HEATHER
A mansão dos avós da Senhorita Mary parecia ter sido decorada para um baile, se o intuito era eles mostrarem o quanto eram endinheirados, creio que estão preenchendo todos os requisitos. Há flores por todos os lados, tão coloridas e significativas da primavera. Assim que eu e Mali adentramos o salão principal, ouvimos os sons de uma dupla de violino e violoncelo, trazendo uma atmosfera aconchegante e elegante mas, devo dizer, que estou achando tudo meio luxuoso demais.
— Você não tem a impressão que eles estão desesperados para casá-la, sua graça? — falo baixinho e Mali me dá uma cotovelada que apenas atrapalha minha risada.
— Comporte-se Heather, nada de ponche hoje, ein?
Dou de ombros e dou uma olhada no ambiente. Há uma mesa próxima à janela cheia de canapés e outra, bem próxima, cheia de pequenos docinhos. Felizmente não estão servindo ponche, mas os garçons passeiam com pequenas taças completas com o que parece ser champanhe francês. Dou um sorriso.
— Como é bom vê-la sorrir, mademoiselle — uma mão enluvada toca a minha de leve e quando me viro, a figura comprida do Marquês Hemmings me olha com gentileza.
Faço uma reverência discreta.
— Que bom que veio, Marquês Hemmings, como tem passado desde a última vez que nos vimos?
A risada dele contagia um pouco o ambiente e chama a atenção de algumas pessoas, inclusive Mali, que conversava com a anfitriã Senhorita Mary a alguns metros dali.
— Adoro o jeito irônico com que você trata o tempo, como se não nos víssemos há séculos — o bonito loiro responde com bom humor. — Vejo que passar tempo na companhia do Arquiduque lhe fez bem, milady.
No mesmo momento que escuto ele citar Calum, sinto a minha expressão ficar enrijecida e antes que eu tente contornar a situação, o Marquês se aproxima mais.
— Não olhe agora, mas ele está bem atrás de você — ele comenta. — O que você acha de valsarmos um pouco?
Sou surpreendida com o convite, uma vez que mais ninguém está de fato dançando, apesar da harmonia da pequena dupla de músicos dar a trilha sonora perfeita ao pequeno sarau.
Aceito a mão do Marquês e ele me rodopia devagar. Tento não prestar a atenção em mais ninguém, apenas nos olhos azuis que sorriem pra mim, se divertindo com a situação e valsamos como se a sala estivesse vazia.
A música fica mais enérgica e noto pelo canto de olho que alguns outros casais se juntam a nós.
— Acho que o seu sarau virou uma extensão do Baile de Primavera, Senhorita Mary — a voz de Mali não me passou despercebida próxima a nós.
Luke segura em minhas costas e me traz para mais perto dele. O cheiro que emana dele é o mesmo dos campos de macieiras, doces e primaveris, tão delicado como se ele tivesse acabado de cair do pé, como uma maça madura. Não consigo evitar de sorrir.
Quando a valsa termina, fazemos uma reverência um ao outro e sinto meu rosto queimar ao perceber que atraímos muitos olhares com essa pequena atitude. Eu não precisei procurar muito, sentia os olhos castanhos de Calum me encararem perto da mesa de ponche e era exatamente por isso que eu evitava olhar na direção dele.
Depois de cumprimentar algumas damas e acenar para Madame Irwin, apressei meu passo na direção oposta, com a desculpa de que precisava usar o toalete.
Eu ainda não estava pronta para ficar no mesmo ambiente que Calum sem morrer de vergonha pelo que eu fiz. Não foram atitudes de uma dama, embora bem dentro do meu ser eu quisesse cada uma das coisas que aconteceram. O grande problema continuar querendo, mesmo depois de estar livre dos efeitos do ponche em excesso.

VOCÊ ESTÁ LENDO
baile de primavera | cth
FanfictionHeather Campbell é uma jovem de personalidade forte que não faz questão nenhuma de preencher as lacunas que a sociedade impõe à ela. Calum Hood é um libertino do pior tipo, aquele que se orgulha da sua solteirice mas por trás de todo o discurso anti...