onze

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CALUM

Ouço batidas leves na porta e checo o relógio, é quase meia noite. Como não voltei embora com a minha irmã, não sei exatamente que horas ela chegou em casa, mas presumo que ela queira conversar sobre os incidentes da noite e, talvez, seja bom comentar com ela a respeito do que aconteceu no jardim.

Saio da cama e nem me preocupo em abotoar a camisa.

Quando abro a porta, sou atingido por uma surpresa. Não é minha irmã que está aqui, mas sim Heather, ainda usando o vestido azul claro que estava me perturbando minutos atrás.

Como no primeiro momento fico em silêncio, ela pergunta em um sussurro.

— Posso entrar?

— Claro — é só o que consigo dizer.

Heather dá uma boa olhada em mim, como um todo, mas seu olhar não é sarcástico como geralmente é. A impressão que tenho é que ela está me observando, talvez tentando prever alguma reação.

— Escuta, sua graça, sei que não deveria estar aqui a essa hora da noite...

— E também sabe que não precisa me chamar assim — a corrijo —, pra você pode ser só Calum...

Um momento de silêncio e ela concorda com a cabeça, sem dizer mais nada. Me aproximo e sou invadido pela tensão da situação. Não sei se pela cabeça dela também está passando um filme dos acontecimentos da noite, mas pela minha eu tenho certeza que gostaria de terminar o que não finalizamos no jardim.

— Por quê veio aqui, Heather?

Ela começa a passear pelo quarto, tocando delicadamente a poltrona na qual eu estava sentado antes de ir responder a porta. Todos os seus movimentos parecem ansiosos até que ela resolve se sentar e faz um gesto para que eu me sente na mesa de centro, bem próximo à poltrona.

Caminho até lá e consigo sentir o perfume dela.

— Calum, tenho uma coisa muito séria pra te dizer e preciso mais do que discrição da sua parte pra esse assunto.

— Você tem, não vou sair por aí relatando tudo o que conversamos — concordo com ela —, ainda mais quando estamos só nós dois aqui, neste quarto, tão tarde da noite.

Deixo um sorriso tomar conta dos meus lábios e ela foca o olhar na minha boca sem disfarces.

— É por isso mesmo que esse assunto se torna ainda mais delicado — ela começa. — Sobre o que aconteceu no jardim, eu...

— Você se arrependeu? — digo, em reflexo.

— Quer parar de me interromper?

Agora a careta de insatisfação dela está de volta e ela se parece mais com a Heather que eu conheço, o que me faz rir. Faço um gesto para ela entender que vou ficar de boca calada e que ela pode continuar.

— Lembra do que te falei sobre o casamento, lá no jardim? — concordo com a cabeça à sua afirmação. — Sinceramente, Calum, eu não tenho perspectiva nenhuma de encontrar um marido. Não estou procurando por isso, não acredito que vá aparecer alguém que me fará desistir de ser uma jovem progressista e me prenda em um matrimônio só pra me exibir de troféu para os amigos em um bar idiota. Eu não sou esse tipo de mulher.

Sim, disso eu tenho certeza. Heather é diferente de qualquer outra moça da alta sociedade e isso era uma das coisas que eu mais gostava nela.

— Então, depois do que aconteceu hoje no jardim... — ela faz uma pausa e umedece os lábios. — Gosto de acreditar na versão dos fatos na qual quase nos beijamos.

baile de primavera | cthOnde histórias criam vida. Descubra agora