Trovão e Relâmpago

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Quando as ilhas irmãs se afastaram, a noite voltou a reinar.

Várias fogueiras foram acesas ao redor da ilha e pequenos grupos ficaram conversando. A maioria já tinha se aproximado e conversando brevemente com Suguru e depois de agradecer se afastaram.

- Então, como você sabe cozinhar tão bem? - Xavier perguntou provando a comida.

-Antes de ser condenado, eu era um general, treinado em Taranys. Cometi uns erros de reconhecimento do terreno, e por causa disso metade do exército acabou comprometido, eu assumi a culpa total e recebi a punição que o rei considerou adequada. - Ele deu um pequeno gole no vinho, a bebida quente aquecendo seu interior e mirou o garoto que o encarava com expectativa. - Para um general experience como eu era, não houve perdão.

-Ah, eu sinto... - Xavier parou, não sabia o que falar naqueles momentos, e não queria dizer nada errado.

-Foi inevitável, mas estou grato por estar aqui agora. - O outro sorriu ao ouvi-lo falar assim. - Posso saber qual é a sua idade?

-Ah, eu tenho 36. - Ele o encarou com dúvida. - Sou um híbrido de vampiro e humano. - Disse sentindo-se um pouco inseguro.

-Está dizendo que ele é mais velho que a gente? - Gojo perguntou baixinho a Suguru que sorriu.

-Isso mesmo, mas não é o mais velho aqui. -Nesse momento ele mirou Lumine.

-Quantos? - Perguntou em um sussurro.

-Não é certo ficar falando a idade de uma dama, pergunte a ela.  - Suguru disse divertido

-Como você se atreve? -Ele encarou aqueles olhos escuros e pensou se eles estavam guardando mais algum segredo dele, então lembrou-se do que seu avô tinha dito na carta.

Mais tarde, quando eles estavam na cama, os corpos nus, em um emaranhado de lençóis, ele falou.

-Seu pai tinha segredo. - Suguru o encarou surpreso.

-O que quer dizer?- Perguntou interessado.

-Meu avô deixou uma carta para mim, ele disse que seu pai tinha um segredo. - Explicou. Suguru não questionou como essa carta fora parar em suas mãos.

-Vou pensar sobre isso. - Satoru adormeceu rapidamente, mas a mente do outro martelava.

Ele encarou o céu através das grandes janelas e sentiu-se cansado, gradativamente o sono veio, agitado e cheio de pesadelos.

Mas o resultado era sempre o mesmo, a mulher, duas crianças sendo arremessadas no abismo. Algo em seu coração se partiu todas as vezes em que as viu cair, mas ele não pôde fazer nada, queria abrir os olhos e acordar, mas não foi possível.

-Suguru. - A voz de Satoru o chamou. -Acorde.

Ele acordou. Gotículas de suor se formavam em sua testa e ele se encolheu quando uma rajada de vento frio o atingiu.

-Tive um pesadêlo. - Satoru o abraçou.

-Está tudo bem, já passou agora. - Mas algo em seu coração se apertava, e aquela estranha sensação de familiaridade não lhe escapava.

No outro dia eles decidiram partir.

-Para onde iremos? - Satoru perguntou, enquanto vestia sua túnica.

-Ver o meu querido irmão. - Explicou enquanto calçava as botas.

-Salazar?

-Não. Raziel. Ele é o governante de Taranys.

-Ele é como o outro? - Satoru arqueou a sobrancelha pensando sobre o outro príncipe, aquele que não conhecia.

-Não exatamente.  Vai entender quando vê-lo. - Suguru sorriu ao dizer essas palavras.

***

A terra do trovão e do relâmpago era cercada por enormes muros de pedra e no centro havia um castelo enorme, com passagens ligadas as quatro torres vigilantes. Segundo o que todos sabiam Raziel era implacável e impiedoso, tão mortal quanto era belo, seus traços eram muito parecidos com os da rainha, mas ele não possuía a mesma bondade que ela carregava em suas feições.

Usava sempre uma armadura negra e os cabelos presos em um coque de samurai. Sua lança ferira muitos inimigos e ele nunca a derrubara em batalha, ela era seu maior orgulho junto com a satisfação de seu povo.

Derrotá-lo seria quase impossível e não era a intenção de Suguru. Sua esposa era uma jovem aldeã de estatura pequena e cabelos castanhos, possuía uma beleza mediana, mas era muito inteligente e doce. Por causa dela, ele perdera o direito ao Trono Maior para Salazar, recusando-se a casar com a nobre que lhe foi oferecida.

Suguru usava uma túnica escura e simples, nenhum ornamento além do relicário que Satoru lhe dera. Ele também não portava nenhuma arma. Os guardas o receberam com as lanças apontadas para seu peito.

-Quem vem lá? Identifique-se! - Um dos homens gritou.

-Desejo ver meu irmão! - Os homens entreolharam-se e riram.

-O príncipe só tem um irmão e ele está em Tyr, em uma conferência com o tio dele.

-O príncipe não tem apenas um irmão. - Novamente os guardas trocaram olhares novamente, mas dessa vez suas expressões permaneceram sérias.

Os portões se abriram e Raziel saiu, trajado como sempre, ele encaminhou-se até Suguru e o abraçou. O outro permaneceu em silêncio enquanto ele o seguiu pelos jardins até a sala de reuniões.

Satoru o seguiu silenciosamente. Com os ensinamentos de Nya, ele aprendera a mover-se tão furtivamente quanto os fantasmas.

-Eu sinto muito. - Ele ouviu a voz grave de Raziel dizer.

-Não sinta, não foi culpa sua. Estou livre agora. - Suguru explicou como se não fosse grande coisa, ter estado tanto tempo aprisionado.

-Posso saber quem o libertou? - O irmão perguntou.

-Não. - Suguru disse sucinto.

Raziel franziu o cenho.

-Será melhor se ninguém além de mim souber. Preciso saber se vai ficar ao meu lado desta vez. -Ele fitou o irmão em silêncio.

-Se minha família estiver segura, acho que é o mais sensato a se fazer. Mas como pretende fazer isso?

-Eu vou morrer.

-An?

-Quando eu morrer, o ódio das pessoas morrerá junto comigo. Então minha magia voltará a sua força total. E aí, não haverá mais ninguém... mais ninguém que seja capaz de machucar os que me são caros.

-Eu sei que você perdeu muito... Mas isso é muito extremo. Uma das leis primordiais da magia de Yrthur é que quem morre...
jamais volta a vida.

-Eu tenho que tentar. Se não der certo, eu estarei morto, então só preciso que me prometa que vai libertar as pessoas que eu salvei, são guerreiros e fortes, eles lutarão por você assim como lutaram por mim.

-Muito bem. Vamos fazer de acordo com o que você diz. -  Assentiu com um suspiro.

Depois de se despedir do irmão, ele saiu para ver Gojo.

-Então esse é o seu plano? Morrer? - Satoru não conseguia disfarçar a raiva que crescia dentro dele.

-Satoru... Acho que é a única forma... - Suguru parecia cansado.

-E você vai voltar? Isso é ridículo.

-Talvez.

-Não posso arriscar a sua vida, confiando na linha tênue de um... talvez. - Ele se afastou bruscamente, então parou e mirou Suguru com mágoa. -Por favor, me diga que não serei eu a fazer isso.

-Só pode ser você. Eu preciso que você o faça. - Implorou.

Ele não respondeu. E se afastou silencioso. Suguru o seguiu a alguns passos de distância, respeitando o momento de reflexão do outro.

Os dois se encontraram com Xavier e Chaos em um taberna pouco movimentada, ainda era cedo para as pessoas começarem a beber.

- E então? - Ele se dirigiu a Suguru.

-Temos um aliado. - Respondeu.



A Estrela Perdida da CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora