Passado Perdido

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Eles caminharam por uma cidade altiva, bastante movimentada. As ruas eram perfeitamente limpas e organizadas, mesmo nas feiras tudo tinha o seu lugar. O garoto sorriu ao ver duas meninas que treinavam com as espadas e elas se curvaram gentilmente para ele.

-Você os treina? - Suguru perguntou.

-Sempre que posso. Não é justo que eu guarde minhas habilidades extraordinárias apenas para mim. Você não está de acordo? - Ele mirou o outro com expectativa.

-Em absoluto. - O menino sorriu. - se alguma dia quiser, posso lhe oferecer um treinamento único, com a sua constituição, seria excelente discípulo.

Satoru mirou o garoto com irritação e apertou o passo, diminuindo a distância entre os dois.

O garoto não deixou de notar, e soltou um risinho, parecia divertir-se.

Eles chegaram ao palácio e adentraram, o lugar não tinha guardas. Todos os portões permaneciam abertos. Aquilo parecia uma espécie de convite, mas quem se atreveria a entrar ali sem ser convidado.

Eles chegaram diante do trono, mas este estava vazio. O garoto que veio com eles, correu e se sentou no lugar.

-Muito bem, agora diga, o que você quer de mim? - Satoru o mirou surpreso, já que ele imaginara um vovô.

-Que me diga o que sabe sobre a verdade do meu nascimento. -Luziel esfregou o queixo e por um momento ele pareceu realmente velho e cansado.

-Eu posso, mas a questão é, você quer mesmo saber, Suguru? - Questionou.

- Não há outra escolha. - O homem suspirou.

-Muito bem. Me sigam.

Eles seguiram por uma série de degraus, até chegar ao ponto mais alto da torre leste.
O quarto estava vazio, esceto por uma pequena goteira que caía do chão para o teto. Aquilo realmente era estranho.

-Do que isso se trata? - Satoru perguntou.

- Bem, essa é uma Ninfa. Um pequeno organismo vivo, capaz de mostrar o passado e somente o passado,  de qualquer pessoa. Ninguém sabe que elas existem realmente, muito menos que há uma aqui. Se ela soubesse eu já estaria morto, há muito tempo.

Ele se aproximou e sussurrou.

-Ina.

As gotas começaram a se multiplicar e formar uma miríade de lembranças. Ela correndo pelos campos com uma garota de cabelos ruivos. Ela fugindo de seu tutor a fim de ir cavalgar.

Ela mais velha, aprendendo tudo o que precisava saber sobre o funcionamento do reino.

-Por que o meu pai não está nas lembranças dela? - O homem o encarou por um momento.

Ele demorou um momento antes de enfim, dizer

-É por quê para ela, ele simplesmente não importa, em outras palavras, seu pai foi apenas um dos meios para obter algo maior.

Suguru se aproximou de uma pequena gotícula e estendeu a mão.

Então viu sua mãe novamente. Ela caminhava silenciosa por uma estrada sinuosa. Quando um homem alto e magro esbarrou nela, tinha cabelos escuros e olhos profundamente tristes.

-Desculpe, a senhorita está perdida? - Perguntou. Satoru notou que ele possuía uma aparência bonita, mas algo sobre ele, o tornava repulsivo.

-Não, eu o estava procurando. -O homem arregalou os olhos momentâneamente e depois sorriu.

- E o que eu posso oferecer que a futura rainha já não tenha? - Estendeu a mão e curvou-se em um gesto exagerado.

-O poder sobre a vida e a morte.  - O homem gargalhou alto. A voz sombria ecoando pelos quatro cantos escuros daquela floresta.

-Oh. Isso não é pouca coisa. Enfraquecido como estou não é algo que eu possa fazer. - Ele jogou as mãos dramaticamente.

-O que você precisa? - A mulher perguntou.

-Preciso de almas. Mas não me traga almas de camponeses, mesmo que eles sejam estremamente necessários, quero uma alma banhada de magia e bondade. Quando tiver isso, você pode voltar. Só uma também não me basta.

A rainha puxou a espada que carregava consigo e recostou-a sobre o pescoço do homem. O homem pareceu surpreso, mas logo sua expressão tornou-se sombria.

-Eu não lembro quando disse que você podia decidir os termos de nossa barganha. - A futura rainha o ameaçou.

-Ora, já se comporta como uma monarca tirana, mas não faça isso com o povo, o ódio deles pode crescer e aí você terá um problema. - A princesa bufou.

-Eu não tenho interesse nos fracos. Desde que eles tenham o que comer e o que vestir, não é o bastante. Não é o que chamam de meio de vida? Um tanto patético. -Ela parou e então prosseguiu. - Vou te oferecer o meu primogênito. -O homem arregalou os olhos e sorriu novamente.

-Agora você tocou em um ponto interessante. Mas isso depende, do quão forte ele será. - A princesa o observou, mas não disse nada.

-Este corpo já não me aguenta mais. Se ele for o hospedeiro perfeito, vou realizar o seu desejo.  Mas pra que eu possa fazer isso, preciso de almas inocentes. Burlar uma das leis da magia, foi tão fácil para mim, há eras atrás. Me sinto um tanto patético agora.
E há as correntes que me prendem, estou com tanta fome. A boca se curvou em um ângulo grotesco e um terceiro olho abriu -se na testa. Traga suas oferendas para mim, feiticeira.

A mulher se afastou.

E então, encontrou o pai de Suguru. Ele era um homem gentil, parecia-se com ele, de certo modo, com cabelos escuros e olhos levemente puxados. Ele era um arqueólogo, estremamente estudioso e no meio de uma escavação ela o encontrou.

Cada passo, fala e movimentos pareciam extremamente sinceros. Era uma atriz e tanto, ele pensou um pouco magoado. Seu pai foi se apaixonando como um tolo, e um dia ela foi em busca dele na cidade. Essa parte batia com a história que seu avô havia lhe contado.

Nessa época, ela já estava grávida.

A chave de Lete fora encontrada por ele, em uma escavação no oriente. Ina já sabia, por isso ela o escolhera. Seria perfeito. Quando ele soubesse o valor daquilo iria querer mantê-la segura com ela.

Por fim, ele acabou morrendo de uma doença misteriosa, quando ela descobriu que o homem, um simples humano mortal, nasceu com o dom de controlar os mortos.

Aquela foi a única vez que a mulher pareceu perder a calma.

A Estrela Perdida da CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora