Entendimento

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Antes de a Magia aflorar nos feiticeiros naturalmente, alguns buscavam essa força vindas de algum ser superior. A tribo dos Caminhantes, por serem vampiros puros, já eram muito fortes por si só.

Mas certo dia, o líder encontrou um sacerdote. Minha mãe nunca me disse o seu nome. Acho que ela tinha medo dele. O homem os apresentou a um ser antigo, mais antigo que a própria terra em que vivemos. Dizem que ele possuía três olhos, um para os deseperados, um para os ambiciosos e o último para os devedores.

Essa criatura era capaz de conceder qualquer coisa, mas com o tempo, as comunidades que o seguiam, notaram que seus favores possuíam preços altos demais, e se a dívida não fosse paga, no prazo estabelecido, o terceiro olho entrava em ação. Minha mãe nunca quis me dizer o que ele fazia, nem qual era o seu nome.

Mas ela me contou que a tribo a qual pertencia desaparecera e nunca mais fora encontrada. Por fim, dizem que a criatura foi ludibriada por uma pequena colônia de híbridos, que foi acorrentada e presa, e nunca pôde ser libertada.

Achei que eram histórias para passar o tempo, ou para assustar crianças. Não imaginei que pudesse ser real.

O grupo se entreolhou.

-Sobre o fragmento de alma... Não deveria ser tão poderoso. E eu não tenho uma explicação para isso. - Xavier acrescentou.

-Não, não deveria. Deve estar ligado a lembrança que vimos. - Chaos concluiu.

-Será que era a mulher da lembrança?

-Isso é difícil dizer. Mas alguma ligação com a criatura ela deve ter.  - Satoru pareceu refletir, a cena lhe era muito comum, como a que vira em seus sonhos, porém decidiu guardara seus pensamentos para si. Por enquanto.

O sol já havia se posto quando eles chegaram em Épona. Suguru escrevia algumas cartas. E Satoru se aproximou enquanto a chama da vela iluminava o rosto do outro. Seus cílios escuros ergueram-se quando ele mirou-o.

-Está tudo bem? - Ele assentiu em silêncio. Eram raras as vezes em que ele ficava tão calado, por isso Suguru percebeu que algo estava errado.

-Ainda preocupado sobre o meu plano não isento de falhas? - Indagou.

-Sim. Não estou de acordo com isso. Você sabe. Talvez aquelas pessoas mudem de ideia, quando descobrirem as pessoas que você salvou. - Disse, mais para se convencer do que ao outro.

-Ingenuidade sua pensar dessa forma. Comparado com as coisas das quais sou acusado, aquele pequeno vilarejo representa uma gota minúscula no oceano. - Ele suspirou. - Precisa confiar em mim.

Satoru permaneceu ao seu lado em silêncio.

A noite escorreu por entre as frestas, dando lugar a uma esplendorosa manhã, que vinham se tornando cada vez mais raras.

Eles tomaram um café da manhã rápido e foram de encontro a Princesa Ayame.

Estava belíssima, em um vestido prata, com detalhes transparentes, os cabelos estavam trançados ao redor da cabeça e uma coroa pequena descansava em sua testa.

-Bem vindo de volta. - A voz da mulher era calma e profunda, parecia muito mais velha do que Satoru imaginara, ainda que sua pele fosse perfeitamente lisa.

- Deseja ver as garotas? - Perguntou a governante.

-Sim, mas não devo. Quando tudo estiver resolvido, eu voltarei para vê-las. Quando puder oferecer um lugar seguro e tranquilo para elas viverem.

A mulher assentiu. Suguru não contou-lhe o seu plano. Apenas envolveu-a em um abraço apertado e partiu depois do almoço.

Ela também estava ao seu lado.

Depois disso, eles partiram para Nephthys. Valiel era o irmão mais novo de Ina, e tio de Suguru, ele nunca falara a seu favor, mas tampouco fora contra.

Na época em que caminhou entre os reinos, aprendendo e dominando as artes mágicas, ele nunca o vira na cidade. As pessoas eram tranquilas e bastante apáticas em relação aos visitantes, mas no geral, eram gentis.

A entrada da cidade possuía duas Torres de vigilância um grande portão de ferro, com uma cabeça de grifo em cada lado. Aquela entrada não era a mais indicada para eles, então os homens acabaram tomando uma estradinha de terra, que levava até uma ponte destruída, quase impossível de transitar por alí. Mas não para eles.

O caminho foi rápido.

E logo eles chegaram a cidade.

Perto de uma barraca de frutas a escolher figos e pêssegos, estava um homem alto e com a pele escura e olhos profundamente afiados. Ele os encarouu, usava uma túnica dourada e uma coroa simples. Os cabelos desciam em cachos longos até a cintura, de onde pendia uma espada longa.

-Geto Suguru. Não é muito atrevimento da sua parte aparecer aqui sem qualquer aviso prévio? - Os ventos rugiram e nuvens se aglomeravam formando um único ponto.

-Se eu avisasse, me deixaria entrar? - Perguntou.

-Não.

Suguru sorriu. O homem convidou-os a segui-lo com um gesto de mãos. Por onde ele passava as pessoas se curvavam e ele lhes sorria, alguns suspiravam, outros o olhavam com admiração e profundo respeito.

O Palácio dos Ventos flutuava um pouco acima da cidade,  uma escada de cristal se erguia do chão até a entrada majestosa.

Eles se encontram em uma varanda agradável, que tinha uma vista belíssima da cidade. Valiel se sentou e soltou um suspiro.

-Cada vez que eu tenho que tomar uma decisão difícil é para cá que eu venho. Penso no que será melhor para o meu povo.

-Sabe alguma coisa sobre a minha condenação? - Suguru perguntou sem rodeios.

-Você quer provar sua inocência? - Valiel questionou.

-Sim, mas preciso saber quem armou pra mim. Não pode ter sido Salazar. - Explicou.

-Certamente que não, ele não consegue ver dois palmos alem de seu próprio nariz. Mas eu não sei nada sobre isso.

-Se soubesse, me diria?

-Eu tinha 13 anos, quando você nasceu, eu lembro de como meu pai, não deixou que eu te olhasse. Mesmo de longe, por que você não deveria ser considerado parte da nossa família. Mesmo assim, não conseguia parar de pensar no garotinho. - Ele deu alguns passos aproximando-se da mureta. Tanto tempo se passou, sem que eu soubesse que estava vivo. E quando eu descobri a sua existência, já era tarde demais pra te salvar.

A Estrela Perdida da CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora