O Executor

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O tempo lá fora estava agradável, a brisa era suave e quente agitando os cabelos de Satoru. Ele fechou os olhos e sentiu a energia se agitar pelo seu corpo, encharcando todas as suas células. Ele se surpreendeu com o quanto se tornara fácil fazer aquilo.

Mais tarde naquele mesmo dia, uma das três figuras sombrias que vira mais cedo veio chamá-lo.

-Senhor? - Era uma voz feminina que ele não tinha conseguido distinguir antes. Ele observou a silhueta que não usava mais nenhum capuz, apenas um vestido vermelho escuro e bastante fluído, ela tinha olhos verdes e a pele acastanhada, seus cabelos eram como uma cascata volumosa que descia em cachos longos até a cintura. Era absolutamente bela.

-Oi. - A mulher o fitou demoradamente.

-O Mestre o está esperando para jantar. - Disse com calma.

-Estou indo, mas posso tomar banho antes? - Perguntou.

-Claro. Xavier deixou tudo preparado. - Com essas palavras e uma pequena mesura, ela o deixou

A água da banheira estava morna quando Satoru entrou, o cheiro era bem agradável e o lugar tranquilo, ele fechou os olhos e começou a pensar sobre quem poderiam ser aquelas pessoas. Ainda havia tanto que ele não sabia sobre Suguru, mas sua alma dizia para confiar nele.

Depois de sair da banheiro e se secar ele notou uma muda de roupas perfeitamente arrumada em uma pequena mesinha. Parecia ter o seu tamanho, então ele a vestiu.

A túnica era vermelho escura, com brocados prateados, a calça era simples e preta, e as botas bastante confortáveis. De alguma forma o vermelho fazia seus olhos parecerem mais azuis.

-Está belíssimo... - A voz do homem quase o fez saltar. Quando ele aproximou Satoru pode observar suas feições, o homem possuía o maxilar levemente marcado e o rosto emoldurado pelos cabelos pretos e um pouco indomáveis, mas os olhos cinzas eram como uma pintura que harmonizava com todo o resto, embora a pele fosse levemente azul.

-Ah. Obrigada. - O homem continuou a fitá-lo como uma criança curiosa.

-Você salvou o mestre. - O homem fez uma mesura. - Obrigado.

-Ah. Não foi... Não precisa agradecer. - O homem sorriu e Satoru percebeu que ele não parecia ser mais que um menino.

-Vamos, vou levá-lo a sala de jantar. - Disse por fim.

Ao chegar lá, depois de escutar a tagarelice de Xavier, Gojo se sentiu... acolhido, era legal conhecer alguém que falasse tanto quanto ele.

Quando pisou na sala grande seu fôlego quase se perdeu, naquele momento pareceu esquecer como respirava.

Suguru estava sentado de forma ereta, usava um túnica da mesma cor que a sua, mas o formato era diferente, esta era levemente aberta no peito, e nos pulsos ele usava dois braceletes pesados de ouro, o cabelo estava preso no topo da cabeça e duas pequenas mechas caíam suavemente sob o rosto.

Estava majestoso.

Como um...

Rei.

Ele conhecia mesmo aquele homem?

Queria beijá-lo, ali e agora, não importava o que os outros pensariam. Não mesmo. Por que era tão gostoso?!!

Então ele sorriu e sentou-se no local onde foi indicado. Ao lado do amigo.

Além da jovem que ele esquecera de perguntar o nome e Xavier, havia mais uma pessoa. Outra garota de cabelos curtos e expressão sombria, parecia ser capaz de matar alguém que respirasse errado.

Então, ela lhe sorriu e a outra garota também.

-Não podemos agradecer o que você fez. - As duas disseram em uníssono.

-Ah, vocês não precisam, realmente não foi... - O outro o fitou demoradamente e ele engoliu em seco. Pare de me olhar assim! Ele pensou.

Sério? Qual o problema daquele cara?

O jantar foi servido e a conversa fluiu tranquila, Gojo descobriu que os nomes das garotas eram Lumine e Nya, todos os diálogos começavam com Xavier falando alguma coisa aleatória e fazendo alguma pergunta sobre o Mundo dos Mortais.

-Parece incrível. Será que um dia eu posso ir lá? - Perguntou sonhador.

-Claro, mas ainda precisa aprender várias coisas. - Satoru explicou com gentileza.

-Certo. Estarei posto aos seus ensinamentos, professor. - Disse feito um soldado.

-Bem, você vai acabar espantando algum pobre humano e traumatizando alguém. - Lumine acrescentou colocando uma mecha cacheada atràs da orelha. - Apesar de ser bonito, acho que humanos não possuem pele azul.

Xavier baixou os ombros tristemente.

-Não se preocupe, quando esse dia chegar, nós daremos um jeito. -Suguru acrescentou e o outro sorriu calorosamente.

Depois do jantar, as garotas saíram juntas e Xavier se afastou para os próprios aposentos.

***

Não havia estrelas no céu quando Satoru mirou o horizonte através da janela, algumas nuvens espessas esconderam a lua.

Suguru se aproximou. Usava a mesma roupa do jantar mas os braceletes haviam sido removidos e os cabelos estavam soltos, agitados levemente pela brisa suave que adentrava o aposento.

-O seu coração está cheio de dúvidas. - Disse sentindo-se um pouco decepcionado, mas compreendendo a realidade da situação em que o outro se encontrava.

-Não posso evitar. Sinto por isso. - Suguru se aproximou e parou a apenas dois passos dele, a pele do outro brilhava, um pequeno contraste com os cabelos muito claros e aqueles olhos.

Ele pôs a mão no rosto dele...

-Eu entendo. E quero que saiba que você não é obrigado a ficar. Diga a todos que eu o manipulei, eles vão aceitá-lo... uma vez que você é o único que pode dar fim a minha existência. -Satoru engoliu em seco.

-Achei que fosse imortal...

-E sou, mas não para você... A cada 370 anos, um carrasco é mandado a terra dos Feiticeiros Imortais para julgar e executar a sentença dos maus e odiosos. Ele é imune, a quase todo o tipo de magia, principalmente as maldições ancestrais...

-Como aquelas que foram lançadas em você...

-Inclusive a que me concedeu imortalidade. - Satoru deu mais um passo e agora seus rostos estavam a centímetros um do outro. O vento gelado atravessou a janela e fez um arrepio subir por sua pele.

Suguru deslizou os dedos pelos seus braços, traçou o contorno da clavícula e o maxilar. Novamente Satoru percebeu aquele brilho intenso em seu olhar.

-Não quero ir...

-Será como você quiser. -Satoru sentiu o hálito quente e desejou profundamente que ele o beijasse. Como se lêsse seus pensamentos, Suguru beijou suavemente, apenas um leve roçar de lábios e se afastou silenciosamente.

O outro parecia insatisfeito.

-Suguru... - Disse com a voz rouca. Sentindo-se um pouco desorientado, observando o modo como o outro deitou-se na cama e adormeceu rapidamente.

De alguma forma ele também adormeceu.

E naquela noite ele teve um sonho.

A Estrela Perdida da CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora