Máscara Caída

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Quando Suguru nasceu, a atual Rainha, Ina ainda não era casada. Embora ninguém faça ideia de quem era o pai do menino, a maioria sempre supôs que ele fosse um humano, por quem ela se apaixonara em suas viagens ao mundo dos homens comuns.

Todos os líderes dos seis pequenos reinos reuniram-se para amaldiçoar a criança.

Fraqueza, medo, ignorância, covardia, doença e morte.

Mas imaginem que o pequeno bastardo, como eles o chamavam possuía o poder de repelir qualquer maldição e transformá-la em benção para si...

No final eles acabaram criando um monstro imortal, capaz de dominar facilmente as doze  artes mágicas, com uma força e vigor inabaláveis. 

Um golpe cruel e risível do destino.

***

- O que eu devo fazer com ele? - Gojo perguntou, sentindo o ímpeto de libertá-lo daquelas correntes horrendas.

-Deve fortalecer as correntes que o mantém aqui, durante um mês, por todos os dias e sem descanso, você deve derramar a sua energia sobre elas, aumentando o vigor e a força das amarras que o prendem. - Salazar o orientou.

-Certo. - Gojo assentiu, mas não conseguia ouvir uma palavra do que outro dissera.

-Ah! E mais uma coisa... Acho que não preciso te dizer, mas, por via das dúvidas... Não o deixe sair. Nunca. - O príncipe disse muito sério.

-Eu jamais faria isso. - Gojo o acalmou.

-Certo, estou indo agora. Boa sorte. - O outro se retirou rápido e silencioso.

Aquele dia foi estranho, mais do que todos os outros que passara naquele lugar esquisito. Primeiro, ele sentia que estava fazendo algo errado, e não conseguia afastar aquele sentimento, segundo ele sentia uma estranha sensação de familiaridade cada vez que mirava o criminoso.

Ele achou que aquela punição era um tanto exagerada. Então, para se sentir menos culpado, ele decidiu que tornar a condição do outro mais aceitável, era o melhor a ser feito.

Primeiro ele limpou aqueles pés profundamente feridos e aplicou uma pomada que solicitara a pequena serva, embora subir e descer as escadas estivesse sendo extremamente cansativo. Uma vez que a garota se recusou a descer até ali, pois não era burra.  Ela claramente lhe entregou um pequeno bilhete dizendo que só desceria ali por ordens do próprio príncipe e de ninguém mais. Como Satoru não quis despertar suspeitas em Salazar, ele decidiu encarar as coisas positivamente e aceitou que subir e descer escadas seria um exercício bom, para que ele não precisasse se manter parado.

Depois de alguns dias, aquela feridas haviam sumido quase completamente e seus pés possuiam um aspecto bem melhor.  Gojo sentiu-se satisfeito.

Por hora.

Uma semana depois ele deduziu que retirar aquela máscara horrenda não poderia ser tão ruim, pois o homem parecia completamente exausto inclusive para falar. Após a retirada a pele ficou levemente marcada, mas Gojo reconheceu-o.

Era Suguru.

Ele o mirou desacreditado.

Apesar dos machucados continuava lindo. Seu cérebro o reprimiu dizendo que não era hora para pensar nestas coisas, ele se agitou e aproximou -se. O medo que o dominara nas última semana desaparecera parcialmente.

-Oi... Você consegue falar? Não sabia que era você... aqui. Queria te agradecer por antes. Mas se você sabe a razão pela qual estou aqui. Então por quê me ajudou? - As palavras pareciam atropelar umas as outras.

Um sorriso cansado escapou dos lábios do outro.

-Bem que o seu avô me alertou sobre a sua disposição para falar. -  Ele fechou os olhos. -Pode me dar um pouco daquela água? - Pediu.

Gojo ia perguntar como ele conhecera seu avô, porém achou melhor atender as necessidades do outro primeiro. Pegou o odre e colocou a água na pequena vasilha de cerâmica,  segurou o queixo dele com cuidado e deixou que Suguru tomasse o líquido da vasilha todo de uma vez.

-Calma... Pode ir devagar. Já faz tanto tempo assim que está aqui? - Perguntou genuínamente preocupado.

-Eu não lembro... Não faço ideia de como o tempo passa daqui de dentro. Não há sol para que eu possa me orientar. - Suguru respondeu com a voz pesada. Seus lábios estavam secos e a pele parecia machucada.

-Mas você saiu... Naquele dia. - Ele pareceu refletir.

-Ah não. Aquilo foi só uma projeção antiga, eu a deixei para quando você viesse. - O outro quase sorriu, mas Gojo supôs que ele sentia uma dor muito grande, pois em vez disso, sua face se contorceu em uma careta.

-E como você sabia que eu me proporia a te ajudar? - Gojo indagou, ainda sentindo aquela confusão dentro dele.

-E você vai? - Suguru mirou-o, avaliando aquela face perfeita.

-Bem, eu ainda não disse isso. - Gojo pareceu pensar.

-Eu conheci o seu avô... ele me ajudava às vezes. Algo como um pedido do meu pai. E ele era o homem mais gentil que eu conheci, não acho que ele criaria alguém de menor valor do que ele próprio.

-Meu avô... Ele se foi. - Aquelas palavras pesaram em seus lábios, e um pequeno bolo formou-se em sua garganta.

-Ah. Eu sinto muito por isso. Ele foi um homem muito bom, e tinha muito orgulho de você. - O outro disse. E Gojo se sentiu mal, por que ele precisava que alguém dissesse essas coisas óbvias?

-Eu sei. Eu sei. - O silêncio pairou entre eles. E uma pequena sombra baixara sobre a face de Suguru.

-O seu pai...  - Gojo começou, mas sentiu que não era certo falar sobre isso.

-Sinceramente, eu não sei. Alguns dizem que ele morreu... Mas eu não posso ter essa certeza. Nunca o encontrei. - Gojo o observou, com o coração agitado, nunca sabia o que dizer nessas horas.

-Você parece cansado... Não vou mais incomodá-lo. -Suguru sentiu que a dor dos seus pés havia diminuído, não haviam pequenos insetos devoradores de carne humana por perto, e ele não precisava concentrar a mísera parcelar de energia que ainda conseguia usar para afastá-los, ele também podia respirar um pouco melhor e apesar das correntes de ferro que o mantinham preso, o homem fechou os olhos e adormeceu, a última coisa que viu foi aquele par de olhos muito azuis que lhe deram - ainda que só um pouco- esperança.

Notas da autora

A Magia com a qual Suguru nasceu foi levemente inspirada nos seus poderes de Jujutsu. Mas em vez de absorver apenas as maldições, antes ele as transforma em benção. 

Obrigada por ler! ^⁠_⁠^

A Estrela Perdida da CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora