Um Lugar Distante

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-Agora. - Ela se adiantou para Salazar. -vou começar pelo mais fraco.  -Ele moveu-se, mas uma corrente agarrava-se ao seu tornozelo, impedindo-o de correr. Ele amaldiçoou a própria fraqueza.

A criatura contorcia-se num ódio profundo.

-Sua humana tola! Acha mesmo que pode controlar alguém como eu?! Olhe para mim! Eu não preciso recorrer a mana, a minha existência perpassa eras e você se atreve a dizer que vai me usar. - Um rasgo ecoou da garganta da criatura. - Sua alma está suja e vai ser bem desagradavel o que eu vou fazer, mas você me deve. Pague a dívida, ou eu vou cobrar o dobro.

Um dos olhos se agigantou, o sangue banhava a iris e a pupila estava dilatada.

-Um para os devedores... - Satoru ecoou o que Xavier dissera. Observando o espetáculo grotesco que se desenrolava a sua frente

Suguru encarou Satoru e lhe sorriu, adiantou -se para a criatura e partiu a corrente facilmente. As pessoas o observavam atentos, ainda que não se movessem um milímetro.

-Seu! - Ela me deve! - Suguru segurou Aurora, que sorriu. A face com uma aparência inocente, contrastando com o sorriso cruel que se espalhava em seu rosto.

-Isso é inesperado. - A mulher começou. - De todas as pessoas nunca imaginei que seria você a me salvar. Escute, poderiamos governar este mundo juntos e... - Suguru não olhava pra ela, seus olhos miravam Satoru suplicantes. Eles lhes diziam faça.

Ele sentiu seu coração se encolher, e por Deus como aquilo doía. Não podia, ele não podia.

Mas o olhar de Suguru sustentou o seu, raios irrompiam do céu e a multidão se encolhia. Satoru ergueu -se acima deles e posicionou suas mãos, a balança de um lado, a pena do outro.

-Está na hora de executar o julgamento, alteza. - Murmúrios inrromperam ao redor. Ninguém jamais tinha visto o Executor, ninguém sabia como ele era, ou quais seriam seus poderes. A maioria não sabia sequer que ele existia realmente. Imaginavam que fosse apenas uma lenda antiga.

-Não! Não! - Aurora murmurou. - Está louco, nós dois vamos ser apagados da existência - Suguru riu baixinho, e a mulher sentiu um medo profundo e instintivo crescer dentro dela.

-Quanto a isso não tenha dúvidas. - Suguru  enfatizou e antes que um grito pudesse escapara de sua garganta o céu abriu-se em quatro pontos e as luzes formaram uma lança que parecia conter toda a fúria divina. Ela foi arremessada contra Suguru que em um piscar estalou os dedos e em seu lugar estava a criatura.

Aurora desvencilhou-se de seus braços e correu,  mas aquela era a lança da justiça, não havia fuga, apenas o castigo.

De modo contrário a mulher, a criatura permaneceu parada observando a luz ir em sua direção, seria seu fim? Quem poderia dizer. Mas havia algo em seu rosto, ele parecia de certo modo, aliviado.

Suguru desabou no chão, seu corpo estava chamuscado e haviam algumas queimaduras, ele realmente achou que ia morrer. Mas ali estava ele. O céu se abriu e uma chuva torrencial começou a cair.

Os três pilares desabaram e a fenda no céu desapareceu.  Ao longe ele ouviu uma comoção, mas não conseguia identificar a razão.

Uma das crianças que estava ali, correu em sua direção, ela se ajoelhou ao seu lado e lhe ofereceu um lenço um pouco puído, mas perfeitamente limpo. Ele tentou erguer as mãos e lhe oferecer um sorriso em resposta, mas a escuridão o engolfou e ele não sentiu, nem ouviu mais nada.

Será que agora ele poderia voltar para... Casa?

***

O lugar onde ele estava era bonito, haviam algumas árvores frondosas e um córrego de águas cristalinas. Que estranho, ele pensou. Adiante ele viu uma pequena cabana, uma mulher saiu de dentro dela, usava uma túnica simples e o cabelo loiro estava preso em um laço, ela se aproximou com um sorriso doce. E ele quase se lembrava de já ter visto aquele sorriso em sua memória congestionada de tantas dores e perdas.

-Venha, já chega de brincar, você ainda não comeu, em breve seu pai vai chegar. - A mulher enxugou as mãos no avental e gestuculou para que ele entrasse.

-Sente-se comigo e me conte sobre o garoto que você gosta. Ele é realmente impressionante, não é? - Disse com um sorriso sonhador.

-Sim. - O resto da frase se perdeu e ele ficou em silêncio. - Você pode me perdoar? - Perguntou.

-Não, querido. Não há o que perdoar. Meu único arrependimento, foi não ter queimado aquele castelo e ter tirado minhas crianças da influencia de algumas pessoas, poderíamos ter crescido no Mundo dos Mortais, não acha?

Suguru achava que não, mas permaneceu em silêncio e ela continuou.

-Mas acho que tudo vai ficar bem agora.

-Eu suponho que sim. - Ele respondeu.

Nesse momento, pai entrou na sala e lhe saldou com um abraço forte.

-Ah, diga ao Salazar que eu o amo. Embora eu não tenha tido a chance de demonstrar. E diga a Raziel, que estou feliz por ele e que teria muito prazer em segurar o meu neto. Mas as circunstâncias não me permitem.
-Suguru assentiu.

-Eu amo vocês, mais do que tudo. Quando eu fui procurar a criatura, eu só queria uma forma de manter você comigo, mas no final fui só uma criança tola e manipulada, e vocês três sofreram muito com isso. Eu não espero que nenhum de vocês seja capaz de me perdoar, mas quero que saibam que tudo o que eu fiz, fiz por amor. - Seu pai apertou a mão de sua mãe e  Suguru os envolveu em um abraço apertado e não queria soltá-los, por que sabia que aquele seria o último, o único. Tudo o que ele teria deles. 

-Tem alguém esperando você. - Seu pai afastou-o gentilmente. - De fato ele é muito impaciente e com um poder tão grande, não pode deixá-lo sozinho. - Ina beijou sua testa e acariciou suavemente o rosto, suas feições ficaram cada vez mais impossíveis de definir.

E aquela lembrança desvaneceu, como um sonho tardio. Os espaços de sua mente, foram lentamente preenchidos, por vozes, uma que para ele se destacava entre as outras.

Azul é minha cor favorita.

Ele pensou, antes de acordar e dar de cara com aqueles olhos que conhecia tão bem.

A Estrela Perdida da CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora