Abismo de Almas

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Não sabia, como me posicionar em relação a tudo, então acabei me distanciando e não tomei posição em relação a sua condenação. Não poderia dizer se era verdade ou mentira. Apenas que...

-Você foi um covarde. - Gojo completou. - Todos vocês. Ficam inventando desculpas para a sua imparcialidade, mas não passam de fracos.

-Está tudo bem, Satoru. - Suguru disse tocando -o gentilmente. - Eu compreendo.

-Me perdoe, me deixe ficar ao seu lado, desta vez... - ele curvou um joelho após o outro e concluiu. -Majestade.

Suguru foi até ele.

-Não sou seu rei e não se ajoelhe assim, não combina com você.

-Vocês podem ficar. O tempo que precisarem. - Suguru sorriu, Valiel foi até ele e o envolveu em um abraço apertado. - Vocês não se parecem. - Ele sussurrou para o sobrinho. -Lembre-se disso. -Ele arqueou a sobrancelha, confuso.

As janelas eram grandes e se fechavam em um arco, levavam até uma grande sacada, uma brisa leve soprava em seu rosto, quando Satoru se aproximou e lhe sorriu, mas de alguma forma ele parecia triste, seu coração se encolheu um pouco e ele convidou-o a sentar ao seu lado.

- Está vendo aquela estrela no céu? A grande. Com um brilho dourado. Dizem que quando o universo surgiu, a explosão foi tão grandiosa que afetou o espaço completamente. Aquela estrela, nós a chamamos de Cecilia, se desprendeu em 5 meteoros grandes, quando entraram em contato com  a atmosfera terrestre, eles foram atraídos, para o solo onde a Magia poderia florescer mais ricamente, Yrthur era apenas um pequeno broto, que escapou do espaço comum, então seria perfeito, a Magia verdadeira veio de lá, embora tenha demorado milênios para florescer.

Dizem que se você fizer um pedido e ela se iluminar, é por que ela te ouviu.

Satoru recostou a cabeça no ombros do outro e encarou a pequena estrela.

Então do fundo do seu coração, ele desejou profundamente que eles estivessem juntos por toda a eternidade. Seus olhos fecharam-se momentâneamente e ele tomou consciencia da presença do outro, desejando diminuir aquela distância.

Naquele dia, mais que cedo, eles partiram.
Chaos liderava a pequena comitiva. E Suguru seguia silencioso.

Xavier partira a fim de descobrir mais coisas a respeito da entidade antiga, que eles haviam visto na visão do fragmento de alma.

Lumine e Nya seguiram-no nessa jornada.

-Fragmentos de almas só podem ser poderosos desta forma, quando o ressentimento deles é muito grande, ou quando o dano que causaram em vida, foi uma calamidade. - Lumine começou.

Mas há mais uma razão. - Nya explicou.

-Quando alguém oferece outra alma que não a sua. - Lumine concluiu.

-Mas não se pode fazer isso. Ninguém possui ninguém. A menos que seja alguém que ainda não possuía uma vontade própria. - Xavier rebateu

-Como um recém nascido. - Lumine completou.

-Mas quem faria algo assim? É terrível. - Xavier pareceu refletir.
Ao mesmo tempo em que sentiu um arrepio quente açoitar seu rosto. E o tempo pareceu parar ao seu redor. O instinto lhe dizia para correr. Mas suas pernas permaneceram paradas.

Quando aquela criatura apareceu.

Era como uma criança. Estava descalça, e usava roupas velhas e rasgadas, segurava um pequeno urso, com a pata mal costurada e um dos olhos pendia por um pequeno fio.

O menino ergueu a cabeça para encará-lo, ele deu dois passos para trás, ao notar que a criança não possuía um rosto. O menino parecia buscar algo além dele.

Sete almas vagantes. Não. Agora são seis. Você pode me levar para a minha mãe. Ela prometeu que viria me buscar.

Ele engoliu em seco, a voz parecia vir de todos os lados. Não da criança em si. As garotas se aproximaram, cautelosamente.

-Precisamos sair daqui. - Lumine alertou. - Rápido!

-Ele não é algo com o que possamos lidar. - Nya concluiu. - Venha.

A criança soltou um guincho e a cabeça se partiu em duas, uma silhueta longa e quase transparente começou a sair Dali, como uma cobra mudando a pele. Sua voz não era mais como a de uma criança, mas um som gultural e rouco, quase como da primeira vez.

-Onde ela está? - Perguntava lamentosa a criatura. -Não posso voltar pra casa.

Por um momento Xavier sentiu um pouco de compaixão.  As unhas da criatura rasgaram a pele transparente e o sangue escorreu por terra. Uma formação se fechou ao redor dos três. Então ela sorriu, e dessa vez sua voz foi doce, ainda que repulsiva.

-Você vai brincar comigo até mamãe voltar... - Disse soltando uma risadinha.

Ele ergueu a espada, reunindo toda a força que ainda possuía, lembrava do primeiro dia, se não fosse por Chaos, estaria morto agora.

Ele mirou as amigas. E lhes sorriu calorosamente antes de arremessá-las para fora da formação.

As meninas gritaram por ele.

-Seu idiota! O que está fazendo?? - Nya chamou.

Por fora o lugar parecia uma bolha negra.

Assim que elas saíram, o lugar se moldou em um deserto árido, a criatura voltara a sua forma de criança e segurou sua mão, ele sentiu um arrepio, a sensação de tocar uma alma era diferente, incômoda e assustadora. Nada reconfortante.

O menino puxou-o e levou -o por um caminho de pedra. Eles andaram pelo que pareceram horas.

Até chegarem diante do abismo. Xavier olhou para baixo. Haviam centenas, não, milhares de corpos amontoados, eles se agarravam as paredes e  desejavam subir mas quando chegavam a metade, seu tormento recomeçava. Ele notou que alguns pontos de luz se erguiam, mas eram dispersados antes de conseguirem sair.

Do outro lado do abismo, havia uma entrada, majestosa, e de lá ele o viu. Recuou momentâneamente, quando a massa escura de olhos vermelhos escancarou a boca, parecia muito maior do que na visão. Ele se afastou bruscamente , mas o garoto não soltou sua mão. A criatura sugou centenas de almas do abismo.

-Ele não pode sair. - O menino falou.

E naquele momento a visão se alterou, o dia e a noite passaram-se repetidamente, totalizando centenas de anos.

Ele mirou o abismo novamente e dessa vez ele estava quase vazio, bem ao longe, ele notou duas crianças.

O irmão mais velho segurava a mão do menor bravamente.

Dessa vez a criatura surgiu, uma pequena sombra do que fora antes, não deveria ter mais que dois ou três metros.

Ela se aproximou das crianças e escancarou a boca novamente. Primeiro o irmão mais velho.

Ele notou que o rosto dele embaçava e voltava ao normal logo depois. Xavier observou atento.

A criatura fez isso por três vezes em cada criança, a cada vez que sugava a alma dos pequenos, fragmentos se soltavam e ele aspirava satisfeito.

A Estrela Perdida da CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora