Caminho Espinhoso

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Aquela sensação de confusão tomou conta dele novamente quando perguntou ao tal príncipe.

-O que isso quer dizer? - falou procurando disfarçar a indignação que sentia.

-Que ele fez um juramento. Em troca da vida de sua avó. Ele prometeu que você ofereceria seu poder para restaurar o selo e manter as pessoas de Yrthur em segurança. - O outro respondeu rapidamente.

Satoru refletiu. Sua avó morrera havia dois anos. Mas ele nunca esquecera de como seu avô ficou desesperado quando ela recebera o diagnóstico de câncer anos antes. Segundo o médico, não havia nada que pudesse salvá-la. Todos se esforçaram para aceitar o fim.

Mas não seu avô. Ele levantava cedo todos os dias, preparava o seu café e a levava para caminhar no parque, à tarde eles assistiam seus filmes favoritos ou jogavam cartas, e quando ela fim adormecia, ele trancava-se em seu escritório por horas a fio.

Ele nunca entendera. Até hoje.

Mas o que ele poderia fazer por aquela gente? Ele deveria estar ficando louco se estava pensando considerar essa ideia, ele não era um herói como aqueles dos filmes.

-Eu não tenho nenhum poder. - Disse por fim, sentia-se cansado, o que mais desejavam era fechar os olhos e acordar na sua própria cama. Sem nenhum cara esquisito, que parecia ter uns dez parafusos a menos.

-Ah, você tem e vai dar um jeito de usá-lo. Por que se não cumprir o seu juramento... Sua alma estará presa por correntes por um tempo que vai parecer maior que a eternidade, sem poder ir para o céu ou para o inferno, e quando o seu tormento for tão grande que ela não suportar... seu espírito será dispersado e completamente destruído. - Satoru o mirou.

-Assustador. - Disse sarcasticamente. - Vamos logo, então. Ah propósito, de qual selo estamos falando? - Agora ele sentia-se irritado.

-Do selo que mantém trancado aquele homem. - O príncipe quase cuspiu aquelas palavras.

-E ele não tem um nome? - Perguntou irritado.

-Provavelmente não. Ele cresceu no submundo, criado pelos monstros e pelas criaturas da noite. -O homem riu. - Não acho que alguém se ocuparia em dar um nome para alguém tão insignificante.

-Então porque o selaram? - Para Gojo parecia mais que o tal príncipe sentia muito medo. Se não porque ele estaria alí pedindo ajuda a alguém que não fazia ideia do que se tratava seu mundo e nem se possuía algum poder divino ou sei lá.

-Por que ele é uma criatura vil e ardilosa. O ser mais cruel que você vai conhecer. - Aquilo não o convenceu, mas a irritação do outro o fez sentir-se divertido.

-Ele é feio? - Salazar o olhou incrédulo. -Ele é? - Insistiu. O homem pigarreou.

-É... Não posso dizer que ele é feio. Mas a alma dele é! - Satoru segurou uma risadinha.

Ele abriu um portal que parecia uma simples porta grosseira de madeira. E o guiou por um caminho escuro, árvores secas pendiam e galhos podres se acumulavam ao redor dos dois, nada convidativo.

Por fim eles chegaram diante de uma colina verdejante, onde um palacete estava localizado banhado pelo luar e a brisa quente soprava entre as árvores.

Ele o guiou pela porta de entrada e foi saudado por um pequeno exército que aguardava o príncipe.

- Vá tomar um banho e se trocar. Eu o aguardarei para o jantar. - Uma serva pequena magra e com o rosto castigado por cicatrizes o guiou até um quarto com janelas grandes, uma pequena sacada com uma mureta de pedra, um cama larga e uma fonte. Gojo mirou a decoração incrédulo.

-Senhorita... Por que há uma fonte no meio do quarto? É conceito? - Perguntou achando aquilo tudo um tanto ridículo.

A menina o encarou sentindo que aquele homem era muito estranho. Ela meneou a cabeça e foi então que Satoru notou que ela não podia falar.

Rapidamente ela tirou um pequeno papel gasto de dentro do bolso do avental e o rabiscou depressa, depois estendeu-o para Gojo.

A fonte é magia pura. Não é água. Ela serve para manter o palácio sob uma redoma de vidro e as pessoas no vigor de sua juventude. Ela age por si só, não é preciso tocá-la.

-Que bizarro. - Gojo se afastou foi para o seu banho e mergulhou na banheira. Enquanto sentia a água renovar sua energia, ele perguntava-se como poderia resolver aquela questão.

Depois do banho ele vestiu as roupas que a menina lhe trouxe.

Uma túnica em um tom muito escuro de azul, com bordados prateados e uma calça preta. As botas eram confortáveis, ele pensou. Mas o restante da roupa o incomodava. Ele não podia apenas usar a blusa que trouxera?

-Garota! Qual é o seu nome? - Ele lembrou de perguntar.

-Eu não tenho um nome, senhor. - ela tornou a escrever.

- nenhum? - Ela meneou a cabeça.

-Certo, então posso chamá-la -

A Menina se agitou -Não! Não pode me chamar de nada! Eu não existo! - Rabiscou mais que depressa em uma letra quase ilegível e se afastou bruscamente.

Gojo se sentiu estranho.

Um pouco a contragosto ele se dirigiu a sala de jantar e o príncipe o aguardava. Dessa vez ele havia prendido o cabelo em um coque alto e usava um túnica roxa.

-Cadê o restante do pessoal? -Perguntou observando a mesa oval com 12 cadeiras.

-Ah não. Somos só nós dois. - Salazar respondeu.

-Devo acrescentar que você não faz o meu tipo. - Apressou-se em dizer. O homem o mirou com confusão, mas antes que pudesse dizer algo, os empregados se aproximaram com o jantar.

Depois de comer e conversar sobre como tudo funcionava naquele lugar. Gojo descobriu que aquele Reino era como uma árvore gigante, nove galhos se estendiam formando os seis pequenos reinos de Yrthur. Ele não quis dizer que o príncipe contava terrivelmente mal, pois ainda sobravam três galhos e apenas limitou-se a ouvir.

- Éos, regida pela magia do amanhacer e da Luz, floresceu sob o comando da Duquesa Stelle, minha prima. Taranys, regida pela magia do trovão e do relâmpago, hoje governarda por Raziel, meu irmão mais novo. Epona, regida pela magia da terra, controlada por Ayame. Tyr, regida pela magia do combate e da força brutal, sob o comando de meu tio-avô Luziel. Nephthys, regida pela magia dos ventos e controlada por meu tio Valiel. E por fim nós temos a Corte superior, Dagda, regida pela magia do tempo e da sabedoria, e controlada por mim.

Nunca que ele lembraria de todos esses nomes. Gojo pensou.

-Então você é tão poderoso? Por que precisa de mim? - perguntou mordiscando um pãozinho.

-Não é tão simples. Quando conheçê-lo, você vai entender. - O príncipe sorriu, mas Gojo se sentiu desconfortável.

Notas da autora
Os nomes das seis nações foram inspirados em deuses de várias mitologias, podendo ser associados ou não as magias pelas quais são regidas.

Éos- mitologia grega
Taranys, Dagda e Epona - mitologia celta
Tyr - mitologia nórdica
Nephtys - mitologia egípcia

Aproveitem a leitura. ^⁠_⁠^

A Estrela Perdida da CoroaOnde histórias criam vida. Descubra agora