seu corpo esguio grudado no meu no jardim quando quase nos beijamos.
Onde eu estava com a cabeça?
Depois que voltamos para o salão, não conversamos mais. Me uni aos cavalheiros, incluindo o próprio Marquês Hemmings, e apesar de estar nítido que havia algo estranho entre nós dois, ele não abriu a boca pra falar sobre o que viu. Michael também me encarava com certa curiosidade, mas preferiu deixar pra lá.
Depois que cheguei em casa, fiz questão de tomar um banho frio pra abaixar um pouco a adrenalina do dia. Mas sigo agitado, sem conseguir dormir, por que tudo que penso quando fecho os olhos é na melhor amiga da minha irmã.
HEATHER
Tudo que aconteceu nesta noite parece um sonho no qual não consigo acordar. A Heather que eu era uns anos atrás estaria chocada se soubesse que teria um momento tão íntimo com Calum Hood da forma que aconteceu hoje.
No momento que vi ele parado no labirinto comigo, eu soube que algo estava diferente, pelo menos pra mim, e fui atingida novamente por aquela sensação adolescente de ter um amor platônico que me consome.
Cada vez que penso nele dançando comigo, segurando meus braços, me trazendo pra mais perto de modo que eu sentisse a sua respiração no rosto, é uma pá a mais de terra enquanto minha mente desenterra meus antigos sentimentos pelo Arquiduque.
No entanto, cada vez que penso na ideia, mais absurda ela fica.
O Calum que me conta que tem pavor de pensar num casamento sem amor é o mesmo que diz que vai visitar o Visconde Clifford e simplesmente passa a tarde em um bordel, embaixo das saias de alguma mulher qualquer.
Ele não sustenta esse discurso. Poucas pessoas sequer sabem que ele é capaz de acreditar que o amor existe.
Ainda estou usando o vestido de baile. Não tive coragem de tirá-lo, por que isso significa que talvez a minha noite de Cinderella esteja chegando ao fim.
E dói saber que talvez o príncipe encantado esteja no final do corredor, apenas com o seu calção de dormir.
Não foi uma boa ideia aceitar passar a noite na casa dos Hood hoje, mas Mali parecia bem animada com a possibilidade. Embora, no baile, ela tenha notado um clima pesado a hora que voltamos do jardim, não fez comentário algum, apenas me ofereceu mais ponche e continuou sua conversa com Madame Irwin.
Me sento na cama e fico relembrando a conversa que tivemos e a forma gentil com que ele reconheceu e acolheu meus sentimentos quanto a ser uma mulher nesta sociedade infernal, que nos tratam apenas como suvenirs dos próprios maridos.
É ridículo pensar que um homem pode se deitar com alguém antes do casamento sem que isso lhe tire a sua honra. É ainda mais injusto pensar que o prazer nunca lhes é negado.
Apesar de eu nunca ter me envolvido com algum homem, Mali me contou tudo depois de ter se casado e, segundo ela, a melhor parte do casamento por amor é essa. Dividir a intimidade com a pessoa que você ama e se entregar a hora que der vontade.
Certo. Usar esse termo é constrangedor.
Mas sexo não devia ser algo acessível só aos homens. Por que preciso me casar pra isso?
A indignação me preenche, juntamente com o desejo e a atração que ainda correm nas minhas veias.
Por muito tempo Calum também foi meu melhor amigo e sei que ele também sentiu a mesma coisa que eu naquele jardim. Seria maluquisse ir até o quarto dele agora? Ele talvez fosse me achar completamente louca?
Sim. Com certeza.
Mas como ignorar tudo o que sinto? Se não vou me casar significa que jamais alguém vai me dar prazer?
A vantagem é que se for um surto, ele também vai agir como se tivesse sido, por que conheço Calum há anos e manipulação dos fatos é sua especialidade.
A desvantagem é que talvez a nossa amizade se abale caso haja uma investida.
Hm. Olho o espelho mais uma vez e o relógio.
Onze e quarenta e cinco.
Ainda tenho quinze minutos até a meia noite pra tudo virar pó, então, tiro os sapatos para não fazer barulho no corredor, acendo uma vela e respiro fundo antes de fechar a porta e caminhar lentamente até o fim do corredor.
folhetim da autora
Olá, damas e cavalheiros que acompanham essa história, como estão? Espero que muito bem!
Nem acredito que chegamos ao capítulo dez já, que loucura! Gostaria muito de saber o que estão achando de tudo, no meio dos autores essa informação é muito importante para o seguimento da trama.
Se você gostou, contribua com uma estrelinha ou um comentário a respeito do que passa pela sua cabeça. Prometo que não se arrependerá!
Um grande abraço desta autora que sentia saudade de escrever pra vocês!
Até breve,
C
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baile de primavera | cth
FanfictionHeather Campbell é uma jovem de personalidade forte que não faz questão nenhuma de preencher as lacunas que a sociedade impõe à ela. Calum Hood é um libertino do pior tipo, aquele que se orgulha da sua solteirice mas por trás de todo o discurso anti...