dezesseis

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HEATHER

Minhas mãos deslizavam pelos cabelos castanhos molhados dela, passo o pente mais uma vez e planejo iniciar uma trança bonita para que Mali acorde com mechas onduladas amanhã, como ela tanto gosta.

Saímos do sarau da Senhorita Mary cedo e sem cumprimentar os noivos, mas valeu a pena, eu e Calum conseguimos distrair Mali dos pensamentos que de vez em quando a assombram a respeito de Henry. A guerra ainda não acabou, mas está muito longe de nós e as notícias demoram muito pra chegar até nós, então infelizmente, não sabemos se Henry Knight está vivo ou morto e a espera pela resposta tem perturbado Mali com todas as forças.

Eu a entendo. Se fosse casada com o amor da minha vida, eu preferia morrer a ficar tanto tempo sem ter notícias dele. Nessas horas parece que até um telegrama com palavras que não queremos ler é mais bem vindo que o silêncio e a incerteza sobre o que de fato está acontecendo.

— Por que sempre que estou falando com você parece que você está com a cabeça em outro lugar? — Mali reclama. — Tem horas que queria saber exatamente as coisas que você pensa...

— Perdão, milady — puxo uma mecha do seu cabelo devagar, apenas para provocá-la e isso faz com que ela solte uma risada baixa. — O que dizia?

— Estava falando do Marquês Hemmings — Mali vira a cabeça rapidamente apenas para me dar um olhar e checar minha reação —, ele parece bem interessado na sua vida.

— Sério? — continuo trançando o cabelo dela devagar. — Por que acha isso?

— Quando você foi procurar o toalete, ele surgiu pouco tempo depois com uma desculpa esfarrapada, acredita? Veio perguntando onde meu irmão estava e, de repente, mudou o assunto para perguntar onde você estava.

Minha garganta fica seca de repente. Por que estou com a sensação que ele está nos vigiando? Será que foi pelo episódio do jardim?

— Desde o baile de Primavera ele parece ter perguntado por aí de você...

— Isso é ridículo, Mali, o Marquês dançou comigo apenas uma vez, não é como se estivesse me cortejando.

Movimento os dedos com rapidez e já estou quase terminando.

— E se ele quiser?

— Quiser o quê?

Mali novamente vira a cabeça para poder ver minha expressão antes de dizer.

— Casar com você, oras bolas!

A risada que dei deve ter dado pra ouvir do outro lado da mansão dos Hood e Mali não evitou a careta antes de cair na risada comigo.

— Essa probabilidade é tão remota, Mali, francamente só você tem algum tipo de esperança que eu possa me casar um dia. Estou bem e feliz assim, tenho você. — A abraço de forma desajeitada. — Você é uma irmã pra mim, sabe disso não sabe?

— Eu sei, mas não há nada de errado em ter esperança, Heather. Em querer ser feliz com outra pessoa, em acreditar que alguém poderia te escolher, mesmo você não sendo debutante.

— Ou o diamante da temporada — comento. — Acho que prefiro ler todos os livros que eu puder e imaginar um marido perfeito, que claramente não existe na vida real.

— Como todas nós fazemos!

Rimos juntas mais uma vez e, quando terminamos, olho para o relógio no canto de sua sala de estar, já está tarde e eu deveria ter ido pra casa horas atrás. Amo ficar aqui na companhia de Mali, me sinto muito sozinha em casa e aqui sempre é possível ver Calum pelo menos duas vezes ao dia.

— Eu não devia ficar até tão tarde, preciso ir embora.

— Não hoje e muito menos agora — Mali retruca. — Já pedi para Emma deixar o seu quarto pronto, nem se atreva a voltar de cavalo igual àquela vez. Você quase me matou do coração.

— Combinado, mas da próxima vou voltar pra casa.

Nos abraçamos e ela me deu boa noite. Peguei um dos castiçais e comecei a caminhar até o meu quarto, que ficava a alguns cômodos dali, primeiro eu teria que passar pela cozinha, atravessar a sala de estar da outra ala e, curiosamente, terminar no corredor que divido com o quarto de Calum.

O quanto estou corajosa hoje?

A medida que caminho, o silêncio da casa me acolhe e faz acender em mim a lembrança do beijo dele naquele toalete.

Devo estar completamente maluca ao pensar isso mas, quando entro no corredor, uma luz aconchegante preenche a ponta oposta ao meu quarto. Ele está com a porta aberta e a luz me faz um convite.

Começo a caminhar antes que eu me arrependa.

baile de primavera | cthOnde histórias criam vida. Descubra agora